O PT conseguiu triplicar o número de prefeituras sob seu comando na Grande São Paulo e já planeja desenvolver uma atuação conjunta dos seus nove prefeitos. Interessado na eleição presidencial de 2002, o partido quer projetar nacionalmente seus programas sociais. O número de cidades pode parecer pequeno, mas no centro dessa região está encravada uma importante vitrine: São Paulo, que coloca a prefeita eleita Marta Suplicy à frente dessa estratégia.
“Todos os prefeitos poderão lançar, no mesmo dia, o bolsa-escola”, observa o deputado João Paulo Cunha, coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral. “Isso é bom porque nos dará visibilidade”. Além da possível repercussão da gestão integrada dos prefeitos, o deputado sonha em aumentar o número de pessoas atendidas pelo projeto, que pode ser adotado em várias cidades simultaneamente. Resta saber o poder de investimento dos futuros prefeitos. Marta Suplicy tem admitido que poderá herdar uma administração de cofres vazios.
As nove cidades que a partir de 1º de janeiro serão administradas pelo PT têm juntas uma população superior a 12 milhões de habitantes, dos quais 9 milhões são eleitores. Além de São Paulo, o partido venceu em Jandira, Embu, Diadema, Rio Grande da Serra e Guarulhos. E governará, pela segunda vez, Santo André, Mauá e Ribeirão Pires.
Para tornar viável a gestão integrada dos prefeitos petistas na Região Metropolitana, o coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral acha que haverá necessidade de se criar um fórum, onde os prefeitos poderiam discutir outras ações administrativas. “Pela dimensão de São Paulo, é possível que a Marta esteja à frente dos demais prefeitos”, afirma o deputado.
Durante toda a campanha, a petista defendeu a necessidade da união dos prefeitos na busca de soluções para problemas enfrentados por São Paulo e municípios vizinhos.
Passados mais de dois anos desde a vitória de Marta Suplicy, a integração dos municípios da Grande São Paulo administrados pelo Partido dos Trabalhadores não passa de ressaca pós-eleitoral. Apesar de todas as potenciais facilidades ensejadas pela convergência de ações metropolitanas desses municípios — porque todos estão sob o guarda-chuva do partido político reconhecidamente mais estruturado e sistêmico do espectro nacional –, as medidas estratégicas cooperativas foram sufocadas pelas ações táticas de sobrevivência.
A carência de cultura de integração das metrópoles brasileiras, cujos dirigentes são tão parceiros quanto gatos e ratos, recomenda que iniciativas cooperativas sejam preparadas por medidas legais. Mas isso apenas não basta: a participação da sociedade nas instâncias de diagnóstico, formulação, operação e monitoramento das propostas é tão importante quanto a vontade política de quem está na administração pública. Fosse diferente, a Região Metropolitana de São Paulo, herdada da rigidez de planejamento do regime militar, não teria calamidade como sinônimo.
A pouca importância que de maneira geral a mídia dedica às questões tecno-estruturais das regiões metropolitanas se soma à passividade dos legisladores e tomadores de decisão — sem falar no desinteresse da comunidade — como síntese do caos da qualidade de vida que é transposto ao cotidiano das páginas policiais da mídia. O exemplo petista de descarte do planejamento metropolitano é sintomático de uma realidade nacional que se consolida a cada nova eleição: metropolização é temário que dá visibilidade e credibilidade a quem o desfralda, mas é jogado para debaixo do tapete da suposta impraticabilidade já nos primeiros dias de administração.
O ex-prefeito Celso Daniel, principal agente público da Região Metropolitana de São Paulo a dedicar devoção às questões regionais, desacelerou o empenho com que se lançou quando descobriu que estava jogando sozinho o jogo da coletivização gerencial dos sete municípios do Grande ABC. Azar dos contribuintes, porque os problemas que os afrontam no dia-a-dia metropolitano não têm demarcação territorial — estão por todas as partes.
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01/04/2003 Quando a guerra fiscal está à sombra de tudo