Se os oposicionistas de São Caetano, conglomerado de dissidentes do PMDB e de aliados petistas, pretendiam trabalhar suposta subalternidade da secretária especial da administração José Auricchio Júnior, provavelmente perderam o discurso. Regina Maura Zetune, a mais que provável indicada a manter o Paço Municipal sob controle do PTB historicamente comandante da administração em São Caetano, mostrou que não está para brincadeiras nem aceitará minimizações subliminares ou não de gênero. É mulher arretada.
A imagem de que Regina Maura não passaria de extensão passiva do atual prefeito, cultivada pelos oposicionistas como processo de fragilização da candidata, deu com os burros nágua. Sobretudo porque o provável candidato peemedebista, vereador Paulo Pinheiro, passou recibo. E quem passa recibo não tem o direito de espernear, porque acaba por colaborar com a disseminação do que tanto pretendia asfixiar.
Vou explicar do que se trata para que os leitores se situem melhor e mais convenientemente na avaliação do caso.
Deu na Imprensa regional que o pré-candidato do PMDB em São Caetano, Paulo Pinheiro, se irritou com as declarações de Regina Maura numa postagem no Facebook. O que disse Regina Maura? “Queridos amigos, o foco não é o Chalita, mas seus patrocinadores: Michel Temer e Baleia Rossi. Esses são o grande perigo. O problema é quererem repetir seus métodos em Sanca (São Caetano). O Chalita é uma ótima pessoa, concordo. O problema é que vem dominado por vorazes e famintos lobos. Quem banca, cobra depois…”.
Bola nas costas
O que poderia ter-se limitado à audiência restrita ganhou dimensão e escala maiores porque Paulo Pinheiro se sentiu ofendido e retrucou: “Em vez de se preocupar com o PMDB, ela deveria cuidar dos presidentes estadual e nacional do partido dela”.
Esse primeiro round da possível disputa de dois prefeituráveis foi vencido por larga margem por Regina Maura. Mesmo ao cometer o deslize de manifestar-se pessoalmente na rede social, quando poderia tranquilamente dar o recado através de terceiros, acabou se recuperando amplamente porque Paulo Pinheiro mordeu a isca na tentativa de preservar parceiros de partido.
Regina Maura se apresentou como um cobrador de pênalti que acerta a trave e Paulo Pinheiro de goleiro que ao saltar transformou os costados em ponto de apoio para a bola resvalar e chegar às redes.
Mais até que a mais que provável abertura de novos tempos de relacionamento verbal na disputa eleitoral em São Caetano, Regina Maura foi certeira numa tática que possivelmente será martelada o tempo todo num Município reconhecidamente conservador e que presenteia o prefeito José Auricchio Júnior com estratosféricos números de aprovação administrativa. De que se trata afinal? De que a oposição provocaria complicações na gestão do Município.
Quem conhece minimamente o pulsar do coração da população de São Caetano, quem tem o mínimo de informações sobre a batida do pé direito e do pé esquerdo de cada morador, quem frequenta o comércio do centro ou dos bairros, quem respira aqueles 15 quilômetros densamente ocupados, sabe que se há algo que interfere diretamente no sistema imunológico da cultura local é a possibilidade de abrir a guarda a invasores mesmo que cordiais, mesmo que supostamente colaborativos.
Radares culturais
São Caetano teria radares de interatividade comunitária especialíssimos para detectar objetos eleitorais não identificados em tantos outros municípios, os quais, contrariamente, até se deixam encantar por alienígenas. Basta lembrar que Celso Russomanno, um estranho em Santo André, só não chegou à Prefeitura em 2000 porque enfrentou um Celso Daniel no auge da popularidade.
Regina Maura atirou a lança em direção ao que chamou de lobos porque sabe a força psicológica da mensagem. Possivelmente em nenhum outro Município da Província do Grande ABC “lobos” teria significado tão cortante e aterrorizante. Tanto que Paulo Pinheiro, legítimo espécime de São Caetano, não se conteve após o golpe da adversária. Mais que “quem banca, cobra depois”, o que lhe atingiu o fígado foi Regina Maura sugerir “vorazes e famintos lobos”.
Possivelmente nem nos piores sonhos Paulo Pinheiro foi assaltado pela ideia de que os aliados que está a costurar poderiam ganhar a forma de algo tão selvagem, pronunciado por uma gestora pública que, até então, ao que se sabe, jamais avançou o sinal da adocicação política.
A intervenção de Regina Maura no Facebook, portanto, apresentou duplo petardo. Primeiro porque demonstrou personalidade que se assemelharia ao que se vê em nível federal com a presidente Dilma Rousseff, muito bem avaliada entre os moradores de São Caetano, conforme pesquisa especializada. Segundo porque impingiu uma marca de entreguismo na imagem de quem quer chegar à cadeira ocupada por José Auricchio Júnior.
É verdade que o episódio ainda não ganhou a amplitude que mereceria entre os situacionistas, mas como esse parece ser o tom que será empregado durante a campanha, o que se tem de fato é uma amostra dos próximos embates. Paulo Pinheiro sabe que a senha da campanha eleitoral, que lhe será acrescentada com o provável acordo entre peemedebistas, assemelhados e o PT, não lhe é confortável. Só não acreditava que fosse a própria candidata, até então vista como domesticável extensão política da versão ternurinha da cantora Vanderleia, fosse diretamente a portadora da mensagem.
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