Política

Por que Aidan perdeu o trem
do Poupatempo de Serviços?

DANIEL LIMA - 23/03/2012

Ganha um doce de batata doce o leitor que matar a charada e desvendar o mistério que cerca a frustrante instalação do Poupatempo de Serviços em Santo André, prometido pela Administração Aidan Ravin e pelo governo do Estado Geraldo Alckmin. O que será que se passou para essa obra de forte apelo social e eleitoral ter sido jogada às traças nesta temporada? Vejamos alguns cenários sobre o assunto, um dos quais, acreditem, estaria muito próximo da verdade.
 
a) A Administração Aidan Ravin se sente traída pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin, porque fez de tudo para desapropriar parte da área da desativada Rhodia Química, na vizinhança do Terminal Metropolitano, no coração do antigo centro de Santo André, de denso afluxo popular. Tudo porque gastou R$ 7,5 milhões de olho na repercussão social. A explicação nos bastidores da Prefeitura é que houve congelamento das relações entre o petebista e o peessedebista, somente agora restaurada com a marginalização do vereador Paulinho Serra, então candidato potencial dos tucanos, dentro de um arranjo para supostamente tentar favorecer o candidato situacionista a polarizar com o PT a disputa eleitoral em primeiro turno. Só falta combinar com Nilson Bonome e Raimundo Salles. E também obter a concordância de Paulino Serra para repassar eleitorado ao algoz Aidan Ravin.
 
b) O governador do Estado mandou tirar o pé do acelerador das medidas burocráticas relacionadas ao campo ambiental daquela área, estimulando a disseminação de informações de que haveria focos de contaminação a exigir cautela para evitar transtornos. O pé no breque dos burocratas de plantão, a servir aos desejos do governador, contou com a colaboração do secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas, e dos tentáculos que o neto do ex-governador manteria na Cetesb, xerife do setor no governo do Estado. Por que o pé no breque? Porque Geraldo Alckmin fez as contas e descobriu que o orçamento do Estado não comportaria perto de R$ 80 milhões indispensáveis ao empreendimento. Uma quantia que só teria valido a pena investir se Aidan Ravin não fosse uma caixa-preta no relacionamento interpartidário. Algo que só teria se dissipado nos últimos tempos, quando o prefeito de Santo André sentiu-se fragilizado, isolado, e teria buscado socorro no governo do Estado, submetendo-se à recomposição de forças e admitindo novos parceiros.
 
c) A área ocupada pela Rhodia Química durante muitos anos teria sim fortes fissuras ambientais, descobertas em levantamentos rigorosos por técnicos especializados e, sob ameaça de contratempos que mais que neutralizariam, atomizariam os efeitos positivos do empreendimento, colocariam em risco os candidatos do PSDB nas próximas eleições ante eventuais acidentes de percurso.
 
Outras versões
 
Estas são as três versões mais comentadas entre políticos e profissionais do ramo, mas não faltam outros pontos menos votados e de procedências a exigir mais que o caráter especulativo, também a materialidade de provas porque trafegam por caminhos obscuros. Coisas que, quem entende de política e de financiamento de campanhas eleitorais, sabe muito bem do que se trata. São questões que envolvem diretamente tanto o prefeito Aidan Ravin como o secretário estadual Bruno Covas.
 
Deixo à imaginação dos leitores a apreciação dessas alternativas e, também, as tentativas para construir o cenário que bem entender para dar guarida às especulações. Certo mesmo é que a demora para a liberação ambiental de parte da área das antigas instalações da Rhodia Química conflita frontalmente com um outro empreendimento, licenciado em prazo recorde, completamente fora dos padrões do Semasa e da Cetesb.
 
É claro que estou me referindo ao Residencial Ventura, um empreendimento de alto risco ambiental realizado pela Cyrela e corporações imobiliárias coligadas que se juntaram à família de Sérgio De Nadai, proprietária do terreno,  E que terreno, já que, plantados no Bairro Jardim, em pleno coração da classe média tradicional de Santo André, aqueles quase 15 mil metros quadrados estavam condenados nos bastidores por todos os empreendedores imobiliários, depois de sediar por 70 anos uma indústria química altamente nociva ao meio ambiente.
 
São raros os casos da literatura ambiental dos grandes centros urbanos em que áreas semelhantes foram tão prontamente liberadas, mesmo diante de investigações severas e dissuasivas do Semasa. O relacionamento entre Sérgio De Nadai e Bruno Covas seria a porção mágica a assegurar aquele empreendimento.
 
Derrubada de Paulinho
 
Não custa lembrar que a operação que derrubou os sonhos de Paulinho Serra de candidatar-se à Prefeitura de Santo André, depois de galgar pontos preciosos em pesquisas encomendadas por adversários, teve como um dos principais protagonistas o presidente do diretório municipal do PSDB, Ricardo Torres, assessor direto de Bruno Daniel e profissional especializado em desvendar especificidades econômicas que envolvem aterros sanitários paulistas.
 
O pano de fundo das alternativas enunciadas e também das variações que se multiplicam é a reaproximação entre o governo do Estado e a Administração Aidan Ravin, detonada por dois fatores que se cruzaram no tempo, quase simultaneamente: a decisão do ex-governador José Serra de disputar a Prefeitura de São Paulo, a provocar remelexos generalizados no quadro paulistano, e o afastamento do primeiro ministro da Administração petebista em Santo André, Nilson Bonome, observada por opositores como elemento potencialmente capaz de estimular novos rumos na campanha eleitoral, tanto no fortalecimento de uma terceira via mais vigorosa que a de Paulinho Serra ou de Raimundo Salles, como em eventual composição com o petista Carlos Grana.
 
Por conta de tudo isso, a Administração Aidan Ravin vê-se tolhida dos efeitos propagandísticos do Poupatempo de Serviços. Como se já não bastasse a viuvez da Cidade Pirelli e o aborto do Polo Tecnológico, que mal passou de embrião.



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