Caso Celso Daniel

Governo Aidan veta homenagem a
Celso Daniel no Teatro Municipal

DANIEL LIMA - 12/01/2012

O Teatro Municipal de Santo André, construído com dinheiro dos contribuintes de todas as cores partidárias, dos indiferentes e de quem detesta política, não foi liberado ao cerimonial de homenagens a Celso Daniel, cuja ausência completará uma década no próximo dia 20. Desculpas esfarrapadas foram repassadas para justificar o encontro deslocado para o Anfiteatro da Fundação do ABC, instituição mantida pelas prefeituras de Santo André, São Bernardo e São Caetano.


Por mais que a Fundação do ABC seja respeitável, o Teatro Municipal de Santo André seria insubstituível. Foi ali, no Paço Municipal, que Celso Daniel surgiu para o mundo político e também onde seu corpo foi velado após a tragédia dos Três Tombos.


O temor de que o evocar do nome de Celso Daniel alimentaria a potencialidade de votos do Partido dos Trabalhadores, com quem volta a concorrer pelo Paço Municipal nesta temporada, levou o prefeito Aidan Ravin a arrumar uma desculpa. O Teatro Municipal estaria em reformas.


Há quem afirme que o prefeito Aidan Ravin não teria sido informado sobre as tratativas de bastidores, enquanto correm versões de que ao chegar até ele, a solicitação foi prontamente descartada. Aidan Ravin teria sentido cheiro de pólvora eleitoral no ar. Como se o fantasma de Celso Daniel tivesse combinado de aparecer no Paço Municipal exatamente 10 anos depois, quando o calendário marca uma nova corrida por votos.


A versão sobre o desconhecimento da programação pelo prefeito tem o propósito de bloquear análises menos condescendentes com o chefe do Executivo, porque Aidan Ravin teria cometido deslize imperdoável ao estender para o campo político uma ação que poderia circunscrever-se ao âmbito humanitário, por assim dizer.


A versão de que bloqueios internos que interditam a vazão de informações ao chefe do Executivo, prejudicando-o sem que ao menos tenha conhecimento das demandas, seria uma maneira de aliviar a barra da escorregadela diplomática.


Campanha eleitoral


Seja o que for — e os encaminhamentos dão conta de que foi sim algo deliberado e de fundo exclusivamente político-partidário – o resultado não poderia ser pior. Aidan Ravin, que se utilizou de legados de Celso Daniel durante a campanha eleitoral de 2008, e que se utiliza de forma caricatural do que sobrou da Cidade Pirelli, deixou escapar uma grande oportunidade de contrapor-se à imagem prevalecente de que Celso Daniel é propriedade do PT.


A perspectiva de o evento realizar-se no Teatro Municipal poderia ter gerado contrapartida ética sem que Aidan Ravin passasse de simples convidado. O cerimonial poderia contemplá-lo, enturmando-o nas homenagens. Nada que aviltasse a memória do homenageado.


Seria absolutamente natural que as negociações para a utilização do Teatro Municipal de Santo André pelos familiares, amigos e admiradores de Celso Daniel contassem com bom senso de tal forma que não se transpirasse política partidária, por mais que a marca Celso Daniel esteja relacionada ao PT. Um cerimonial judicioso resolveria a questão.


Não faltaria boa vontade dos demandantes para um ajuste cooperativo que não ferisse minimamente o ecumenismo social da homenagem àquele cujo legado administrativo de regionalidade ainda é pouco valorizado e reconhecido.


Familiares de verdade


Sabe-se que o evento programado agora para a Fundação do ABC é uma iniciativa de familiares que de fato conviviam com Celso Daniel, não aqueles que, embora do ramo principal, o viram durante muito tempo como um estranho no ninho.


Explico: partiram da mulher de Celso Daniel, Ivone Santana, e da filha do casal, Liora Santana Daniel, a iniciativa do evento, como, aliás, a decisão de levar em dezembro último para a sede do Clube dos Prefeitos um memorial do petista. Os irmãos de Celso Daniel, que a Imprensa, de maneira geral, exclusivisa como únicos familiares do ex-prefeito, ainda não se manifestaram sobre o que farão. Certo, certíssimo, que não se juntarão à Ivone e à filha, porque não as reconhecem como membros da casa dos Daniel. Liora é uma sobrinha desdenhada e Ivone tudo, menos viúva.


A informalidade das relações familiares no País, com número cada vez maior de casais que se juntam mesmo sem estarem juntos num mesmo endereço, vale apenas para os amiguinhos mais próximos. O tratamento discriminatório da mídia sempre instalou Ivone Santana na condição de namorada de Celso Daniel. Não seria agora, tantos anos depois, que seria diferente. Sempre e sempre se referirão a ela como companheira circunstancial do então prefeito. Na classe artística, por exemplo, celebram-se similaridades informais como casamentos badaladíssimos.


Mesmo que não dure mais que uma temporada de verão. A prova mais provada de que Ivone Santana era mais próxima de Celso Daniel do que a família genealógica do então prefeito é que o acervo que se disponibiliza da extraordinária trajetória interrompida por uns bandidinhos pés-de-chinelo é propriedade tanto dela quanto da filha. Os irmãos jamais participaram efetivamente da vida política e pessoal de Celso Daniel, mas foram os primeiros a manchá-la com versões oblíquas sobre a origem e os desdobramentos do assassinato.


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