Política

Está dando a lógica no jogo eleitoral:
Aidan Ravin desaba e Bonome cresce

DANIEL LIMA - 09/03/2012

O jogo eleitoral em Santo André está dentro da lógica, depois de 40 dias de afastamento de Nilson Bonome, então primeiro-ministro do prefeito Aidan Ravin: o demitido sobe na bolsa de apostas e o titular do Paço, engolfado pelo primeiro escândalo que apenas abre a safra de complicações, desaba. Tanto desaba que a CPI que vai apurar irregularidades na Casa da Moeda do Semasa foi encaminhada a toque de caixa pela maioria governista porque a proposição oponente então em andamento causaria mais estragos se fosse bloqueada. Perdem-se alguns dedos para tentar salvar as mãos. 

 

Nilson Bonome não é o único ganhador parcial no placar de novidades pós-retirada do Paço, mas é o maior de todos. Paulinho Serra, Raimundo Salles, Carlos Grana, Edgard Brandão e eventuais outros candidatos também capitalizam o desgaste do prefeito Aidan Ravin. Mas é Bonome que saiu em disparada. Com isso, contrariou os incrédulos de plantão que colocaram obstáculos informativos para descaracterizar o potencial do peemedebista na corrida eleitoral. 

 

Nilson Bonome é mais bem apetrechado no jogo de persuasão política do que muitos imaginam. A governabilidade da Administração Aidan Ravin foi para a cucuia a partir do afastamento de Bonome. Aidan Ravin adorou a própria imagem de carismático por excelência, acreditando-se imbatível. Esqueceu-se ao mergulhar no narcisismo político que o articulador da governabilidade ocupava um gabinete que não era o principal no Paço Municipal. A distância entre carisma e estultice na atividade pública é muito menor do que supõem os autosuficientes.

 

Rescaldos em São Caetano 

 

Vencedores em graus diferentes mas sempre vencedores da queda evidente da imagem e do poderio de votos de Aidan Ravin às próximas eleições também estão em outros endereços municipais. Há imbricamento natural de personagens do jogo político numa área em que as divisas eleitorais nem sempre seguem o ritual de bairrismos endêmicos que valem para tantas outras situações. 

 

São Caetano passa pelos rescaldos do transbordamento do Semasa porque atinge frontalmente o fiador da candidatura peemedebista de Paulo Pinheiro, considerado forte adversário da candidata governista, Regina Maura Zetone. A intestina ligação que Paulo Pinheiro mantém com Ângelo Pavin, superintendente do Semasa, um dos membros do quarteto que consta das denúncias de irregularidades na liberação de licenças ambientais ao mercado imobiliário, é ruidosamente comemorada no Palácio da Cerâmica. Como se não bastassem os números de uma pesquisa encomendada pelo jornal ABC Repórter ao Instituto Vox Populi, sobre a qual escreveremos na próxima semana. 

 

Um dos indicadores de que determinado candidato passa a ser observado com mais interesse e desvelo é a quantidade de concorrentes ao cargo de vice-prefeito que lhe arranjam nas negociações preliminares de coligações partidárias. Com Nilson Bonome a avalanche é perceptível. Discutem-se vários nomes de agremiações que se pretendem aliadas do PMDB. De todos, por enquanto, o que mais entusiasma o entorno de Nilson Bonome é o jovem Rafael Daniel, sobrinho de Celso Daniel, suplente de vereador em Santo André. Parece não existir ninguém que o supere como complemento de uma candidatura que se pretende equilibrada entre a classe média tradicional e a periferia. Os pontos subjetivos da marca Daniel não precisam ser exaltados como critério maior a eventuais desempates avaliativos. 

 

Macropolítica favorável 

 

Também a macropolítica nacional contribui para o fortalecimento de Nilson Bonome na conjuntura doméstica. Aliás, contribui mais que o esperado. Se a lua-de-mel entre PMDB e PT ainda fizesse parte do enredo nacional, a candidatura de Nilson Bonome em Santo André já seria respeitável, porque poderia tornar-se espécie de linha auxiliar petista, empurrando a disputa para um segundo turno que todos desejam, menos Aidan Ravin. Agora, com o estremecimento em Brasília, com efeitos por todo o território nacional, o PMDB constatou o óbvio: não pode ficar nas eleições municipais a reboque do PT. Onde houver possibilidade de uma disputa para valer, a disputa será efetivada. Santo André consta do mapa eleitoral do partido comandado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, como endereço a combater o bom combate até que o bom combate decifre novos caminhos. Que podem ser caminhos anteriormente previstos, mas sob novas condições de governança e governabilidade em caso de sucesso eleitoral. 

 

Sem Lula, mais vantagem 

 

Outro vetor que favorece as possibilidades de decolagem da candidatura de Nilson Bonome é a fragilidade do estado de saúde do presidente Lula da Silva, uma das razões, aliás, dos solavancos entre petistas e peemedebistas no governo federal. Sem o suporte presencial de Lula da Silva, tem-se como certo que o deputado estadual e candidato do PT em Santo André, Carlos Grana, perderá muito do ímpeto projetado. A companhia de Lula da Silva, prometida pelo próprio ex-presidente, está em risco. Talvez Grana tenha de ir às ruas apenas com o segundo escalão mais estrelado do PT. Entenda-se por segundo escalão mais estrelado do PT muitos dos principais agentes políticos do partido, a léguas de distância do ex-presidente, embora também importantes no jogo de sedução eleitoral. 

 

Embora há muito Santo André tenha perdido a condição de capital econômica, capital política e capital cultural da Província do Grande ABC, tudo indica que pelo menos nesta temporada ninguém lhe roubará o título de capital eleitoral, porque o jogo está aberto, o jogo está sendo jogado, o jogo está encardido demais. Principalmente porque muitas bolas dirigem-se à rede da Administração Aidan Ravin, agora desesperado em busca de aliados perdidos. Tanto que se meteu entre os convidados na posse de Evenson Dotto na presidência da Acisa (Associação Comercial e industrial de Santo André), entidade que não lhe mereceu atenção alguma ainda há pouco tempo, na festa de Natal. 

 

Leiam também:  Quem perde e quem ganha com a saída de Bonome do governo Aidan?



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