O Fórum da Cidadania do Grande ABC completa hoje dois anos de existência contabilizando como conquistas o fortalecimento da representação política da região e o surgimento de novas lideranças a partir de seus grupos de trabalho.
“Hoje, o Fórum já é reconhecido pelos prefeitos da região e pelo governador Mário Covas”, comemora o empresário Fausto Cestari Filho, coordenador da entidade.
Cestari lembra que o Fórum começou já contabilizando vitórias. “Com o movimento suprapartidário inicial, a região conseguiu eleger, na eleição de 3 de outubro de 1994, cinco deputados federais e oito estaduais”, afirma. “Além do fortalecimento da representação da região, o Fórum acabou contribuindo também para o surgimento de novas lideranças políticas”.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC lançou ontem a Campanha pela Valorização do Voto com a divulgação, em ato realizado na Fundação Santo André, do Manifesto pela Qualidade Total do Voto. De acordo com o documento, firmado com o aval das 63 entidades que compõem o Fórum, “a primeira exigência a ser cobrada do homem público que vai emergir das urnas dentro de alguns meses é um compromisso claro e militante com o desenvolvimento e com a qualidade de vida de toda a região”. “É o que o Fórum se propõe a fazer nas eleições municipais por exigência das entidades nele representadas e das aspirações de toda a população”.
No discurso de abertura, o coordenador do Fórum, Fausto Cestari, ressaltou que a entidade se transformou na principal referência do pensamento da sociedade civil do Grande ABC. Ele lembrou que, no mesmo auditório da Fundação, foi lançada, há dois anos, a Carta do Grande ABC, que “conseguiu transformar aspirações em conquistas reais”.
O coordenador do Fórum da Cidadania do Grande ABC, o empresário Fausto Cestari Filho, disse ontem que as sete cidades da região poderão ter um plano integrado de desenvolvimento estratégico. “Por enquanto, a elaboração de documento de princípios para o desenvolvimento sustentado do Grande ABC, a ser entregue ao governador Mário Covas, é o desafio que está unindo a sociedade civil, através do Fórum, o Consórcio Intermunicipal, que é composto pelos sete prefeitos, e secretarias e órgãos da área econômica do governo do Estado”, afirmou.
O coordenador do Fórum da Cidadania do Grande ABC, Marcos Antônio Gonçalves, afirmou que pretende levar para a entidade a proposta de iniciar uma rigorosa fiscalização sobre o Poder Judiciário: “Os representantes do Judiciário ainda não foram contaminados pela necessidade de modernização que afeta toda a sociedade. Eles agem como se não devessem satisfação à população, prestando um serviço de péssima qualidade, de forma lenta e morosa, além de receber salários que estão muito acima da realidade de mercado”, criticou.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC completa amanhã três anos de existência, festejando o cumprimento de uma de suas principais metas: o encaminhamento de propostas de consenso para o desenvolvimento econômico e social da região.
A principal conquista, segundo o coordenador Marcos Antônio Gonçalves, foi criar as condições políticas para a elaboração do projeto que deu origem à formação da Câmara Regional do ABC.
O coordenador do grupo Planejamento Urbano do Fórum e presidente regional do Grande ABC da Associação dos Arquitetos do Brasil, Silvio Tadeu Pina, disse que o Fórum precisa acompanhar na Câmara Regional a proposta de criação da Agência Regional de Desenvolvimento Econômico: “Se essa proposta for concretizada, a agência será um referencial da região, porque ela poderá ter à sua disposição um banco de dados”.
Um workshop realizado no Sesi de Santo André, no início do mês passado, procurou acrescentar faróis de milha às luzes do Fórum da Cidadania. Depois de três temporadas de atuação, quando iniciou rumorosa revolução político-institucional na região a ponto de revitalizar o moribundo Consórcio Intermunicipal, de provocar o surgimento da Câmara Regional e de estimular a reativação do Fórum Permanente de Vereadores, o Fórum da Cidadania vive situação paradoxal: está em franco processo de fortalecimento, mas a maioria das entidades que o compõem continua tão frágil em representatividade como antes da iniciativa que lhe deu origem, em 1994.
O novo Colégio Executivo do Fórum da Cidadania do Grande ABC foi empossado ontem no Sesi de Santo André. O novo coordenador do Fórum, Silvio Tadeu Pina, destacou a campanha de valorização do voto na região como a principal prioridade da entidade para este ano. “Além de incentivar o voto com qualidade, vamos procurar traçar o perfil daquilo que seria uma bancada do Grande ABC, tanto na Assembléia Legislativa como na Câmara dos Deputados”, disse Pina.
O Fórum da Cidadania começa a definir, a partir de amanhã, os critérios para a criação do programa Raio X das Prefeituras. O coordenador do grupo de articulação política do Fórum, Felipe dos Anjos Marques, adiantou que a avaliação será feita pelo desempenho de cada secretaria municipal. Segundo o coordenador, a meta é iniciar a avaliação logo no princípio do ano que vem.
Marques explicou que o Fórum vai estabelecer uma agenda de trabalhos com seminários para a avaliação. “Vamos debater com os sete secretários de uma determinada área com o objetivo de dar transparência aos atos praticados pelos prefeitos”.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC conclui hoje, no Sesi de Santo André, seu seminário interno, iniciado no sábado, e se prepara para entrar numa nova fase, em meio a um ano difícil, porém repleto de possibilidades. Quatro anos depois de sua fundação, essa notável plenária que reúne 110 entidades mais importantes da sociedade civil da região tem dado demonstrações seguidas não apenas de perenidade e consistência, mas principalmente de maturidade no debate das questões de interesse público.
Como se sabe, a valorização do consenso — esse conceito fundamental na teoria política democrática — foi uma das grandes contribuições do Fórum ao debate político do Grande ABC. Ele criou o espaço mínimo de convivência entre segmentos antagônicos e correntes políticas rivais e, assim, fez avançar a agenda de transformações necessárias à retomada do desenvolvimento econômico regional.
É preciso registrar que a plataforma básica do lançamento do Fórum, há quatro anos, já foi cumprida em larga medida, graças aos esforços de suas lideranças e seus aliados — especialmente a idéia de integração dos poderes públicos municipais, o diálogo com o governo do Estado, o ataque combinado aos itens do custo ABC, a adoção de um plano estratégico de desenvolvimento regional e, finalmente, a articulação entre os parlamentares da região com vistas a uma ação comum em defesa dos interesses do Grande ABC.
Tudo isso, em maior ou menor grau, está em curso, a despeito do ceticismo ou da deliberada atitude desagregadora de alguns dirigentes, jornalistas e políticos conservadores.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC aprovou ontem a criação de um Conselho Fiscal para que a entidade possa receber doações de organismos internacionais ou governamentais. “Esse foi um passo importante que a entidade deu, visando seu crescimento”, disse o tesoureiro do Fórum, Carlos Augusto César Cafu, durante workshop realizado no Sesi de Santo André para definir os rumos da entidade para os próximos anos.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC deve eleger hoje, por aclamação, o seu novo Colégio Executivo. Há apenas uma chapa inscrita, que deverá ser aclamada pelas entidades filiadas presentes à plenária. O atual primeiro tesoureiro do Fórum, Carlos Augusto César, conhecido como Cafu, é o provável futuro coordenador da executiva. Cafu defende mais dinamismo e novos rumos para o Fórum e diz que já na primeira plenária que deve coordenar, dia 22 de abril, pretende formar os conselhos.
Cafu também quer fazer uma espécie de auditoria para levantar a participação dos organismos filiados à entidade. “Vamos avaliar se as 110 entidades filiadas realmente existem e funcionam”.
O Conselho Consultivo do Fórum da Cidadania do Grande ABC vai fiscalizar os passos da nova coordenação do colégio executivo para que sejam mantidas as diretrizes da entidade, além de funcionar como ponto de apoio para a elaboração de novas propostas. Criado com a fundação do Fórum, há cerca de cinco anos, o conselho chegou a ser colocado em prática no primeiro ano de existência da entidade. Entre os representantes estavam o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, e o vice-presidente da General Motors, André Beer.
O vice-presidente do Ciesp (Fausto Cestari) explicou que o conselho foi criado para valorizar as propostas e preservar o modelo da entidade. “Isso porque, com a velocidade de renovação do Fórum, corre-se o risco de perder aquilo que foi estabelecido no início.
O Grande ABC poderá ter disponível, ainda neste ano, um Banco de Idéias com sugestões da população e de entidades de classe para possíveis soluções dos principais problemas da região. A proposta está sendo estudada pelo Fórum da Cidadania, que ficaria responsável pelo recebimento e debate das propostas.
Trecho de texto no Diário do Grande ABC de 10 de junho de 1999, “Fórum abraça causa da segurança”:
O Fórum da Cidadania do Grande ABC vai encampar a mais nova bandeira da Câmara Regional, que decidiu incluir entre suas prioridades a segurança pública, discutindo a questão com segmentos da sociedade organizada e o governo do Estado.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC entrou ontem com uma ação contra a Câmara de Santo André por ter aprovado, no início do mês, projeto que criou 42 cargos de assessores de gabinete. O coordenador do Fórum, Carlos Augusto César, o Cafu, disse que a entidade já havia deliberado na plenária da semana passada que é contra o aumento de gastos no Legislativo da cidade.
O presidente da Câmara de Santo André, Israel Santana, disse que discorda da atitude que o Fórum da Cidadania está tomando em relação à criação de cargos: “O Fórum não tem o que fazer e agora arrumou alguma coisa”, disparou. “Oficina parada é oficina de satanás. Quando a mente está parada, o diabo atormenta”, comparou o presidente, que é evangélico.
A iniciativa pioneira de organismos como o Consórcio e o Fórum da Cidadania do Grande ABC está fazendo escola em todo o Estado. O trabalho das entidades que tiveram participação fundamental na criação da Câmara Regional e na própria Agência de Desenvolvimento Econômico deverá estar sendo clonado por, pelo menos, cinco cidades até o fim do ano.
“O Grande ABC está mais uma vez na vanguarda da organização de movimentos populares e sociais e exporta idéias para outras cidades e regiões, mas temos de tomar cuidado e ter critério para isso não virar palanque eleitoral, ainda mais que estamos às vésperas de uma eleição”, disse Cafu.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC pretende lançar um programa comunitário na televisão até o início do próximo ano. Negociações nesse sentido estão sendo feitas junto à TVA, tendo como base uma lei federal que obriga os canais a cabo a cederem espaços gratuitos para organizações da sociedade civil, poderes Executivo e Legislativo. A iniciativa faz parte do pacote de projetos para massificação da entidade.
O Fórum da Cidadania decidiu ontem, em plenária realizada na subsecção da OAB de São Bernardo, apoiar a campanha do Sindicato dos Bancários do ABC contra a discriminação de clientes promovida pelo serviço financeiro. Foi a primeira reunião itinerante realizada pelo Fórum desde a sua criação, em 1994.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC vai excluir dez das suas 97 filiadas por não participarem das atividades da entidade há mais de um ano. Esta já é a segunda bateria de exclusões que o Fórum realiza. Há um mês, 13 organismos foram excluídos por não terem representação junto ao Fórum há mais de dois anos. A decisão marca o segundo lance do expurgo prometido pela atual coordenação do Fórum, com o objetivo de melhorar a representatividade do organismo e acabar com filiações fantasmas.
O arquiteto Fábio Vital, 38 anos, é o novo coordenador do Fórum da Cidadania do Grande ABC. A eleição foi realizada ontem na sede da OAB de Santo André. A chapa única, encabeçada por Vital, foi eleita por 14 votos a 9. De acordo com Vital, sua gestão vai garantir uma participação maior das entidades nas decisões do Fórum e na política regional. “Também ficou claro aqui hoje que será preciso uma reconstrução interna para as entidades se conhecerem melhor”, disse.
Vital se refere à confusão que se instalou durante a plenária de ontem, na qual os representantes das entidades contrárias à chapa tumultuaram o processo de eleição. “Isso que estamos vendo hoje já é o debate eleitoral que vai se dar na região neste ano”, disse Vital.
O Fórum da Cidadania tem novo coordenador-geral o arquiteto Fábio Vital, representante dos movimentos populares, mas isso é apenas parte de nova composição de nomes e projetos. Por mais idéias que acompanhem o novo coordenador, a perspectiva para os próximos 12 meses é de que ritual inovador seja implementado no Fórum da Cidadania. A constatação de que as plenárias não conseguem encontrar o foco gerou esforços para acrescentar novos componentes no Conselho Consultivo.
Em suma, o Fórum da Cidadania procura um norte sobre o qual possa recuperar o perfil de protagonista de transformações regionais, há muito perdido para o Consórcio Intermunicipal e a Câmara Regional. Não deixa de ser irônico que o Fórum esteja na penumbra de entidades que ressuscitou (caso do Consórcio) e motivou (caso da criação da Câmara). Para algumas lideranças, a própria existência do Fórum poderia ser abreviada, depois de acordar as autoridades políticas da região. Nada mais simples e cômodo, porque o jogo está apenas no começo do segundo tempo e o que se observa é que o Fórum está em desvantagem no placar. Pior do que isso: não está vendo mais a cor da bola.
Direcionar novos rumos e revitalizar a atuação do Fórum da Cidadania do Grande ABC foi um dos principais temas discutidos ontem, durante a reunião de posse do novo Conselho Consultivo da entidade. Entre as prioridades de ação regional foi levantada a bandeira da segurança aliada à qualidade de vida.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC quer ter uma atuação mais enfática nos assuntos ligados à vida dos cidadãos da região. “Vamos sair de cima do muro”, disse o coordenador da entidade, o arquiteto Fábio Vital.
A entidade terá um grupo específico, o de Direito e Cidadania, responsável pelo estudo dos temas que foram aprovados pelos organismos filiados ao Fórum, durante as assembléias.
O Fórum da Cidadania do Grande ABC poderá entrar com diversas ações civis públicas contra as sete prefeituras e câmaras da região sobre o destino dos recursos provenientes das multas de trânsito. Em novembro do ano passado, o Fórum solicitou informações sobre arrecadação e investimentos, mas, segundo Vital, ainda não obteve nenhuma resposta completa.
O modelo do Fórum da Cidadania está esgotado. Quem participou e ainda participa do movimento carrega o peso da decepção porque foi desprezada a lógica de que voluntarismo sem a contraface de profissionalismo é bicicleta sem rodas. Tem quadro, selim, catraca e guidão, mas não é uma bicicleta.
O Fórum da Cidadania estará morto até o fim do ano se os representantes das 117 entidades que o compõem não acordarem para o fato de que interesses partidários, pessoais e corporativos têm de ficar à margem dos anseios da sociedade. Quem afirma é o próprio coordenador, Clodoaldo Lima Leite. Motivos para o vaticínio não faltam. O primeiro e mais básico — a frequência de seus integrantes — já evidencia o desgaste da instituição criada em 1994. Das 117 entidades da região, uma média de 40 se mantém assídua às reuniões.
Clodoaldo não revela os nomes dos representantes das entidades por ética, mas afirma: “Alguns têm interesses exclusivos. São INGs (Indivíduos Não-Governamentais)”. E prossegue: “As bandeiras do Fórum, muitas vezes, ficam esquecidas em detrimento de ações isoladas. Se uma proposta de um simpatizante do PT é boa, muitas vezes sofre retaliações de integrantes do PSDB pela questão partidária, e vice-versa”.
O estado terminal de uma das mais ambiciosas propostas da sociedade civil do Grande ABC comprova as dificuldades para a consolidação de uma visão mais crítica e participativa dos brasileiros de maneira geral em assuntos que lhe dizem respeito.
O Fórum da Cidadania estará morto até o fim do ano, segundo vaticínio do próprio coordenador, eleito para a gestão 2001-2002, que vai além ao atribuir o fracasso do conclave ao choque de interesses partidários, pessoais e corporativos. Ao mesmo tempo faltaram dinâmica e habilidade no trato de questões heterogêneas, propostas por entidades igualmente distintas, enquanto sobraram vaidade e desejo de poder, que acarretaram o inevitável esvaziamento da entidade.
Em meio a um processo de esvaziamento das discussões do Fórum da Cidadania do Grande ABC, tomou posse ontem o novo colégio executivo da entidade. No comando do Fórum para o próximo ano assumiu o novo coordenador Eugênio Belmonte, representante da OAB de São Caetano, para o lugar de Clodoaldo Lima Leite.
Para o novo coordenador, o esvaziamento da entidade é “fruto de um descontentamento da população com as políticas nacionais”.
Clodoaldo avaliou, no entanto, que o esvaziamento das discussões dentro do Fórum da Cidadania é também consequência de uma menor ação das demais entidades regionais, como a Câmara Regional do Grande ABC, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e dos sindicatos.
Para ele, após os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos, as pessoas passaram a se preocupar mais com os interesses pessoais que coletivos, o que também colaborou para o enfraquecimento da entidade”.
O Grande ABC jogou na lata do lixo da imprevidência e do egocentrismo o maior movimento social de sua história. Mesmo sem ramificar-se profundamente na sociedade, o Fórum da Cidadania viveu trajetória singularmente incompreensível. Deixou escapar a nobreza dos primeiros anos e, nos estertores, desapareceu nas brumas do patético. Apesar da disposição dos soldados que ficaram, a realidade é inegável: trata-se de movimento em decomposição, de um batalhão de esforçados combatentes sem armas contra o inimigo mortal da depauperação da qualidade de vida no Grande ABC.
A série de erros cometidos pelo Fórum da Cidadania é uma lição que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa impedir que seja mimetizada pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, espécie de réplica que resolveu criar com representantes da elite da sociedade nacional. Fórum e Conselhão são organizações parecidas. O modelo do Conselhão de Lula apresenta-se mais estruturado porque conta inclusive com metodologia organizacional da Fundação Getúlio Vargas. Pretende-se dar um mínimo de conexão entre a pauta e os resultados efetivos.
Foi disso, principalmente, que o Fórum da Cidadania deixou de cuidar. Ou porque houve um abismo entre os recursos financeiros disponíveis e as prioridades específicas e genéricas impressas no documento assinado pelas entidades que lhe deram vida em 1994, ou porque sobreavaliou o poder político sempre mirrado de uma região historicamente marginalizada pelos governos estadual e federal. A pauta de prioridades listadas pelo Fórum da Cidadania, fruto de consulta às entidades inicialmente filiadas, combinava paixão pela utopia e desprezo pelo absolutamente necessário.
Na área de educação, pretendia-se a criação da Universidade Pública do Grande ABC, o desenvolvimento de programas de alfabetização de jovens e adultos a fim de erradicar o analfabetismo na região, além da melhoria do padrão de ensino e ampliação de vagas onde se mostrassem insuficientes. É acreditar em Papai Noel que o Grande ABC terá uma universidade pública e gratuita bancada por um governo de Estado com receitas estranguladas. O programa de alfabetização de jovens e adultos está em operação, mas a melhoria do padrão de ensino sempre passou longe dos poderes do Fórum da Cidadania.
Na área de habitação, a criação de programas de moradia popular conjugando recursos dos governos federal, estadual e municipais e que incluíssem, no curto prazo, uma política de urbanização dos atuais núcleos habitacionais também não passou de simples desejo do Fórum da Cidadania. O pouco que se deu no setor no Grande ABC não teve qualquer influência da entidade.
Na área de segurança o documento do Fórum requeria medidas imediatas para melhoria das condições de segurança pública, o reexame do sistema carcerário regional de modo a compatibilizá-lo com as necessidades atuais, e a descentralização das atividades policiais. Tudo muito interessante no papel.
Também reivindicava o Fórum da Cidadania, já em 1994, reforma previdenciária que assegurasse a viabilidade do sistema, eliminando-se as distorções atuais e que garantisse seu papel redistribuidor de renda, além de criar condições à participação de empresários, trabalhadores e governo na sua fiscalização. Se sequer o Congresso Nacional levou adiante essas pretensões, como encarar o enunciado do Fórum da Cidadania senão um salto no quintal alheio em vez de cuidar das próprias galinhas?
Na área econômica o Fórum foi extraordinariamente abrangente. Começou pela proposta de criação de mecanismos para atrair novas indústrias, evitando a migração e coibindo conflitos fiscais entre municípios, passou pela criação de pólos industriais, brigou pela reforma tributária e defendeu política industrial e comercial potencializadora das vocações econômicas da região, em articulação com o governo estadual e federal. Só esse último enunciado é sintomático da irrelevância do Fórum da Cidadania no campo econômico, porque o Grande ABC foi anestesiado pelos governos municipais, cortado pelo governo estadual e congelado pelo governo federal.
Nas áreas de administração pública e de desenvolvimento e meio ambiente o sonhado e o conquistado seguem no mesmo ritmo decepcionante. Essa espécie de carta de desejos está praticamente intacta. É um diagnóstico tão abrangente e de tal complexidade para a obtenção de resultados que ajuda a explicar o próprio fracasso da instituição. Afinal, quando se criam expectativas exageradas de sucesso sem a ponderação de que o trajeto entre o sonho e a realidade não será resolvido num passe de mágica, os efeitos colaterais de desinteresse e fragmentação começam a aparecer. O Fórum da Cidadania transmitiu a idéia de que era um maratonista com fôlego para os mais de 42 quilômetros de exaustivo percurso de redenção regional mas que, depois de esfuziante largada, sentiu dores na panturrilha, o joelho não suportava mais o impacto de cada novo passo e a mente, principalmente a mente, entregava-se à exaustão precoce.
A imagem é perfeita porque o Fórum da Cidadania foi vítima do próprio sucesso inicial. O lançamento da instituição em 1994, num momento em que o Grande ABC estava institucionalmente órfão, detonou transformações nos agentes políticos. O Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, fundado em 1991, transmitia a sensação de que só esperava um buraco aberto para ser enterrado de vez. Os prefeitos eleitos em 1992 e que não participaram da fundação do Consórcio pouco se interessaram pela instituição. Só Valdírio Prisco, de Ribeirão Pires, movimentou-se no último ano de mandato para resgatar algum sentido da pretendida integração regional.
A chegada do Fórum da Cidadania, filhote da campanha Vote no Grande ABC, em 1994, mudou o ambiente institucional na região. Enciumados, os prefeitos Walter Demarchi, Newton Brandão, Antonio José Dall’Anese, Valdírio Prisco, José Carlos Grecco, José Teixeira e José de Filippi Júnior renegaram relações com lideranças de um movimento que os hostilizava. O Fórum da Cidadania incomodava.
Exatamente porque havia evidente grau de antagonismo com prefeitos majoritariamente conservadores, o Fórum da Cidadania das duas primeiras gestões, de Wilson Ambrósio da Silva e Fausto Cestari, se apresentou como paladino da regionalidade.
A engenharia de aproximação dos contrários que durante as últimas décadas frequentavam ambientes distintos e cultivavam posicionamentos dogmáticos foi estabelecida pelo consenso. Sindicalistas e lideranças de entidades empresariais, médicos, advogados, prestadores de serviço, professores, agentes sociais e tudo que se imagina no caldo de cultura de uma região corporativa como qualquer outro pedaço do País, tudo foi atraído pelo regime do consenso absoluto. Estrategicamente, qualquer temário que pudesse cristalizar discórdias foi retirado da pauta.
A agitação em torno da nova entidade, principalmente nos dois primeiros mandatos, assegurava que a mobilização dos metalúrgicos liderados por Lula da Silva no final dos anos 70, início dos anos 80, perderia internamente em importância para a ressonância do Fórum da Cidadania. Afinal, enquanto os metalúrgicos construíram história revolucionária nas relações entre capital e trabalho que, entretanto, não ultrapassava os limites corporativos da classe, o Fórum da Cidadania se apresentava como extracorporação, voltado ao conjunto da sociedade.
Não deixava de ser um paradoxo o fato de o Fórum da Cidadania romper os grilhões do corporativismo arraigadamente exclusivista. A situação contrariava completamente o conceito de que lideranças corporativas jamais deixariam de pensar e agir — afinal — corporativamente. Sim, porque o Fórum da Cidadania era um conglomerado de organizações da chamada sociedade civil, cuja história de enclausuramento ajuda a explicar muitas das agruras pelas quais a região passa.
A simples aproximação de entidades díspares, levadas a debater temários voltados ao conjunto da população, significava surpreendente mudança cultural. A fase de encantamento e de combatividade do Fórum da Cidadania permitia até que se descuidasse do essencial — que consistia em não deixar escapar a oportunidade de dar à sociedade densidade com frondosas ramificações, ultrapassando, portanto, os muros corporativos.
O deslumbramento do Fórum da Cidadania foi erro capital. Sem gerenciamento profissional, recomendado a movimentos que se pretendam perenes porque voluntarismo é emocionante mas imprevidente, a entidade começou a sentir escapar pelos dedos a onda de catalização das lideranças.
A substituição anual do coordenador-geral, aplicando-se a democracia rotativa e demagógica de contemplar líderes de diferentes atividades, fragmentou a trajetória que se exigia fosse contínua. Principalmente porque o Fórum abdicou dos primeiros tempos de controle das plenárias exercido por um grupo de formuladores do projeto e caiu na gandaia de um democratismo improdutivo.
Que tipo de democratismo é esse? Simples: o transatlântico de representações corporativas que se enquadraram no formato dos projetos do Fórum da Cidadania começou a afundar em meio a tempestades de múltiplas demandas temáticas, geralmente pontuais. Como se fosse dotado de superpoderes e contasse com infra-estrutura material e humana de uma grande empresa privada que costuma planejar e executar seguindo cronograma específico, o Fórum da Cidadania avocou para si problemas os mais variados, enredando-se numa teia de compromissos sem a contrapartida de realizações.
Da pretendida reforma do Judiciário até o Banco de Idéias, passando por tantas outras propostas às vezes megalomaníacas que jamais foram convertidas em práticas, o Fórum da Cidadania esqueceu a lição de casa de recorrer à releitura da Carta do Grande ABC e à série de propostas para reconstruir uma região que já dava sinais de exaustão. Quis salvar o País e se esqueceu de suas próprias obrigações diante da realidade que estava à vista de todos.
Com aval editorial do Diário do Grande ABC até por volta do ano 2000, o Fórum da Cidadania perdeu a sensibilidade de identificar falhas na arquitetura teórica e prática das propostas. Diferentemente do Conselhão do presidente Lula da Silva, bombardeado pela mídia, pela classe política, por cientistas sociais e por todos que consideram a instância uma ameaça ao Congresso Nacional, as discordâncias sobre o modelo de concepção do Fórum da Cidadania eram abafadas. Não convinha expor publicamente, especialmente por agentes políticos, o quanto o Fórum da Cidadania causava de inquietação como possível instrumento político-eleitoral paralelo. As hostilidades entre integrantes do Fórum da Cidadania e os prefeitos eleitos em 1992, entretanto, mal se disfarçavam. Tanto que no lançamento da entidade nenhum chefe de Executivo participou da festa.
A idéia de que o Fórum da Cidadania era a oitava maravilha do mundo se solidificou nos dois primeiros anos, mas o roteiro começou a se alterar a partir de 1997, quando novos prefeitos passaram a ocupar os Paços Municipais. Especialmente Celso Daniel, Maurício Soares e Luiz Tortorello que, em 1988, eleitos prefeitos pela primeira vez, construíram coletivamente o Consórcio Intermunicipal. Eles voltariam para revitalizar o Consórcio, incomodados pelas pressões do Fórum da Cidadania.
A competição institucional se instalou no Grande ABC. O Fórum da Cidadania fez o Consórcio ressurgir com toda força e a criação da Câmara do Grande ABC em 1997 — espécie de associação entre Consórcio de Prefeitos e Fórum da Cidadania com a participação tripartite do governo do Estado — moldava um Grande ABC dos sonhos. Anos férteis se previam.
A derrocada do Fórum da Cidadania que começou com o deslumbramento precoce vinculado ao voluntarismo gerencial agora alcançava um terceiro vértice: a perda do sentido de criticidade. Isso aconteceu a partir da aproximação incontida de suas lideranças e de vários liderados dos agentes políticos e assessores técnicos da Câmara Regional e do Consórcio de Prefeitos. O Fórum da Cidadania perdeu a modéstia de entender que seu peso como instrumento de pressão se esfacelaria na medida em que, a título de colaboração, se juntasse aos tomadores de decisão.
Ao deixar a função animadora do processo de transformações para juntar-se à operacionalidade prática, o Fórum da Cidadania submergiu. Sobretudo porque não contava com peças de reposição para manter acesa a chama e mesmo a independência nas assembléias. Antes disso, entrou no desvio da quantidade acima da qualidade, ao elevar excessivamente o número de associados. Foi assim que o Fórum da Cidadania perdeu de vez o foco já pouco luminoso porque as assembléias eram torres de Babel.
Como desgraça pouca é bobagem, vários representantes de importantes entidades acabaram se afastando das plenárias, irritados com a falta de resultados que já se pronunciava e também porque acabaram seduzidos pelos novos prefeitos para exercer atividades públicas. Sem contar aqueles que se dispersaram porque encontraram barreiras para ascenderem na hierarquia informal.
O gradual esvaziamento das plenárias nos tempos de Marcos Gonçalves — paradoxalmente motivado pelo excesso de participantes e também pelo esgarçamento temático — foi acentuado na gestão seguinte de um Silvio Pina não apenas pouco habilidoso em administrar conflitos como pródigo em industrializá-los.
Não foi só. Ao Fórum da Cidadania também faltou jogar limpo a questão político-eleitoral. Trabalhou-se o tempo todo nas assembléias que o movimento era suprapartidário e que a discussão político-partidária não teria espaço porque feriria o regulamento. Quando Marcos Gonçalves e Fausto Cestari anunciaram candidaturas a deputado federal e deputado estadual em 1998, uma bomba caiu na cabeça de muitos associados, que se sentiram traídos por duas lideranças que sistematicamente negavam qualquer interesse pelas urnas partidárias.
Certamente o efeito seria outro se o Fórum da Cidadania, que nasceu esmurrando a classe política, fizesse da transparência um mandamento sagrado. Se já havia um coquetel de razões para a entidade provocar desconfianças, o sentimento de traição se tornou letal. Nem Marcos Gonçalves nem Fausto Cestari se elegeram. Pior: ficaram muito distantes dos votos necessários para conquistar cadeiras de parlamentares. Daí derivou outra constatação desagradável aos deslumbrados que acreditavam nos poderes miraculosos do Fórum da Cidadania: o movimento não conseguiu enraizamento social que lhe permitisse acalentar o sonho de ter representantes no Legislativo estadual e federal.
Dois anos depois o também ex-coordenador Silvio Pina decidiu testar a popularidade ao candidatar-se à Prefeitura de Santo André. Celso Daniel recebeu mais de 250 mil votos, o forasteiro Celso Russomanno chegou a 80 mil e Silvio Pina a míseros 15 mil.
Na edição de fevereiro de 1999, escrevi para a revista LivreMercado análise sobre o Fórum da Cidadania com o título “Um pato que vai voltar a ser fera?”. Tudo porque pato anda, pato nada, pato voa, pato corre, mas não executa nenhuma dessas tarefas com competência porque troca o foco pela dispersão.
O sucesso retumbante do Fórum da Cidadania seguido de fracasso gradual e aparentemente solidificado remete o conceito de institucionalidade do Grande ABC para um beco de difícil saída. Afinal, enquanto se desintegrava uma entidade que chegou a agregar pelo menos os comandantes de algumas dezenas de entidades econômicas, sociais e culturais, as representações políticas encrustradas nos respectivos Paços Municipais se articulavam. O que se tem hoje no Grande ABC, mesmo com os percalços da Agência de Desenvolvimento Econômico, do Consórcio de Prefeitos e principalmente da Câmara Regional, é o Poder Público navegando em águas plácidas. O Fórum da Cidadania é incapaz de qualquer marola que coloque em xeque os gerenciadores públicos municipais.
Se fosse um produto para consumo, o Fórum da Cidadania do Grande ABC provavelmente seria descartado das gôndolas. Carrega um passivo de imagem depreciativa muito maior que o ativo inicial que só os incautos imaginavam indestrutível. O embicamento do Fórum da Cidadania chegou ao extremo de não sustentar milagres. A sobrevida está a cargo de um grupo de remanescentes dos tempos menos gloriosos. Os tripulantes e passageiros das viagens condecoradoras dos dois primeiros anos há muito tempo encontraram portos seguros. Uma nova entidade poderá ingressar na agenda regional, desde que aposente a denominação já estigmatizada e seja pautada principalmente pela quebra de paradigmas temáticos que infestam as entidades locais. Preferencialmente, que esteja antenadíssima ao quadro socioeconômico do Grande ABC sem qualquer resquício de triunfalismo. Também se espera que não caia na armadilha da ingenuidade de considerar possível que o grau de conhecimento e de aplicação de terapias radicais será atendido quando se coloca no mesmo ambiente de discussões e proposições entidades como a dos criadores de passarinhos. Volume só é interessante quando o objetivo das urnas eleitorais é o deus supremo.
A qualidade de vida do Grande ABC de antes do Fórum da Cidadania surgir não estava tão precarizada quanto os níveis atuais. O empobrecimento da região é particularmente mais severo que os efeitos maléficos da descentralização industrial cada vez mais persistente em direção principalmente a três grandes cidades-metrópoles do Interior de São Paulo — Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.
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01/04/2003 Quando a guerra fiscal está à sombra de tudo