Administração Pública

Aidan faz marola para tentar
encobrir vácuo econômico

DANIEL LIMA - 06/01/2012

O prefeito Aidan Ravin está mal orientado ou faz parte de um coro de malucos na Prefeitura de Santo André: diante da ausência de ações efetivas direcionadas ao desenvolvimento econômico (uma missão árdua, deve-se ressaltar, porque a Província do Grande ABC não atrai investimentos produtivos de monta em larga faixa de seu território), desfila conceitos equivocados para dar suporte a estudos de alguma importância, gestados por assessores ávidos por reconhecimento.

Deu em alguns jornais da região, sempre omissos quando se exige interpretação e esclarecimentos, que Santo André vai gerar nove mil empregos e exportar R$ 1,15 bilhão nesta nova temporada. Números provavelmente verdadeiros, porque os formuladores do trabalho teórico, com assento no DISE (Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos) da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho são mais efetivos do que o próprio titular da pasta.

Aliás, a impressão que se transmite é que secretário e integrantes do DISE vivem mundos diferentes. O primeiro, alienígena (terceiro a ocupar o cargo na gestão Aidan), não tem a menor ideia da função que ocupa, enquanto os assessores estatísticos vivem no mundo da ilusão, porque abrem o painel virtual de dados e se imaginam controladores de voos.

Tanto o universo de empregos com carteira assinada quanto os embarques e desembarques de produtos e serviços não querem dizer nada sem contextualização, mercadoria em falta no ambiente de estudos do DISE, como tantos outros dados e informações.

No fundo, no fundo — e essa prática é defensável como ferramenta de marketing da atividade pública, embora inoperante como resultado prático — o que se pretende é, de alguma forma, dar algum sopro de vida a uma atividade desfalecida em Santo André: o desenvolvimento econômico não consta da pauta de prioridades da Administração Aidan Ravin como não constou da pauta de seu antecessor, o petista João Avamileno.

Glamourização inútil

A diferença é que a assessoria de João Avamileno não criou um monstro propagandístico para enfeitar o pavão com embromações que, repito, respeito apenas como alguém que entende a necessidade de se tentar vender um peixe que não existe, o peixe da retomada desenvolvimentista de Santo André, mas que rejeito e espicaço como jornalista, porque não compro gato por lebre.

Resumidamente, o material publicado como informação jornalística, embora com nítidos indícios de press-release, ou seja, redigido pela própria fonte, no caso a Prefeitura de Santo André, é algo que se enquadraria no conceito popular de “me engana que eu gosto”.

A Administração Aidan Ravin toma para si e mesmo assim com resultados constrangedores alguns dados econômicos cuja relação de causa e efeito com as decisões locais tem o mesmo grau de intimidade dos resultados obtidos pela China e a gestão de Kiko Teixeira na Prefeitura de Rio Grande da Serra.

Não faltam incautos que compram essas bobagens estatísticas que subliminarmente tornam a Prefeitura de Santo André gestora de decisões macroeconômicas nacionais e internacionais, e que procuram elevar o prefeito Aidan Ravin ao patamar de herói nacional.

Caso dos valores de importação e exportações, desfavoráveis à balança comercial de empresas sediadas em Santo André. Ou mesmo na geração de empregos, quando propositalmente se omite a carga de carteiras assinadas no setor industrial simplesmente porque seria brochante. A economia de Santo André é cada vez mais voltada ao comércio e serviços, de baixo valor agregado, o que provoca a evasão de cérebros. Como provam os fluxos viários de excesso de veículos em idas no início do dia e de vindas no final da tarde.

Obstetra, o prefeito Aidan Ravin não tem conhecimento algum de economia, exceto em determinadas atividades que não estão em debate neste texto. Pois mesmo assim, ou seja, mesmo com esse déficit de apetrechamento intelectual específico (ninguém é obrigado a saber de tudo, embora o gestor inteligente deva tomar todos os cuidados quando penetra em seara alheia), Aidan Ravin resolveu participar da matéria publicada por alguns jornais. Vejam o que disse:

bullet_quadrado Tudo indica que teremos mais um bom ano para a economia de Santo André. Nos últimos três anos, foram gerados na cidade 28.860 empregos com carteira assinada. A criação de empregos formais reflete a boa fase da indústria, do comércio e de serviços e contribui para manter nossa cidade em quinto lugar no ranking estadual do potencial de consumo, com PIB de aproximadamente R$ 16 bilhões.

Próprio umbigo

Perceberam os leitores que o prefeito de Santo André circunscreve a análise da conjuntura econômica do Município aos últimos três anos, apenas, coincidentemente desde que assumiu o Paço Municipal?

Como se tivesse perpetrado série de iniciativas na área a ponto de provocar uma revolução. Bobagem, bobagem, bobagem. A administração de Santo André na área de Desenvolvimento Econômico é pífia. Os resultados são inerciais e descolados da agenda municipal. Até porque, convenhamos, não existe agenda municipal. Tampouco regional.

O primeiro secretário escolhido pelo prefeito foi defenestrado pouco depois de um ano de cargo sem apresentar sequer um resultado prático, tomado pela burocracia interna e também por um projeto de guerra fiscal fora do tempo. Acabou substituído por um desconhecido na área, cuja identidade nem vale a pena citar. Agora a secretaria está sob novo titular. Igualmente um peixe fora dágua econômica.

Quanto ao conceito de potencial de consumo esgrimido pelo prefeito Aidan Ravin, correlacionando-o com a quantidade de mão-de-obra empregada, convém lembrar que Santo André, assim como todo o Grande ABC, vem acumulando, ano após ano, uma dura experiência de rebaixamento nesse indicador, tanto em nível municipal quanto nacional. Não serão empregos de baixo rendimento, caso do padrão de remuneração regional, que refluirá uma tendência que se consolida.

Além disso, potencial de consumo não é o principal indicador de qualificação econômica de um Município porque reúne armadilhas interpretativas. Na realidade, faz parte de uma cesta básica de instrumentos que deveriam ser monitorados permanentemente. Já escrevemos muito sobre isso.

Voltaremos à economia de Santo André nos próximos dias. Só não me peçam planejamento estratégico para a cidade. Não precisaria de mais de duas horas para organizar as bases de um legado mínimo que a Administração Aidan Ravin não soube produzir.

Mas, no fundo, no fundo, seria pouco útil. A regionalidade tem um peso marcante no processo de sedução de investimentos produtivos. Alguns projetos isolados, como se observam em São Bernardo, principalmente, prometem resultados satisfatórios. Mas tudo seria potencialmente maior se a Província do Grande ABC contasse com arcabouço institucional coletivo.

Metade do que se gasta com a Universidade Federal do Grande ABC numa única temporada seria suficiente para definir as bases da reestruturação econômica regional.

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