Política

Quem perde e quem ganha com a
saída de Bonome do governo Aidan?

DANIEL LIMA - 06/02/2012

Quem perde, o único que perde, e não adianta espernear porque a perda é evidente, a perda é cristalina, a perda é irrebatível, é o próprio prefeito Aidan Ravin. Os demais candidatos ou pré-candidatos à Prefeitura de Santo André ganham. O tamanho do ganho de cada um vai ser decidido nos próximos meses. Assim como o tamanho da perda de Aidan Ravin.


 


Como até o definitivo em política é provisório, é possível que a temporada pré-eleitoral desenhe uma configuração que destoe dessa projeção. Mas que a saída de Nilson Bonome, primeiro-ministro da Administração Aidan Ravin durante longos três anos, é um choque na governabilidade, não resta dúvida.


 


Esse é o ponto principal da crise na Administração Aidan Ravin: Nilson Bonome garantiu durante bom tempo a governabilidade de um prefeito inexperiente, titular de um único mandato de vereador. Sem juízo de valor sobre os acertos, os erros e as omissões da Administração Aidan Ravin, as relações internas com a chamada máquina de governo e as relações com o Legislativo não desgrudaram dos interesses do Paço Municipal. Diferentemente, por exemplo, dos primeiros 12 meses da Administração Luiz Marinho, enredada pelo bloco oposicionista.


 


Nilson Bonome ganhou o apêndice de primeiro-ministro porque foi o ponto de equilíbrio nos diálogos do Paço Municipal com representantes partidários, secretários, segundo escalão sempre influente no andamento da máquina pública e também com os vereadores. Desprezar esse conteúdo de efetividade funcional é ferir a realidade dos fatos. Não interessa o estilo colocado em prática, mas o resultado final.


 


Aidan Ravin não perde apenas porque se vê desfalcado de um companheiro de várias jornadas, cujo volume do poder decisório avançou na medida em que o pragmatismo de resoluções superava retóricas postergatórias. É claro que o desempenho de Nilson Bonome gerou idiossincrasias internas e externas. O jogo político é pesado. A luta para fixar versões de conveniências sobre fatos é intensa em todos os ambientes corporativos. Na corporação política é maior ainda. Há malabaristas semânticos de todos os calibres. Alguns manipuladores conseguem rebuscar teorias com competência e se tornam oráculos. Outros são amadores na arte do convencimento e por mais que tracem a realidade, sempre serão observados com desconfiança, como embustes. Na política, muitas vezes prevalece o verossímil, não o que é de fato mais verdadeiro.


 


Até a última batalha


 


A Administração Aidan Ravin perdeu até a última batalha de entrechoques a disputa com Nilson Bonome. Prevaleceu o afastamento do primeiro ministro, não a demissão do primeiro ministro.


 


Foi Nilson Bonome que deixou oficialmente e aos poucos de todas as funções que desempenhou na Prefeitura. Uma a uma, ante a paralisia do chefe do Executivo. Tomaram-lhe o poder aos poucos, porque sua liderança incomodava muita gente. Uma tacada que seria perfeita, não fossem os rescaldos: na medida em que Nilson Bonome deixava as pastas cumulativas, os furos nágua apareciam. Substituiu-se o primeiro ministro por ministro algum.


 


Como a previsão é de chuvas e trovoadas na Administração Aidan Ravin, algo que em realidade já ultrapassou o terreno do prognóstico e se instalou na prática, com as últimas barbeiragens nos casos Celso Daniel, Saged e Cidade Pirelli, a imagem de organizador e coordenador de Nilson Bonome começa a flutuar como um fantasma sobre o Paço Municipal. O que ocorrerá nos próximos meses poderá ser ainda mais letal. Quanto mais externamente houver a desconfiança de que com Bonome as crises seriam congeladas, mais o ex-primeiro ministro ganhará pontos.


 


Já se discute até mesmo a possibilidade de Aidan Ravin perder a passagem para um segundo turno inexorável. Mais precisamente, o que se debate fora das quatro linhas das análises enviesadas é até que ponto Aidan Ravin vai ver o prestígio esgarçar-se e, com isso, abrir a brecha para um outro adversário enfrentar o PT na segunda etapa.


 


A alternativa da vice-prefeita Dinah Zeckcer, alçada à condição de substituta de Nilson Bonome em algumas tarefas, provavelmente submergirá com as sacolejadas que se projetam na Administração Aidan Ravin. Há um abismo a separar Nilson Bonome de Dinah Zeckcer, sem que isso seja uma avaliação favorável ou restritiva a um e a outra. São estilos diferentes que dependem do contexto político, eleitoral e administrativo para ganhar maior respeitabilidade.


 


Momento crítico


 


Nilson Bonome deu conta do recado durante três anos com uma mistura de atrevimento interno e discrição pública, quando jamais perdeu a compostura a ponto de transmitir a ideia que os bastidores embalam, ou seja, que mandava quase tanto quanto o prefeito. Talvez o perfil de Dinah, menos determinista, não fertilize um terreno em evidente erupção. Sucesso é a associação de competência e oportunidade. Talvez Dinah Zeckcer não tenha a oportunidade da oportunidade.


 


Considerando-se portanto que Nilson Bonome ganha uma boa parcela das perdas de Aidan Ravin, os demais vencedores são os outros candidatos ou pré-candidatos ao Paço Municipal, casos de Raimundo Salles, Edgard Brandão, Paulinho Serra e Carlos Grana. Esse quinteto vai definir com medidas corretas ou equivocadas o quanto do quinhão dos desfalques de Aidan Ravin cada um ficará. Se houver mais vazamentos no campo do prefeito, dois dos cinco adversários poderão se classificar para o segundo turno. A caixa dágua do Paço Municipal está vazando ininterruptamente e, pelos ventos que a sacodem, deve acusar mais golpes.


 


Há concorrentes de Aidan Ravin que ganharão se atacarem a Administração. Outros ganharão se permanecerem em posições de espectadores privilegiados. Quem vai colocar o guizo no pescoço do gato -- ou seja, quem vai bater para valer em Aidan Ravin -- é a principal indagação a fazer. Dependendo do autor, o tiro poderá sair pela culatra. Ou então, ser certeiro. Esse jogo vai longe.


 


Um exemplo: o calibre do projeto Cidade Pirelli poderá ser fartamente rentável ao vereador Paulinho Serra, que se pretende candidato do PSDB. Outro exemplo: minha intuição diz que Nilson Bonome não vai ser o boi de piranha dos demais candidatos ao assumir o posto de critico maior da atual Administração. Por que boi de piranha? Porque ele é o menos recomendável, pelo menos por enquanto, para desempenhar o papel de algoz da Administração a que servia, porque parecerá ressentimento, deixando portanto a imagem de vítima que pode beneficiá-lo tremendamente. Talvez no futuro próximo Bonome entre em cena por conta de possível degringolada da Administração Aidan, a qual teria todo o direito de capitalizar como prova de governabilidade dos três anos.


 


Voltaremos ao assunto porque, convenhamos, é um prato cheio para quem aprecia especular com os fatos e com as subjetividades da política.


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