O prefeito Marcelo Lima precisa dar um jeito no que parece não ter jeito, mas tem jeito sim: mande o secretário de Desenvolvimento Econômico Rafael Demarchi calar a matraca de lorotas. Afinal, cada vez que o subordinado abre a boca para preparar um prato requentado de frango estatístico com polenta especulativa só sai besteira.
Garantir como o secretário garantiu ainda outro dia que o saldo líquido de empregos formais em São Bernardo após quatro anos de mandato de Marcelo Lima alcançará 100 mil trabalhadores é o fim da picada. É algo como estar no fim da fila de um restaurante self-service, aguardar durante longo tempo e quando chega a vez de preparar o prato, a comida acabou.
O leitor está convidado a entender a razão de dizer com segurança que o secretário Rafael Demarchi endoidou de vez. É possível que ele sofra da Síndrome de Holofotes. Basta lhe dirigir uma câmera de televisão e ele desanda a dizer bobagem. Foi assim na primeira entrevista ao podcast ABC-EM-OFF. Foi assim a um podcast do Diário do Grande ABC.
LEALDADE CUSTA CARO
O preço da lealdade de alçar à Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo um político sem qualquer preparo para lidar com os desafios da Capital Econômica do Grande ABC é um erro crasso do prefeito. Pior que isso é achar que o secretário tem jeito para a coisa. Pau de vácuos de conhecimento que nasce torto não tem jeito, morre torto.
Não se ensina um analfabeto em economia municipal do dia para a noite. Muito menos quando não há quem o advirta. Pior que isso: há um séquito de mandachuvinhas que o aplaudem. A consagração de mentiras parece fazer parte do cardápio de todos os agentes públicos dispostos a testar a negligência da sociedade servil e desorganizada.
Seria uma conquista fantástica São Bernardo registrar novos 100 mil empregos em 48 meses. A possibilidade existiria se descobrirem nos mananciais que recheiam a geografia de São Bernardo uma área extensa à exploração de petróleo, diamantes ou algo do gênero, e que, portanto, transformasse a cidade em Serra Pelada. Já imaginou as águas da Represa Billings transformadas em ouro líquido e exploradas por multinacionais? Só assim mesmo seria possível recuar no tempo das montadoras e autopeças ávidas por investimentos locais.
Rafael Demarchi pode estar escondendo algo do tipo ou precisa mesmo de um corretivo em nome da responsabilidade social?
SOCIEDADE ENGANADA
Para quem não tem sensibilidade do que representa uma declaração de gestor público, a declaração de Rafael Demarchi pode parecer coisa banal. Não é assim. A sociedade ainda acredita em gente que ocupa cargos relativamente relevantes. Isso significa um perigo.
Quem não se lembra das mentiras que o Clube dos Construtores propagou ao longo dos anos na região, com falsificações nos balanços de imóveis? O excesso de oferta e a retração da demanda proporcionaram elevadíssimos estoques e muita inadimplência.
Rafael Demarchi sapateou nos dados incompatíveis com a pregação do gigantesco saldo. Em dezembro do ano passado, o estoque de trabalhadores com carteira assinada em São Bernardo registrava 290.851 trabalhadores. Seria, portanto, um crescimento relativo de 30% sobre o estoque para que a projeção do secretário destrambelhado se concretizasse. Não há caso próximo disso em situação de normalidade em qualquer geografia do País.
O passado não recomenda sequer metade do que o secretário Rafael Demarchi sugere com um sorriso no rosto. Ele fez a declaração durante uma entrevista na versão eletrônica do Diário do Grande ABC. Disse mais sobre o que não conhece, mas isso tudo é menos importante. A emblemática do abuso econômico vale muito mais.
AOS DADOS, LEITORES
O passado medido a partir de 2014, ou seja, exatamente uma década, não dá o menor respaldo ao secretário de São Bernardo. Em 2014, ano que antecedeu o período mais devastador da economia de São Bernardo, com Dilma Rousseff de presidente, eram 292.028 carteiras assinadas em São Bernardo. Exatamente 1.177 postos de trabalho acima do registrado na ponta da comparação, o 2024 - de 290.851 empregos formais.
A pergunta elementar está posta: como uma cidade que em 10 anos completos não criou saldo de empregos nas atividades econômicas (e que perdeu nesse período milhares de postos de trabalho no setor industrial, força-motriz da economia local) registrará saldo adicional de 100 mil em quatro anos?
Nessa década sob análise do emprego geral em São Bernardo, é preciso considerar três cenários distintos. No período de 2015-2016, que marcou a maior recessão da história da região, com São Bernardo na ponta, houve perda líquida de 39.739 postos de trabalho quando comparado ao estoque de 2014. Média mensal de 1.655 demissões líquidas por mês. O estoque de trabalhadores era de 292.028 em 2014 e passou para 252.289 em dezembro de 2016.
MAIS NÚMEROS
Entre 2017 e 2020, período do primeiro mandato do prefeito Orlando Morando, São Bernardo registrou déficit de 5.443 trabalhadores, correspondente ao período que compreende janeiro de 2017 e dezembro de 2020. No quadriênio seguinte, de janeiro de 2021 a dezembro de 2024, São Bernardo registrou saldo positivo de 44.005.
Traduzindo os dois mandatos de Orlando Morando: no primeiro houve perda líquida mensal de 113,39 postos de trabalho. No segundo mandato, houve ganho líquido de 916,77 empregos a cada mês.
No balanço dos dois mandatos de Orlando Morando, período de 96 meses, o saldo positivo registrou 38.562 contratações líquidas, ou 401,68 a cada mês. Uma situação bem melhor quando o recorte abrange o período de janeiro de 2015 e dezembro de 2024, quando São Bernardo contabiliza a perda líquida de 1.177 trabalhadores com carteira assinada, média mensal de 58 empregos. Os anos antecedentes à posse de Orlando Morando, no caso os dois últimos anos do governo Dilma Rousseff, foram mesmo dilacerantes.
A compreensão das dificuldades que o prefeito Marcelo Lima vai encontrar para somar 100 mil empregos em 48 meses, o que significaria média mensal de 2.083 trabalhadores, é que não encontrará base de comparação satisfatória.
O que isso significa? Significa que São Bernardo e o Grande ABC como um todo, além do próprio País, vêm num processo de aumento expressivo do mercado de trabalho. Mas as projeções dão conta de que haverá arrefecimento. O desaquecimento da economia é uma das saídas para abrandar a inflação, reduzir os juros e evitar, com isso, o esgotamento do poder de compra. Fatores macropolíticos nem devem ser contabilizados para evitar mais inquietações.
CRESCIMENTO CONTÍNUO
Desde 2021, após a epidemia do Coronavírus, o estoque de empregos formais de São Bernardo vem crescendo, principalmente na área de serviços. Em 2020, quando explodiu a Covid-19, São Bernardo contava com 246.846 carteiras assinadas. No ano seguinte passou para 262.693, em 2022 registrou 274.785, em 2023 subiu para 279.711 e em 2024 chegou a 290.851. Um acrescimento quadrienal de 44.005 trabalhadores -- exatamente, repita-se, durante o período do segundo mandato de Orlando Morando. A média mensal desses quatro anos, de 916,77 postos de trabalho, corresponde a apenas 34,22% do necessário para o prefeito Marcelo Lima festejar a projeção do secretário Rafael Demarchi.
Basta fazer as contas: os 2.083 de média mensal resultante dos 100 mil empregos em 48 meses do mandato de Marcelo Lima são quase três vezes mais que os 916,77 empregos mensais gerados nos últimos quatro anos de Orlando Morando. Essa recuperação foi moderada quando se confronta com as perdas anteriores, bastante agressivas.
O mercado de trabalho em São Bernardo e em qualquer lugar do mundo não é um passe de mágica que ganha tração num piscar de olhos. Principalmente quando já vem de um passado recente de recuperação sobre os números duramente negativos.
NÚMEROS ESTÁVEIS
Ou seja: Marcelo Lima encontra uma São Bernardo relativamente estável no mercado de trabalho, praticamente zerado entre perdas e ganhos durante os últimos 10 anos de tormentosas oscilações. Haverá picos menos expressivos, bem como perdas igualmente mais suaves.
Gerar em média 25 mil empregos a cada ano é um exagero. O secretario Rafael Demarchi é abusado nas projeções marqueteiras. Ele provavelmente já dá como certo e definido que a Prologis, que pretende instalar um mega condomínio logístico onde operava a desistente Ford do Brasil, teria um complexo que somaria 25 mil trabalhadores. Portanto, um dos quatro anos já estaria garantido para confirmar a previsão. Outros condomínios logísticos que se instalariam em São Bernardo também contribuiriam muito.
Como se vê, São Berardo de trânsito interno infernal e a cada nova temporada freguesa de caderneta da Grande Osasco nos desdobramentos do Rodoanel, encontrou uma poção milagrosa para se tornar Capital dos Condomínios Logísticos. É demais. Nem o novo papa que surgirá por esses dias seria capaz de salvar o secretário Demarchi.
O QUE ESTÁ FALTANDO
Considerando-se os resultados já conhecidos dos dois primeiros meses de mandato de Marcelo Lima, números oficiais do Ministério do Trabalho, São Bernardo soma saldo de 2.554 postos de trabalho. Dividindo-se o total pelos dois meses da temporada, a média mensal é de 1.277. Como faltam 46 meses a serem apurados, São Bernardo precisará de média mensal de 2.146 empregos formais para alcançar a projeção do secretário Rafael Demarchi. Há, portanto, 98.723 empregos a serem documentados. Vamos acompanhar atentamente o balanço do empregômetro e do desempregômetro em São Bernardo e na região. Como sempre.
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