Com o título provisório de “Mortos-Vivos”, vou antecipar aos leitores de CapitalSocial o primeiro capítulo do livro que estou preparando sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel. Será editado neste 20 de janeiro, exatamente a data em que há uma década foi encontrado o corpo daquele que seria um dos ministros-chave do governo Lula da Silva. Os demais capítulos terão a forma impressa e se manterão nessa condição por bom tempo.
Decidi levar aos leitores o primeiro capítulo de “Mortos-Vivos” porque não se pode desperdiçar a data que marcará 10 anos de desaparecimento físico daquele que foi com sobras o melhor prefeito regional da Província do Grande ABC. Tampouco poderia passar em branco o aniquilamento social do primeiro-amigo de Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva.
“Mortos-Vivos” começa com o último jantar dos amigos Celso Daniel e Sérgio Gomes, num restaurante de São Paulo, na noite de 18 de janeiro, uma sexta-feira. Coincidentemente, foi naquela data, de manhã, que iniciei a narrativa de “Complexo de Gata Borralheira”, um livro que acabei por lançar três meses depois, na noite de 16 de abril no Teatro Municipal de Santo André, em homenagem póstuma a Celso Daniel.
Quando afirmo que Celso Daniel foi o maior prefeito regional, tenho de recorrer à explicação. Celso Daniel pode não ter sido o melhor prefeito de Santo André, mas foi o único na história dos sete municípios a dedicar-se para valer e mais intensamente às questões regionais.
Com Celso Daniel a Província do Grande ABC era Grande ABC. A mediocridade reinstalou-se em forma regional depois que ele se foi.
Possivelmente o leitor estará indagando a razão de ter escolhido “Mortos-Vivos” como título provisório. Explico: os protagonistas da obra vão completar 10 anos de desaparecimento. Celso Daniel morreu fisicamente mas vive com um legado de regionalidade e de redefinição do papel do gestor público que enrubesce todos aqueles que não conseguem seguir seus passos à frente de prefeituras. Sérgio Gomes, o primeiro-amigo, vive fisicamente mas morreu socialmente, vítima de um dos incidentes mais complexos da historiografia criminal do País.
Sérgio Gomes da Silva foi apontado pelo Ministério Público como um dos mandantes do crime naquilo que se configurou autêntica barbeiragem. Tanto que três investigações da Polícia Civil e uma da Polícia Federal jamais encontraram qualquer entranhamento entre o sequestro seguido de morte e as supostas irregularidades na Prefeitura de Santo André.
Enfrentando tudo
A leitura rotativa desta revista digital me obriga a algumas repetições, porque não é todo mundo que recorre ao banco de dados disponível a um simples clicar no mecanismo de busca. Ao longo dos anos escrevi mais de dois milhões de caracteres sobre a morte de Celso Daniel. Desafiei o Ministério Público, bati para valer no oportunismo dos irmãos da vítima, critiquei para valer a cobertura jornalística imprecisa, parcial e perniciosa da maioria da mídia. Tudo fundamentado com informações e provas.
A história sobre o assassinato de Celso Daniel, meus posicionamentos e tudo o mais foram momentos especiais. Não tenho o direito a lamentações por conta das retaliações. Ainda sofro por remar contra a maré ensandecida tanto de gente com fundamentos imprecisos à negativa das investigações policiais como da maioria bovinamente opositora dos fatos.
Quando optei por jornalismo, não me passou pela cabeça o colunismo social. E isso, também no caso Celso Daniel, tem um preço elevado a pagar. Estou pouco me lixando. Aguardem, portanto, o primeiro capítulo. E rezem para que possa terminar a obra. Que dificilmente terá a confirmação do título provisório, embora preciosamente adequado à narrativa.
Escrevo ainda nesta semana sobre o reaparecimento de Bruno José Daniel Filho, que está de volta ao Brasil. E também sobre um encontro casual com uma das irmãs de Celso Daniel, Elisabete.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP