Política

Escolha a alternativa que justifique a
fuga de Orlando Morando das urnas

DANIEL LIMA - 09/04/2012

Desafio o leitor a escolher a alternativa mais substanciosa, mais plausível, mais racional, mais qualquer coisa, para o fato de o deputado estadual Orlando Morando desistir de candidatar-se à Prefeitura de São Bernardo nestas eleições, depois de ter ido à final da competição em 2008, quando ameaçou a vitória do petista Luiz Marinho. O que terá levado Orlando Morando, político tido como destemido, ousado, cavoucador do espaço a ser trilhado, a entregar a rapadura e permitir coalizão entre seu partido, o PSDB, do presidente municipal e vereador Admir Ferro, e o seu principal oponente de centro-direita, Alex Manente, do PPS.



Vamos às alternativas preparadas com base em informações públicas e outras nem tanto: 
 
Primeiro -- Orlando Morando não coloca um grama de fé na possibilidade de o petista Luiz Marinho ser derrotado no reduto simbolicamente mais importante do Partido dos Trabalhadores. Teria enormes dificuldades, por conta disso, para abastecer os cofres de financiamento eleitoral, mesmo que seja visto, ele, Orlando Morando, como exímio industrializador de recursos privados. Acredita ele que a derrota de Alex Manente e do grupo que lhe opõe resistência no seio do PSDB, ex-prefeito William Dib à frente, será tão contundente que terá seu nome fortalecido às eleições seguintes, de renovação de novo mandato legislativo e, na sequência, à própria Prefeitura.
 
Segundo -- Orlando Morando estava crente de que não haveria possibilidade alguma de resistir à campanha milionária de Luiz Marinho, mas se lhe fosse possível voltar atrás, teria voltado, porque a candidatura de José Serra na vizinha São Paulo mudaria o quadro macroeleitoral da Região Metropolitana de São Paulo. Há mais forças convergentes ao fortalecimento de candidaturas que confrontem o PT e seus aliados numa área demográfica, eleitoral, econômica e política que não pode ceder espaços aos adversários, sob pena de, no futuro, custar caro. Portanto, teria desistido da desistência se não houvesse queimado praticamente todas as caravelas de relacionamento com William Dib.
 
Terceiro -- Desde que os petistas perceberam que não poderiam confiar num aliado ensaboadíssimo como Alex Manente, principalmente após a morte do pai do parlamentar, a quem se atribui rara habilidade de articulações interpartidárias, o PT resolveu estender a rede de sensibilização em direção a Orlando Morando, um tucano que já foi muito mais hostil aos esquerdistas. O rompimento ou o estremecimento de relações entre Morando e Dib colaborou para a política de boa vizinhança entre a Administração Luiz Marinho e o deputado que até outro dia era líder do governo na Assembléia Legislativa. Alguns pontos vitais foram costurados sem que isso determine a obrigatoriedade de um lado e de outro se apresentarem ao público como amantes apaixonados. Há trato no sentido de que até se hostilizem, mas que não se invadam terrenos comprometedores.
 
Quarto -- Orlando Morando teria passado por alguns contratempos de ordem ética numa carreira considerada acima de qualquer suspeita, mas os cuidados tomados, principalmente junto à mídia, evitaram que supostas manchas atinjam-lhe o prestígio. Mas haveria sempre e sempre a desconfiança de que a qualquer momento alguém possa jogar areia no ventilador de sustentabilidade moral do deputado estadual, a ponto de não só atingi-lo diretamente, mas a todos em seu entorno. Uma recente campanha de outdoor enfatizando a emenda do parlamentar à moralidade pública sintetizada na expressão "ficha limpa" teria sido desenhada para combater informações de bastidores que levariam o desempenho do deputado estadual a searas menos nobres. Há informações que colocam sob mira de uma bazuca poderosíssima algumas incursões de Orlando Morando em áreas especiais do governo estadual. Tiros em direção ao deputado ricocheteariam nos tucanos de alta plumagem.
 
Não está descartada resposta transversal, ou seja, que reúna boa parte dos quatro enunciados. Isto quer dizer que uma quinta alternativa não exposta em forma de unidade interpretativa nesta revista digital seria perfeitamente apropriada ao desafio que se coloca aos leitores -- de interpretar qual dos cenários está mais próximo da realidade política.
 
Se os leitores indagarem sobre minha alternativa preferida, responderei com sinceridade: uma associação dos principais pontos de cada uma. Agora, quanto aos principais pontos, são outros quinhentos. Quanto à expressão "fuga das urnas", do título deste artigo, pensei e repensei se deveria mantê-la e cheguei à conclusão que deveria. Seja qual for a opção escolhida pelo leitor, Orlando Morando jamais poderia se omitir de uma disputa desse calibre, vindo de onde veio em 2008 -- de um segundo lugar com alto nível de capitalização de votos.


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