Administração Pública

Aidan Ravin quer que feitiço da CPI do
Semasa volte contra feiticeiros do PT

DANIEL LIMA - 13/03/2012

A CPI do Semasa, que supostamente colocaria em posição constrangedora a Administração Aidan Ravin, porque trata de propinas das grossas à liberação de produção do mercado imobiliário, poderá ter amplitude temporal e temática maior do que se imaginava. Os alquimistas do Paço Municipal não se conformam com a saia justa preparada pelo PT.
 
Por isso, já há recomendação ao ensaio de alguns contragolpes que se dariam no palco do Legislativo. A Cidade Pirelli e o Residencial Ventura, empreendimentos denunciados por este jornalista, estão na mira governista. Estaria se organizando uma ruidosa troca de chumbo que, no mínimo, cavaria enormes valas para acomodar reputações feridas de morte, distribuindo-as semelhantemente entre petebistas e petistas.
 
Resta saber, entretanto, se o vazamento dessas informações não se converteria na senha que permitiria aos oponentes reorganizarem-se taticamente a fim de se encontrar um meio termo conciliatório a minimizar os estragos. Não creio completamente nessa versão. Ao que parece a CPI do Semasa não terá como ser interrompida após a entrada no caso do Ministério Público e seu grupo de elite, o Gaerco. Mas como em política tudo é possível, inclusive o impossível, não custa nada manter um pé atrás. Até porque, no âmbito estritamente político, caso de uma CPI, contornos podem ser providenciados sem maiores problemas. A esfera criminal sempre demora mais e geralmente as decisões ficam para as calendas gregas.
 
Retaguarda esquecida
 
Certo mesmo é que os gênios Administração Aidan Ravin descobriram o óbvio: por mais que tenha mesmo havido traquinagens na cúpula do Semasa para liberar obras de empreendedores que resistiram à cobrança de pedágios salgadíssimos, os articuladores das denúncias incrustados no PT descuidaram-se da retaguarda: a Administração João Avamileno, que antecedeu a Aidan Ravin, cometeu barbaridades ao desligar o motor de popa da Cidade Pirelli sem se dar conta de que havia muito combustível de legalidade a consumir por conta das vantagens que aquela multinacional obteve quando da aprovação do empreendimento, assim como no escandaloso caso do Residencial Ventura, comandado por Sérgio De Nadai e a Incorporadora Cyrela.
 
Já escrevi tanto sobre os dois assuntos, depois de levantá-los como denúncia jornalística, mas não vale a pena rememorá-los em minúcias. Certo mesmo, para encurtar a história, é que o governo João Avamileno foi no mínimo negligente com as irregularidades.
 
O projeto Cidade Pirelli culminou na construção pela Prefeitura de Santo André do Viaduto Cassaquera, formalmente sob responsabilidade da Pirelli como contrapartida às vantagens obtidas com a mudança de uso e ocupação do solo de imensa área no Bairro Homero Thon.
 
O Residencial Ventura é acintoso crime contra a economia popular, entre outras malandragens porque foi lançado comercialmente quando um laudo técnico do Semasa indicava fortes indícios de contaminação do solo. Nada mais lógico, porque ali, durante 70 anos, uma indústria química, a Atlântis, profundamente agressiva ao meio ambiente, tomou conta do pedaço. Sérgio De Nadai deu de ombros à advertência do então superintendente do Semasa, Nei Vaz, profissional sério que, com a reforma do secretariado da Administração João Avamileno, por conta de crise quanto à escolha do sucessor petista nas eleições de 2008, deixou o cargo.
 
Situação delicada
 
É muito provável que este texto provocará alvoroço nas hostes petistas porque tudo o que o candidato Carlos Grana não quer nestas alturas do campeonato eleitoral é que recrudesça a possibilidade de pagar o pato de João Avamileno. Justamente nesse momento em que seu padrinho político, o ex-presidente Lula da Silva, vive situação delicadíssima. O noticiário que a mídia propaga sobre a saúde de Lula da Silva estaria muito longe da realidade clínica. Sem o ex-presidente, Carlos Grana terá dificuldades para adensar uma agenda que o coloque na boca do povo, condição prioritária no planejamento gestado para o PT retomar o Paço Municipal.
 
Quero acreditar que a reação da Administração Aidan Ravin à iniciativa do PT na denúncia de irregularidades no Semasa não esteja mesmo subordinada a um acerto de bastidores que mataria três coelhos com uma só cajadada de sem-vergonhice, ou seja, o pretendido enterro das complicações da Cidade Pirelli, o esquecimento das irregularidades do Residencial Ventura e o estrangulamento das coronárias da apuração das anunciadas propinas no Semasa.
 
Até que ponto tudo isso seria possível se há outros concorrentes ao Paço Municipal de Santo André que, certamente, buscariam alternativas para impedir a aproximação dos contrários e o asfixiamento das investigações?
 
Brookfield livre
 
O maior erro da Administração Aidan Ravin é não contar com algumas cabeças minimamente preparadas para refletir sobre os acontecimentos que começam a colocar em xeque a governabilidade, quando não a governança. O projeto Cidade Pirelli é emblemático. Aidan Ravin é o principal responsável pela reação do vereador Paulinho Serra quanto à ilegalidade da aprovação do empreendimento da Brookfield em parte da área originalmente reservada ao empreendimento da multinacional italiana. A obrigatoriedade de aprovação do projeto da Brookfield pelo Legislativo é indiscutível, por conta do Estatuto da Cidade. Já o imbricamento com o projeto Cidade Pirelli só se tornou compulsório porque o próprio prefeito assim o quis, ao tirar uma lasquinha eleitoral da embalagem deixada por Celso Daniel e abandonada pelo PT.
 
A direção da Brookfield está recheadíssima de razão porque ao adquirir uma parte da área reservada ao projeto Cidade Pirelli não assumiu compulsoriamente obrigações compensatórias prescritas no empreendimento concebido por Celso Daniel. Tanto é verdade que aceitou as novas regras do jogo de ocupação da área ao oferecer contrapartidas principalmente à melhoria do sistema viário no entorno do empreendimento. Quem tem de prestar contas sobre o projeto Cidade Pirelli são os administradores petistas que antecederam a Aidan Ravin. Da mesma forma que das obras do Residencial Ventura.
 
Ao prefeito Aidan Ravin basta que venha a público e confesse do jeito que melhor lhe convier que errou grotescamente ao meter o bico no negócio da Brookfield, avocando o marketing de Cidade Pirelli e uma parte do espólio de Celso Daniel.
 
Como se observa, a Administração Aidan Ravin tem um arsenal para alvejar os adversários petistas, mas talvez faça da linguagem bélica apenas um exercício retórico, porque, pelo andar da carruagem, os petistas também estão carregadíssimos sobre os desvios das licenças ambientais no Semasa.
 
Quem deve estar rindo à toa ante tanta confusão são os demais candidatos. Especialmente Nilson Bonome que, enquanto primeiro-ministro de Aidan Ravin, manteve a Prefeitura a salvo do noticiário policial.



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