Há pelo menos duas décadas tenho batido forte, forte mesmo, nas entidades de classe da Província do Grande ABC. Simplesmente porque todas, absolutamente todas, estão congeladas na metade do século passado. Ou seja: esqueceram de se modernizar. São dolorosamente obsoletas. Sofrem de fadiga de material. Desprezam a sociedade que também as desprezam. Submetem-se docilmente às autoridades públicas, que usam e abusam dessas fragilidades. E quando reagem o fazem por razões nada republicanas.
Será que a eleição presidencial na Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), a queridinha do Diário do Grande ABC ao longo dos anos, vai mudar esse quadro ou os candidatos só fazem encenação para conquistar o distinto público de associados?
Estou confiante em respostas positivas sim, depois de acompanhar atentamente todas as entrevistas de Evenson Dotto e Flávio Martins. Mas também, por medida de segurança, não vou botar fé demais nas perspectivas. Os dois concorrentes estão amarrados por interesses atávicos e contam com companheiros de chapas igualmente conservadores. Mudanças não se fazem num piscar de olhos, mesmo que sejam, como é o caso da Acisa e de tantas outras entidades, mudanças mais que tardias.
Um erro que se comete no caso da Acisa é limitar as críticas à atual direção da entidade, a cargo do advogado Sidney Muneratti, ex-executivo da Pirelli
Explico: representação é aquele ar quase de arrogância de pertencer ou dirigir uma entidade, qualquer que seja a entidade, privada, pública, sindical, social. Representatividade é tornar essa representação evolucionária, quando não reformista. Ocupar cargos formalmente disponíveis na praça é uma coisa; transformar essa ocupação em grandes mudanças, mesmo que a partir de pequenas mudanças, faz a diferença.
A obsolescência institucional da Associação Comercial e Industrial de Santo André é uma pedra gigantesca que precisa ser removida nestes novos tempos. Os estragos já se fizeram ao longo de pelo menos duas décadas de intensas perdas da Província do Grande ABC. O compadrio precisa ceder espaço ao contraditório. As críticas fundamentadas não podem estigmatizar seus autores.
Estaria a Acisa (e também outras entidades) preparada de fato para os novos tempos? Será que a politização da linha de atuação da Acisa, prometida pelos dois candidatos, não incidiria em novas patetices, instrumentalizadas para proteger uma classe média conservadora que não se mobiliza por nada, exceto para proteger seus próprios interesses? Será que a remoção da gigantesca pedra de mesmices não provocaria complicações por falta de habilidade de seus executores?
Os candidatos à presidência da Acisa não podem endeusar o passado da entidade como se fosse uma sequência infindável de acertos e clarividências, porque não o foi jamais. A mobilização no começo dos anos 1990, sempre nas páginas do Diário do Grande ABC, contra o aumento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)
Errou a Acisa naqueles tempos e erra agora, como outras entidades, porque o mesmo IPTU jamais foi devidamente monitorado para evitar abusos do Poder Público. Abusos que se aprofundam. Virou estratégia arrecadatória compensadora da dispersão industrial recuperar orçamento diretamente dos contribuintes municipais já estiolados pela carga tributária federal.
Há muito ainda a escrever sobre a disputa eleitoral na Acisa e os reflexos às institucionalidades na Província do Grande ABC. Evenson Dotto e Flávio Martins estão colaborando decisivamente para afastar dos conservadores o cale-se que normalmente tentam impingir quando se apontam as grandes fendas coletivas de uma sociedade quase morta. A Acisa está lavando a roupa suja para um público que provavelmente começará a desconfiar mais dos discursos oficiais que levam os incautos a acreditarem que somos algo diferente de uma Província. Já perdemos tempo demais com lantejoulas verbais e surubas improdutivas.
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21/11/2016 O que Bigucci tem a dizer sobre organização criminosa?