Há ao menos duas verdades sobre a transferência voluntária de recursos federais aos sete municípios da Província do Grande ABC, mas apenas uma é ressaltada: de fato, São Bernardo do prefeito petista Luiz Marinho deu um salto extraordinário nos dois últimos anos, entre outros motivos porque, ao contrário do prefeito de Santo André, Aidan Ravin, preparou-se e planejou-se para isso. A segunda verdade é escondida possivelmente sob o manto da idiossincrasia eleitoral: São Bernardo, Santo André e Mauá receberam nos últimos oito anos menos do que deveriam, numa comparação com os demais municípios da região.
Quanto à primeira verdade, há forte influência de relacionamento político-administrativo entre o prefeito de São Bernardo e o staff do governo Lula da Silva, agora no governo Dilma Rousseff. Nada mais natural, acreditem. É assim que se movem aproximações com resultados aparentemente privilegiados mas, exatamente por formarem padrão de comportamento em todos os governos, em governos de todas as cores, deve-se chamar o modelo de preferência natural.
Algo como um pai que se dedica mais ao filho próximo do que ao ausente, ou da mãe que cuida mais dos seus do que os dos outros.
De todas as cores
Os jornalões estão cansados de publicar matérias que mostram a tonalidade das cores dos investimentos de recursos estaduais e federais no País como um todo, a beneficiar agremiações mais íntimas dos interesses consolidados do passado e dos anseios presentes e futuros.
É assim que sempre foi e provavelmente sempre será a distribuição de dinheiro público — como a intensidade de afeto entre parentes próximos em contraste com estranhos incômodos. Lutar contra a realidade é pura demagogia. Até porque se aponta o rabo de terceiros e se esquece do rabo próprio.
O reforço federal que a Prefeitura de São Bernardo conseguiu principalmente nos dois últimos anos dos três já consolidados da Administração Luiz Marinho foi plantado antes de o petista tomar posse, após ganhar as eleições em 2008.
A então executiva de ponta do governo Lula da Silva e um pouco depois nomeada ministra também de ponta de Dilma Rousseff, Miriam Belchior, ex-mulher e ex-secretária de ponta do governo-espelho do petismo nacional, Celso Daniel, ficou plantada durante dois meses na região para contribuir com conhecimento técnico e político na organização de uma rede de projetos que resultassem em liberação de dinheiro federal.
Governo obreiro
Juntou-se a fome da vinculação quase compulsória de maiores recursos às bases aliadas com a vontade de comer de estrutura técnica bem acabada para Luiz Marinho fazer o governo obreiro que se vê, a chocar uma oposição quase paralisada, entregue à própria sorte de fugir da disputa eleitoral do ano que está chegando ou ficar para ser desmoralizada com acachapante derrota no primeiro turno.
Quanto à segunda verdade, que dimensiona o tamanho dos resultados individuais de repasses de recursos públicos federais voluntários aos municípios da Província do Grande ABC, vou fazer um certo suspense: deixo para a edição desta terça-feira uma numeralha interessantíssima, para provar que Santo André, São Bernardo e Mauá estão bem aquém dos demais endereços da região quando se apanham todas as transferências nos últimos oito anos, desde 2004, conforme quadro divulgado na edição de domingo do Diário do Grande ABC.
O problema da matéria do Diário do Grande ABC, que trata como novidade o que é corriqueiro, ou seja, a preferência partidária no atendimento das demandas de governos de todos os matizes, é que deixou de enxergar o óbvio, que explicaremos amanhã.
Podem ter certeza os leitores: valerá a pena esperar. O que posso antecipar é que, se continuar essa corrida frenética em busca de dinheiro federal, Luiz Marinho conseguirá, finalmente, colocar São Bernardo à altura da importância regional na Província do Grande ABC. Resta saber se a Santo André da indolente administração petebista e a Mauá sempre desprezada conseguirão o mesmo.
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07/03/2025 PREVIDÊNCIA: DIADEMA E SANTO ANDRÉ VÃO MAL