Política

Nosso voto interesseiro,
nosso voto clientelista

WALTER VENTURINI, VERA GUAZZELLI e TUGA MARTINS - 05/11/2000

Prestação de serviços é o forte no Grande ABC, não só na economia mas também na política. As sete Câmaras Municipais da região permanecem como mistura de escritório de despachante, balcão da Prefeitura, consultório médico ou mesmo empresa de transporte coletivo. A maior parte dos vereadores eleitos utiliza técnicas do mais puro clientelismo, prática tradicional dos chamados currais eleitorais. No lugar da politização, marca que frequentemente carimba o perfil dos 1,6 milhão de eleitores da região, o Legislativo se transforma em extensão piorada do Poder Executivo, numa espécie de terceirização em que o parlamentar faz de tudo, menos o que lhe cabe perante a lei.

Vereadores e candidatos apelam para caricatura de serviço social em busca da simpatia dos eleitores, quase sempre interessados em favores e vantagens imediatas e não em projetos políticos ou planos administrativos. Exceções, que deveriam ser regra, também existem. Alguns vereadores conseguem firmar posturas essencialmente legislativas. Mas se a maioria dos 135 representantes da Câmara for um dos pontos de apoio para a transformação do Grande ABC, a região ainda está muito longe de futuro politicamente correto que garanta as sete cidades entre os pólos avançados do Brasil do século XXI.

A amostragem pode começar pelos chamados campeões de voto, a maioria eleita graças a táticas assistencialistas. O favor conta mais que a postura de legislador e fiscal do Poder Público.

Em Santo André, as filas à porta do gabinete número 12 acabaram convertidas em 9.168 votos em favor do peemedebista Geraldo Juliano, quase o dobro de 1996. Na primeira legislatura, o sargento Juliano, como é conhecido, manteve rotina no mínimo interessante. Só comparece ao Legislativo às terças e quintas-feiras, quando há sessão ordinária e se dedica a atender pessoalmente média de 60 pessoas. Nos outros dias realiza visitas a moradores. Os casos vão desde questões de saúde na família a problemas vinculados à administração pública. Soma-se aos votos de gratidão o corporativismo militar. Com marketing à moda provinciana, a campanha de Juliano surpreendeu muita gente como a mais votada da cidade.

Atendimento personalizado e mix variado de serviços também foram qualidades que levaram Orlando Annibal (PMN) a ser o vereador mais votado de Diadema, com apoio de 3.960 eleitores. Ele faz questão de receber pessoalmente os munícipes no gabinete. A especialidade de Annibal é preencher formulários. Tanto que tem assessores especialmente designados para datilografar documentos com saudosas máquinas de escrever, mais adaptadas para completar os espaços em branco de petições e requerimentos, formulários para carteira de identidade, Detran, Prefeitura e outros órgãos públicos.

Assistencialismo tem vantagens, como ser o vereador mais votado da cidade pela quarta vez consecutiva e exercer o sétimo mandato. É a performance de Admir Jacomussi, que está na Câmara de Mauá desde 1972 e pode ser encontrado em seu gabinete, onde atende média de 30 pessoas diariamente. A maioria está interessada no encaminhamento que Jacomussi presta em relação a leis de sua autoria. Duas atraem atenção maior. A lei 2464/93 isenta aposentados e pensionistas que ganham até três salários mínimos do pagamento de IPTU e já beneficiou mais de seis mil pessoas. A outra lei autorizou mais de 10 mil proprietários de lotes adquiridos em sociedade a fazer o desmembramento dos terrenos. Iniciativas que caíram como luva para uma cidade de baixo poder aquisitivo como Mauá e que mais uma vez renderam a Jacomussi a maior votação local: 4.693 votos.

Mesmo em São Bernardo, o campeão de votos destoa dos manuais clássicos de política. Gilberto Marson (PV) deixaria mudo o ambientalista Fernando Gabeira ou arrepiaria qualquer militante do Greenpeace. Apesar da legenda ambientalista, Marson é dono de rede de postos de combustível e foi apoiado por comerciantes do setor. Representa o voto segmentado, embora não despreze práticas assistencialistas, principalmente no Bairro Assunção, reduto eleitoral e onde mantém um de seus postos.

Não adianta se animar com o índice de renovação do Legislativo como esperança de melhores práticas políticas se o exemplo for a Câmara de Rio Grande da Serra, onde dois terços dos vereadores foram eleitos pela primeira vez este ano. Os 847 votos fizeram Cláudio Manoel Melo, o Claudinho da Geladeira (PT), entrar para a história de Rio Grande da Serra como o vereador mais votado da cidade. Líder comunitário no Bairro de Santa Tereza, o técnico em eletrodomésticos garante que só saiu candidato por exigência da própria população. Claudinho é presidente da Sociedade Amigos de Bairro e da Escola de Samba Imperadores da Serra. Divide o tempo entre consertar geladeiras e máquinas de lavar e promover atividades beneficentes e mutirões que resultaram na construção de duas vielas comunitárias. O Fusca 66 com sistema de som chama a população para os eventos, anuncia pessoas perdidas e até animais domésticos que desaparecem. Nos três últimos meses o automóvel ocupou as ruas do bairro para pedir votos. Que vieram em quantidade.

ExceçõesSomente em duas das sete cidades da região os líderes de votos não se renderam ao apelo do assistencialismo. Em São Caetano, em que pese a força política do prefeito Luiz Tortorello (PTB), que, além de se reeleger com 78% dos votos, garantiu apoio de 18 dos 21 vereadores da Câmara, o parlamentar mais votado veio da oposição. Hamilton Lacerda (PT) conseguiu obter 3,3% dos votos, marca difícil de ser igualada em municípios de médio ou grande porte. Está claro que os moradores aprovam o modelo de gestão instituído por Tortorello, mas também se identificam com a desenvoltura agressiva do oposicionista. Surpreendente ou não, a votação do petista Hamilton foi incrementada junto aos setores médios do Município.

A postura frente aos atos do Executivo talvez tenha sido a moeda mais valiosa do mandato de Hamilton Lacerda, que assinou cerca de 15 projetos de relevância para a cidade e também para o Grande ABC.

Outro campeão de voto que manteve a postura original de legislador e fiscal do Poder Público foi Saulo Benevides (PSDB). “Muitos eleitores ainda não têm consciência de que o vereador também lida com o dinheiro público e prefere alguém que resolva o problema imediato” – desabafa. Aos 28 anos, Benevides foi o vereador mais votado de Ribeirão Pires pela segunda vez consecutiva e encerra em dezembro a primeira gestão como presidente da Câmara. O cargo lhe deu projeção, mas não foi fator determinante para que os votos pulassem de 1.111 para 1.816 em quatro anos. Durante o período, o déficit da Câmara foi zerado, acabaram-se os famosos congressos de vereadores em cidades turísticas à beira-mar e o balanço financeiro foi divulgado na mídia local e afixado em mural de informações na própria Câmara. Quando assumiu a presidência, o vereador chegou a ser alvo de preconceito em razão da pouca idade. Mesmo assim, não abriu mão de estimular o debate político, principalmente entre jovens.

Não por acaso, a juventude é um dos setores que mais rejeita o clientelismo e as práticas tradicionais. Exemplo é o vereador Ricardo Alvarez (PT), de Santo André, muito popular entre estudantes da Fundação Santo André, onde é professor. Sua postura de fiscal rigoroso do Executivo também lhe deu muitos votos entre a classe média com perfil de esquerda e servidores públicos. Alvarez chega mesmo a se contrapor a projetos do prefeito Celso Daniel, de seu próprio partido, como o voto contrário à redução do salário do funcionalismo municipal e a criação de novos cargos para a Câmara.

Durante a campanha eleitoral, Ricardo Alvarez não deu sossego ao Executivo e impulsionou mobilização contra a criação de aterro sanitário na área verde antes destinada ao Parque Guaraciaba. Na eleição de 1996 foi o vereador que recebeu menos votos no PT. Este ano foi o terceiro mais votado do partido. Outra exceção é o vereador Marcos Melão, que adotou postura insólita entre parlamentares: não aceitou disputar a reeleição em São Bernardo. “Foi uma forma de dar um tapinha com luva de pelica naqueles que transformaram o Legislativo numa profissão” — afirma Melão. Ele preferiu retornar ao emprego de funileiro de autos na Volkswagen a ter de desempenhar papel que não cabe ao vereador.

KombisEntre os papéis que Melão se recusou a incorporar está o de transportador de doentes, prática histórica e ainda frequente nos Legislativos da região. Se alguém pensa que a tarefa é simples, está enganado. Levar pacientes e parentes para hospitais de São Paulo requer know-how. Que o diga o vereador José Tudo Azul (PFL) de São Bernardo, protagonista do caso mais emblemático de vocação clientelista. O vereador estava no cargo há sete legislaturas e garantia seguidas reeleições graças à perua Kombi com a qual transportava doentes e seus familiares para hospitais. Desta vez, Tudo Azul surpreendentemente ficou de fora. Em seu lugar e com boa parte dos eleitores-passageiros assumirá na Câmara Orlando Morando Júnior (PSB), que dobrou a eficiência de Tudo Azul: em vez de uma, tem duas peruas Kombi para transportar os necessitados.

Morando, na verdade, se mirou no exemplo de Tudo Azul quando permaneceu dois anos como vereador, ao assumir como suplente a vaga do colega de partido José Roberto de Melo, nomeado secretário de Habitação e Meio Ambiente. Percebeu rapidamente que Tudo Azul sempre recebia altas votações sem praticamente fazer campanha ou mesmo sem se esmerar na tribuna. Bastava a perua, que chegou a se consagrar como transporte típico do Legislativo local. Os vereadores de São Bernardo têm a opção de escolher como veículo oficial do gabinete um carro modelo Gol ou a famigerada Kombi. Outro que não foi longe com a Kombi foi Luiz Manssur (PPB), de Santo André. Fora da próxima legislatura, ele já colocou o veículo de sua propriedade à venda.

A deformação do papel do Legislativo fez muitos vereadores se transformarem em espécie de despachante de luxo para os eleitores de Diadema. Outro que ajuda o cidadão a enfrentar as exigências da burocracia é Milton Capel (PPS), cuja especialidade é regularizar plantas de construções junto à Prefeitura. Como o Município teve ocupação e crescimento desordenados, obras residenciais e comerciais estão em permanente reforma e ampliação. Para acertar a regularização junto à Administração, o gabinete de Capel é um dos caminhos.

A Prefeitura de Diadema chegou a montar vários postos de atendimento onde o munícipe pode obter informações e entrar com petições e requerimentos. Mesmo assim, o eleitor prefere recorrer aos préstimos dos parlamentares despachantes. O trabalho de regularizar plantas é a marca de Milton Capel, tanto que seu slogan de campanha é Quem Planta, Colhe. O vereador colhe os frutos das plantas há cinco legislaturas.

Outro serviço público gratuito intermediado por vereadores é a distribuição de leite para famílias carentes, no que já se convencionou chamar de tíquete-leite. A Secretaria da Agricultura do Estado disponibiliza lotes do produto para entidades. Em vários municípios são formados clubes de mães que cadastram famílias para receber o leite. Em Diadema, a vereadora que se notabilizou pela capacidade de organizar os clubes de mães foi Marion de Oliveira (PTB), que, naturalmente, conseguiu a terceira maior votação da cidade (3.717 votos).

Candidato do bairroO tradicional trabalho de bairro pode ter duas vertentes: a participação de movimentos comunitários e o assistencialismo localizado. No segundo caso, os candidatos dão pequenas ajudas materiais para quem constrói casa, providenciam velórios e enterros em cemitérios públicos, fornecem cartas de apresentação para quem procura emprego ou mesmo indicam interessados em trabalhar em empreiteiras que prestam serviços para a Prefeitura.

Outra atividade importante é fazer intermediações prosaicas entre munícipe e Prefeitura para resolver problemas como multas e regularizações, entre outras tarefas. Assistencialistas de carteirinha em seus bairros são José Walter Tavares (PL) no Baeta, Ana do Carmo (PT) no Ferrazópolis, José Roberto de Melo (PPS) no Bairro Planalto, José Ferreira (PT) no Alvarenga, Gervásio Paz Folha (PSB) no Taboão, Toninho da Lanchonete no Jardim do Lago e Orlando Morando (PSB) no Bairro Batistini e Jardim da Represa, todos em São Bernardo.

Alguns desenvolvem assistencialismo diferenciado, como Edinho Montemor (PSB), que ganhou popularidade ao ajudar famílias a ocuparem terrenos na área de proteção aos mananciais, mas também obteve alguns processos na Justiça por envolvimento em ocupações irregulares.

Em Diadema, Carlos Caviúna (PPS) carrega a marca de sua comunidade, pequeno bairro carente em torno da Rua Caviúna, na Zona Sul. Em Santo André, o petebista Luiz Zaccarias é o típico vereador de reduto geográfico e principal representante dos partidos conservadores. Zaccarias teve de enfrentar a chegada de novos nomes na Vila Palmares, como os petistas Jurandir Gallo e Klinger Luiz de Oliveira Souza. Mesmo assim, conseguiu manter a intimidade com moradores do bairro onde nasceu e mora até hoje. Zacarias não só conhece como se relaciona com famílias inteiras. Frequenta batizados, festas de aniversário, velórios e casamentos. Sob essa maquiagem de proximidade pessoal, alinhava compromisso político com os eleitores.

A vereadora Ivete Garcia (PT) encolheu o volume apurado nas urnas, mas manteve o estilo bairrista de fazer campanha e apostou a maior parte das fichas na Vila Luzita, onde enraizou militância e trabalho político.

A opção pelo vereador do bairro foi latente nessa eleição em Rio Grande da Serra. Os próprios parlamentares admitem que mais da metade do trabalho que realizam está associada ao assistencialismo e ajuda pessoal. Depois de assistir à morte de um prefeito e do vice que assumiu, além do revezamento de sete nomes à frente do Executivo durante um único mandato, o eleitor não sabia mais a quem recorrer. A gestão que chega ao fim em dezembro foi tão atípica que a própria Prefeitura chegou ao extremo de encaminhar demandas sociais diretamente aos vereadores, quando deveria assumir o papel que lhe cabe pela lei. Mais do que nunca, o voto localizado imperou.

Na Vila Lopes, Valdir Marques não concorreu, mas lançou a esposa Cida Marques (PPS) e transferiu para ela 358 votos dos 390 que obteve no reduto em 1996. Além de Cida Marques, a Vila Lopes elegeu Guerra (PV) e Betinho (PPS). A região central depositou as esperanças em Anderson (PFL) e Rui Pereira (PSBD), o Parque América em Geraldo Gouveia (PT) e Bigode (PTB), enquanto o Jardim Novo Horizonte escolheu Paulo Franco (PT).

O voto setorial é outra arma para garantir cadeira na Câmara. A necessidade de se verem representados no Legislativo Municipal levou cerca de 30 empresários de Santo André a escolher como candidato Fernando Gomes (PFL), diretor do Colégio Pentágono. Gomes alastrou a idéia de ser candidato dos setores médios da sociedade andreense e passou de raspão pelo crivo eleitoral. Somou 2.905 votos. Por vezes, o candidato escolhe determinado nicho, como Chico do Judô (PPS), de Mauá, que entra em seu quarto mandato consecutivo como parlamentar ligado ao esporte.

Em São Caetano, Moacyr Rodrigues (PMDB), que em 1992 disputou a Prefeitura, contabilizou agora 1.082 votos, a maior parte conquistada no mundo acadêmico. Candidatos que aqueceram os contatos ascenderam como Sidney Bezerra da Silva (PPS), conhecido como Sidão da Padaria, que também usufruiu das benesses de ter negócio no eixo comercial da Vila Gerti. Jorge Martins Salgado (PTB) apropriou-se do corporativismo do funcionalismo público. O cargo de diretor do Ipasm (Instituto de Previdência Social Municipal) despontou como agente facilitador entre o candidato e os eleitores. Gérsio Sartori (PTB), um dos principais articuladores do poder de Luiz Tortorello na Câmara, garantiu votação mediana graças aos contatos que mantém com programas voltados para a Terceira Idade.

Em Diadema, os vereadores setoriais também conseguiram se fazer representar pelos respectivos segmentos. É o caso do professor Alexandre Rodrigues (PDT), eleito pelos alunos das escolas onde leciona, na Vila Nogueira e Piraporinha. Outro com eleitorado carimbado é o petista Manoel Eduardo Marinho, o Maninho, ativista sindical que contou com apoio de dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. José Queirós Neto (PT), o Zé do Norte, tem atuação nos movimentos de moradia, principalmente no Jardim Canhema. Antonio Rodrigues (PT) se destaca pela participação no movimento do transporte coletivo.

Já o médico João Gualberto (PPS) tem clínica própria e organizou convênio de saúde que lhe rende no mínimo popularidade. Outro que trabalha com saúde, ou a falta dela, é Antonio Bonfim de Melo, o Titio, que tem perua para transporte de doentes, principalmente na base eleitoral do Jardim Marilene, bairro carente de Diadema. A advogada Irene dos Santos (PT) chega à Câmara pela primeira vez graças ao trabalho com movimentos de mulheres e de habitação.

São Bernardo também conta com nichos eleitorais. É o caso do recém-eleito Tião Matheus (PT), que trabalhou e fez militância sindical na Ford, onde contou com simpatia dos dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Hiroyuky Minami (PFL), como o próprio nome indica, desenvolve campanha direcionada para descendentes de japoneses. Teve também votos herdados de outro representante da colônia, o falecido vereador Kyoshi Tanaka. Minami também promove trabalho junto a associações de pais e mestres.

Sem pertencer a setores determinados, duas candidatas de Diadema disputaram as eleições deste ano em condição especial: como mulheres de prefeitos, foram ou são primeiras-damas, condição exclusivamente social mas que pode render exposição pública e votos.

Maridite de Oliveira (PPS) é mulher do deputado estadual José Augusto da Silva Ramos (PPS), que este ano disputou a Prefeitura com o marido de Eliete Menezes (PSB), atual prefeito Gilson Menezes (PSB). As duas têm atuações muito ligadas ao trabalho político dos maridos. Maridite também foi secretária de Saúde em dois governos petistas, no do próprio marido quando era filiado ao PT (1989/1992) e na administração de José de Filippi Júnior, atual deputado estadual pelo PT e também prefeito da cidade entre 1993 e 1996.

Já Eliete tem perfil mais assistencialista. De linhas políticas diferentes, as duas já foram adversárias na Câmara e se aproximaram para enfrentar o PT nas eleições deste ano. Tanto Maridite como Eliete tiveram votos em todos os quadrantes do Município, com campanhas massivas.

Em outras cidades candidatos também optaram por estratégia de espalhar esforços com marketing apropriado a atingir amplos setores da população. É o caso de Klinger Luiz de Oliveira (PT), de Santo André, que, além de integrar o quadro de confiança do prefeito Celso Daniel, desenvolveu campanha agressiva em toda a cidade com outdoors e materiais variados. Foi o segundo mais votado.

Em Mauá, campanhas massivas de nomes já consolidados foram a de Hélcio Silva e Wagner Rubinelli, do PT, bem como de Manoel Lopes (PFL). Além do voto em escala, o petista Wagner Rubinelli, que pela segunda eleição seguida foi o mais votado do partido, também busca o eleitor mais qualificado. Ele credita os 3.235 votos a eleitores que privilegiam a atuação parlamentar, estão interessados em discutir propostas e cobram do vereador a verdadeira função: legislar e fiscalizar. “Esse segmento não é oscilante” — acredita Rubinelli.

Estratégia diferente de massificar votos é a de Silvar Silva Silveira (PMDB). O vereador mauaense entra no terceiro mandato com cacife de 4.223 votos e a proeza de não ter pintado um muro sequer nem distribuído um panfleto durante a campanha. Milagre? Não. O vereador promove semanalmente palestras sobre direito das mulheres, Direito Constitucional, drogas e alcoolismo, entre outros temas. Advogado e professor universitário, iniciou o trabalho há 25 anos em igrejas e sociedades amigos de bairro, mas resolveu dar ares mais profissionais à atividade e construiu auditório com 300 lugares para disseminar informação. As palestras são gratuitas e os participantes doam um quilo de alimento destinado a instituições assistenciais.

Com a estratégia, Silveira fidelizou público em todas as classes sociais. O trabalho legislativo é uma extensão do comunitário porque está pautado em assuntos correlatos aos abordados nas palestras. Silveira preside a CPI que apura agressões contra mulheres e garante que em seu gabinete não há munícipes solicitando favores pessoais. “Meus eleitores conhecem o papel do legislador. Sabem que muitas coisas não devem ser reivindicadas na Câmara. Por isso trabalho para que conheçam seus direitos” — enfatiza.

MáquinaA sempre polêmica proximidade com a máquina administrativa tem indiscutíveis vantagens eleitorais. Ocupar secretarias estratégicas também faz diferença na hora de obter votos; ficar longe pode corroer o potencial de votos. Lolô Fargiani (PSDB) ocupou a Secretaria de Serviços Urbanos de Mauá na gestão do ex-prefeito José Carlos Grecco e elegeu-se em 1996 com 4.096 votos. Longe da secretaria na gestão do PT, seus votos caíram pela metade este ano: 2.412 votos. Olivier Negri Filho (PSB), nome tradicional na Câmara de Mauá, também sentiu os prejuízos de estar longe dos holofotes do poder. Secretário de Promoção Social também na gestão de José Carlos Grecco, o sociólogo não conseguiu se eleger para mais um mandato. A votação despencou de 2.345 votos em 1996 para 841 nesta eleição.

Já José Luiz Cassimiro, ex-secretário de Governo do atual prefeito Oswaldo Dias, quase chegou lá. É o primeiro suplente do PT. Como ocupou pasta de articulação política, não teve oportunidade de se projetar tanto caso coordenasse áreas mais estratégicas ligadas a obras e assistência social.

Em São Bernardo, Octavio Manente (PPS) teve adesões fundamentais entre funcionários graduados das secretarias municipais de Obras e Finanças. O mesmo aconteceu com Admir Ferro (PL) que, durante boa parte da legislatura, se afastou da Câmara para assumir a Secretaria de Educação. Retornou ao Legislativo às vésperas da eleição com campanha de porte literalmente invejável. Mas o mais aquinhoado por apoio é Laurentino Hilário (PPS), que conta com a simpatia pessoal do prefeito Maurício Soares e se beneficia do entrosamento com o Executivo.

Enquanto alguns felizardos são beneficiados pela proximidade com o poder, outros sucumbem pelo afastamento do Executivo. Se a afirmação tem valor em algum lugar é em São Caetano, onde o prefeito Luiz Tortorello joga papel preponderante na hora de definir quem vai ser ou não eleito para a Câmara. Se a oposição petista tem dificuldades em manter modesta representação no Legislativo, com apenas três vereadores, sair do bloco de situação para se opor ao chefe do Executivo é quase fatal.

Que o diga o petebista e teatrólogo Carlos Lira, que perdeu o papel de parlamentar para Francisco de Macedo Bento (PRP), seu concorrente no reduto da Vila São José. Maurílio Teixeira (PTB) e Airton Lauriano (PPB) também não empinaram as respectivas campanhas pelo mesmo motivo. Pedro Batissaco (PPS) engrossa a fila dos que se desentenderam com o prefeito e ficaram de fora do Legislativo.

O fracasso nas urnas também pode ser obra de maquinações de adversários políticos, como no caso do vereador Ary de Oliveira (PL), de São Bernardo, cuja não reeleição é atribuída à prévia concentração de candidatos para disputar votos em sua base eleitoral, no Bairro Paulicéia.

Outro que surpreendeu pela não reeleição foi o veterano Franco Masiero (PTB). Por ficar longe da presidência da Câmara de Santo André e do papel de principal opositor do prefeito Celso Daniel, viu seus planos políticos desfeitos nas urnas. Também enfrentou doença prolongada, seguida da morte da esposa, motivos suficientes para ter sua votação reduzida à metade, pois passou de 6.134 para 3.603 votos em quatro anos.

Saber jogar na política é essencial. Unir esforços é a mais simples e eficiente das jogadas. Exemplo foram as eleições de Jorge Kioshi Sakata e Élcio Macalé Cândido, do PSD de São Bernardo, partido que se coligou com outras duas siglas do mesmo porte, PTN e PSC. Apesar de nanicas, as três legendas reuniram 42 candidatos, cada um com média de mil a 1,3 mil votos que, no cômputo geral, abriram caminho para os novos vereadores. Um dos mentores da união dos pequenos é o deputado estadual Ramiro Meves (PL), que também já ocupou cadeira na Câmara de São Bernardo por várias legislaturas e se notabilizou por ajudar os eleitores a sepultar parentes.

Em Mauá, onde a cada 8,7 mil votos se elege um vereador, o PV também investiu na boa média por candidato. A conta explica por que o verde Arissol Miranda assegurou cadeira com 1.190 votos, enquanto o petebista Alvarino Lemes ficou de fora com 2.360 votos. Interlocutores locais avaliam que o PV foi o partido que mais soube tirar proveito da equação matemática. Compôs chapa em que todos os candidatos tinham potencial médio de voto e surpreendeu na performance com dois eleitos. O PTB, ao contrário, não obteve coeficiente eleitoral, apesar da alta votação em alguns candidatos.

As deformações causadas pela linha de corte partidária beneficiaram também o retorno de Carlos Roberto Ferreira à Câmara de Santo André. Filiado ao PSB, Carlos Ferreira precisou de apenas 1.417 votos para garantir espaço na Legislatura 2001/2004. Sua última passagem pela Casa deixou marcas profundas. Foi acusado de envolvimento com esquemas de corrupção, o que levou a bancada do PT a pedir sua cassação. A Câmara não tomou qualquer atitude e Ferreira limitou-se a afastar-se da Comissão de Finanças e Orçamento, manteve o mandato, mas não se reelegeu em 1996.

IgrejasReligião e política andam juntas, embora os compêndios teóricos tenham dificuldades de explicar a convivência. Mesmo na esquerdista Diadema o voto religioso tem peso. De perfil operário, a população, no entanto, se destaca por eleger vereadores ligados a igrejas. O segundo mais votado, José Zeferino dos Santos (PSDB), vai para o terceiro mandato sempre com apoio ostensivo da Igreja Universal, da qual faz parte. Outros dois que se beneficiam do voto evangélico são Carlos Caviúna e o professor Alexandre. O voto religioso pode até mesmo determinar a derrota, como no caso do vereador José Rodrigues (PDT), que não se reelegeu por divisões internas entre pastores de sua igreja.

A Igreja Católica também se faz presente pela eleição de dois membros de suas comunidades de base. É o caso de José Antonio da Silva (PT), metalúrgico ligado à Pastoral Operária e com atuação no Bairro Taboão e Jardim Canhema. O caso mais ostensivo de apoio católico na eleição é o do vereador novato Marco Antonio Ernandez (PT), o Marquinhos, eleito pela comunidade católica do Bairro Eldorado. Marquinhos deve o sucesso nas urnas ao padre Odair Agostin, figura folclórica de Diadema que aparece mais do que a santa nas festas de Nossa Senhora dos Navegantes.

No festejo, realizado em fevereiro, o padre costuma se destacar por performances insólitas como jogar água benta do alto de um helicóptero em pleno vôo ou acompanhar a procissão, feita pela Represa Billings com barcos de Diadema e São Bernardo, montado num jet ski, como este ano, quando lançou informalmente Marquinhos como seu candidato preferido.

O apoio não foi unânime e a comunidade estava dividida entre outros nomes. Um mês antes da eleição, numa missa de domingo, o padre chamou Marquinhos ao altar e disse em alto e bom som: “Se esse moço não for eleito, vou embora desta paróquia”. Marquinhos recebeu 2.551 fiéis e obedientes votos, suficientes para que fosse o terceiro mais votado de seu partido.

Em Santo André, foi por conta da falta de fidelidade à Igreja Universal que o vereador André Sanches (PPB) despencou nas urnas. Eleito pelo voto crente dos seguidores de Edir Macedo, André Sanches reduziu a menos da metade os 3.762 votos conquistados em 1996. Foi substituído por Elias Ferreira de Mattos, do PTB, que contabilizou 7.138 votos em nome da religião. O pastor Elias divide a bancada evangélica com Israel Santana, do PFL, que conseguiu safar-se do desgaste como presidente do Legislativo.

O evangélico reeleito Luiz Pereira (PFL), de Ribeirão Pires, viu o rebanho eleitoral crescer de 531 para 895 em quatro anos. O novato Moacyr Soares (PT) é ligado à Igreja Católica e contou com apoio de grupos da pastoral para disseminar propostas ligadas à área de saúde, educação e participação popular. Soares garante que aboliu o discurso clientelista nas mais de 300 visitas domiciliares que fez durante a campanha. “Corri o risco, mas valeu porque quem me elegeu vai cobrar trabalho e não favores” — acredita. Em Mauá, Professor Betão (PPS), Pastor Altino (PL) e Zeferino Ferreira (PL) se elegeram com votos evangélicos.

Em São Bernardo, a vinculação religiosa não foi fator decisivo para a eleição de parlamentares ligados exclusivamente a paróquias ou templos. Exemplo é o vereador evangélico Lenildo Magdalena (PSB), dos mais antigos ocupantes de cadeira na Câmara e que não conseguiu se reeleger porque disputou o rebanho com outro evangélico, Ivanildo Freire de Santana (PL). Juntos, reuniram mais de nove mil votos, mas não se elegeram. O voto com o carimbo das igrejas, na verdade, reforça a votação de vereadores como o católico José Roberto de Melo (PSB), ministro leigo da paróquia do Bairro Planalto que desenvolve trabalhos comunitários.



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