Política

Um mar de especulações, mas tudo
se encaminha para Regina Maura

DANIEL LIMA - 25/10/2011

Há um paradoxo que liga o presente e o futuro eleitoral em São Caetano: quanto mais se criam concorrentes à sucessão do prefeito José Auricchio Júnior, mais se fortalece a possibilidade de a assessora especial Regina Maura Zetone ocupar o cargo pelos próximos quatro anos, a partir de janeiro de 2013.


Ainda outro dia o Diário do Grande ABC montou um time inteiro de candidatos ao cargo para tentar transmitir a sensação de que a disputa em São Caetano é uma Torre de Babel partidária. Não é bem assim.


Não é bem assim mesmo. Não há espaço para a gestão administrativa da cidade de melhor qualidade de vida da Grande São Paulo que leve em conta a efetividade de tamanha multiplicidade divisionista. Até porque, essa fragmentação é de araque.


O que mais se tem hoje em São Caetano é um jogo mais que manjado de cada microagrupamento ou cada agrupamento político que gira em torno do Palácio da Cerâmica procurar dar a ideia de que é mais importante que o outro.


Aliás, não é somente em São Caetano que se dá esse tipo de comportamento eleitoral. Faz parte da política partidária, mais até que da natureza humana, o uso de cotoveladas literais e metafóricas para demarcar território.


Cada um dá o que pode e quem não pode se sacode. O problema é que na maioria dos casos tem-se uma disputa ensaiada que supervaloriza a moeda eleitoral de cada facção. Há casos em que nem moeda eleitoral de fato existe.


O prefeito José Auricchio Júnior ainda não se decidiu oficialmente sobre a quem vai dar o apoio político e da máquina administrativa, mas tudo se encaminha a Regina Maura Zetone.


Há fortes indícios de que Auricchio já se definiu e que em nova etapa da cronologia concebida para sedimentar a sucessão procurará aproximar-se principalmente dos companheiros mais fiéis para que se juntem em bloco em torno da escolha.


Auricchio não teria escrito como escreveu ainda outro dia um artigo publicado no Diário do Grande ABC se já não contasse com o respaldo de pesquisas que encomenda frequentemente a um instituto especializado.


No artigo mencionado o prefeito de São Caetano discorreu sobre a importância das mulheres na política. Foi, segundo interpretação geral, a senha à abertura da temporada de aproximações. O apoio a Regina Maura começa a deixar o esquadrinhamento e o pacto de salas fechadas e à prova de ouvidos mais atentos e salta para os corredores oficiais. Dali para as ruas, será um passo.


A Dilma de Auricchio


Regina Maura está para a sucessão de Auricchio Júnior assim como Dilma Rousseff esteve para Lula da Silva.


Talvez esta seja a melhor imagem, longe de consumar-se um achado jornalístico deste CapitalSocial de tão óbvia que parece. Ou o leitor, mesmo o leitor mais desatento, não fica de orelha em pé e não sente o faro de repeteco quando um prefeito ou um governador bem avaliado escolhe pessoalmente para sucedê-lo uma assessora reconhecidamente competente, depois de ter visto, sentido e consagrada a fórmula de Lula da Silva com a atual presidente da República, que saiu das profundezas do desconhecimento popular para a rampa do Palácio?


Por isso mesmo o que deveria ser a pauta jornalística inovadora — se a Imprensa regional fosse inovadora, não essa coisa amorfa que todo mundo conhece, salvo raras exceções que confirmam a regra — é se existe imensa possibilidade de que se transponha para o ambiente municipal de São Caetano uma equação consagrada em nível nacional.


O prefeito de São Caetano não é bobo nem nada de providenciar o tempo todo o monitoramento da alma da população de uma cidade que o consagra com elevados níveis de aprovação sem levar em consideração o que os enunciados e os números das pesquisas dizem.


Está mais que bem encaminhada a correlação da imagem do prefeito e da assessora especial. Caso contrário, por mais que tenha em alta conta a Dilma Rousseff que esculpiu em dois mandatos seguidos, José Auricchio Júnior não colocaria em risco a continuidade de um projeto de governo.


Tocando a sociedade


Tenho cá comigo, com meus botões e minha intuição, que a imagem pública de Regina Maura é das melhores, dessas coisas que ficam nitidamente claras: a discrição pessoal, a elegância no vestir, a capacidade de contornar as dificuldades naturais de ser espécie de corpo estranho, porque feminino, num ambiente majoritamente masculino, e a multiplicidade das ações profissionais, tudo isso forjou uma imagem forte, respeitosa e ao mesmo tempo delicada que toca fundo no tradicionalismo de um Município com estrutura social bem acabada e sociologicamente delineada.


A maior diferença entre Regina Maura e a atual presidente da República, afora as dimensões de Lula e Dilma Rousseff frequentarem ambiente muito mais exposto à curiosidade pública na campanha eleitoral, é que a provável candidata de José Auricchio consegue transmitir a sensação de que encarna mais delicadamente a figura feminina, sem que carregue também o estereótipo da fragilidade.


Talvez a interpretação seja apenas uma leitura pessoal deste jornalista, quem sabe levado por razões que a própria razão desconhece, mas sinto que Regina Maura é, como produto eleitoral, já que estamos falando disso, um exemplar feminino mais próximo do imaginário masculino do que fora Dilma Rousseff.


Se também o for do imaginário feminino, tudo indica que será um produto mais fácil de apreciação analítica do público na campanha eleitoral.


Possivelmente as pesquisas encomendadas pelo prefeito José Auricchio Júnior tenham mergulhado nessa busca do imaginário. Política não se faz apenas de concretudes.


Sei lá se deveria ter avançado o sinal em direção à questão de gênero e mesmo de comparação de feminilidade. Como evitar esse tratamento se a sociedade ainda é machista demais no campo político, inclusive por conta das subalternidades das próprias mulheres?


Como não racionar eleitoralmente também levando em conta que o prefeito de São Caetano apontou ou estaria apontando o dedo de convicções administrativas em direção a Regina Maura? Mulher na política, antes um penduricalho, quando não uma licença poética dos homens, virou diferencial que por si só não resolve ou não encaminha estratégia eleitoral, mas quando acompanhada de competência e sob determinadas circunstâncias, ganha a potencialidade de instrumento definidor de vantagem.


Parece mais que próximo da realidade ideal o conceito de que a candidatura de Regina Maura ganhou impulso porque representaria a associação de dois fatores potencialmente decisivos numa campanha eleitoral: a sensação de que feminilidade e comprometimento social resolveram marcar encontro com o destino.


Por isso as especulações sobre a existência de um time inteiro de concorrentes não passaria mesmo de ensaio geral para ver quem afinal, entre supostos tantos, se habilitaria de verdade a competir eleitoralmente tendo uma adversária de bem com as circunstâncias sociológicas do País. Como se não bastassem as razões municipalistas, estruturadas na maciça aprovação da administração de José Auricchio.


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