Administração Pública

Escândalo do Semasa: vamos
ouvir 90 minutos de denúncias

DANIEL LIMA - 13/04/2012

Vou reservar duas horas deste final de semana para ouvir atentamente a gravação do depoimento do advogado Calixto Antonio Júnior na CPI do Semasa, comandada pelo vereador Donizeti Pereira. Talvez não resista a tanta espera e meta os ouvidos alto-falante adentro ainda nesta sexta-feira. Como dar mole à curiosidade depois de tudo o que li e ouvi sobre o escândalo mais dilacerador da Administração Aidan Ravin? Não serei jornalista, ou serei jornalista à beira da obsolescência funcional, se não der um jeito bem dado de ouvir o quanto antes pelo menos parte do conteúdo da mídia que tenho às mãos. Como a tenho? Aí o leitor quer saber demais. Não abro minhas fontes nem sob tortura. Mesmo que a fonte venha, eventualmente, se tornar adversária ou mesmo inimiga. Há questões sagradas que jamais poderiam ser manchadas. Vejo fontes de informação como um sacerdote em pleno confessionário.
 
Fiz o possível e o impossível para acompanhar tudo que a Imprensa regional, nas versões impressa e digital, publicou nos últimos dias sobre o caso Semasa. A conclusão a que cheguei é que apareceu um doido varrido na praça para botar fogo na canjica. Doido varrido é força de expressão, porque Calixto Antonio Júnior é desses exemplares que não podem ser desprezados. Ele estava no centro do poder econômico e financeiro da Prefeitura de Santo André que, todos sabem, é a autarquia de saneamento e meio ambiente do Município, a Casa da Moeda, o Caixa Forte, tudo que o leitor imaginar sobre poderio político e econômico.
 
Vou saborear cada frase do depoente explosivo que assustou um bocado de gente a partir da última segunda-feira na Câmara de Santo André. Havia apenas dois repórteres durante o depoimento e, salvo engano, nenhum deles conseguiu traduzir com fidelidade o que Calixto Antonio Júnior verbalizou com veemência. Traduzir o que o advogado disse é uma coisa. Transpor para a tela de computador literalmente o que ele disse é outra. A entonação que a mídia permitirá recuperar talvez seja suficiente para resgatar o ambiente emocional que cercou seu desabafo. Não terei as imagens, que poderiam dar mais força ainda às observações, mas o melhor é não chorar de barriga cheia. Tem gente por aí se matando para obter uma cópia do áudio.
 
Rescaldos político-eleitorais
 
De qualquer forma, o que temos na Administração Aidan Ravin nestas alturas do campeonato é a conclusão de que a tarefa de varrição dos problemas parece esgotar-se na potencialidade física do instrumental utilizado. Possivelmente o prefeito de Santo André terá de lançar mão de outros apetrechos, porque não há tapete que resista ao volume a ser escamoteado. Fosse o leitor marqueteiro de Aidan Ravin, o que faria ante o quadro que se apresenta, enredado que está o debutante no cargo em complicações típicas de quem não se planejou para evitar crises contínuas de governabilidade?
 
Se a atuação dos parlamentares que integram a CPI do Semasa não for sufocada por duchas frias de interesses particulares, mais e mais a Administração Aidan Ravin se verá inapelavelmente tosquiada. Resta saber até que ponto o prefeito vai se manter competitivo às próximas eleições. Quais serão os efeitos do noticiário nas próximas pesquisas preliminares de intenção de voto em Santo André? Até que ponto a classe média tradicional que ajudou a fazer a diferença ao elegê-lo prefeito vai desembarcar da reeleição? Quem serão os concorrentes com maiores potenciais de capitalização de votos dos indecisos e dos desapontados?
 
Ao fugir ainda esta semana de declarações sobre a crise em Santo André o governador Geraldo Alckmin atuou com a esperteza de quem sabe que o tempo é o melhor dos conselheiros. Para que se expor agora, em plena efervescência, se os próximos dias poderão aclarar o horizonte? Estaria mesmo Aidan Ravin fadado ao fracasso eleitoral? Estaria  Paulinho Serra, da agremiação do governador, pronto para ser o ocupante de eventual vaga de herdeiro copartidário?
 
A CPI do Semasa oferece uma bifurcação interessante. À direita, seria medido o potencial de resistência da Administração Aidan Ravin durante e após o vendaval, chegando-se à conclusão que entre perdas e danos sobreviveram expectativas sustentáveis de sucesso. À esquerda, a inevitabilidade de substituição do representante de centro-direita para antepor-se ao Partido dos Trabalhadores, considerado o principal adversário na disputa.
 
Enquanto o desenho situacionista não ganhar contornos definitivos, e também enquanto não se souber a extensão dos estragos do depoimento do advogado Calixto Antonio Júnior, qualquer projeção eleitoral em Santo André reuniria chutometria excessiva.
 
Talvez ou muito provavelmente o resgate da materialidade vocal do depoimento de Calixto Antonio Júnior coloque mais fogo na fogueira entre outros motivos porque permitiria a essencialidade de, na contundência e na clareza do conteúdo, transferir para o terreno da especulação, e portanto do descarte, ilações que não se comprovariam em eventuais acareações. Calixto falou e está falado. Mesmo que tenha exagerado num ponto ou noutro, sobretudo em chamar para o espetáculo das denúncias o caso Celso Daniel, é muito improvável que tenha se travestido de Dias Gomes.
 
É possível que o material em questão ganhe três destinos diferentes. Uma parte provavelmente se caracterizará como desopilação do fígado e como tal não mereceria credibilidade; outra deverá ser observada mais atentamente porque reuniria imprecisões e imaginações supostamente lógicas que não se converteriam em factualidades; enquanto a terceira seria mais que recheadíssima de solidez denunciatória, convertendo-se em autêntico tiro de canhão na direção de um dos endereços mais prevaricadores dos entes públicos sediados na Província do Grande ABC -- o Semasa, evidentemente muito bem manipulado há muito tempo por gente do mercado imobiliário sem escrúpulos.
 
Vai ser um final de semana movimentadíssimo, porque também não abro mão de outros canais de emoção e de racionalidade: ler jornais, revistas, os quatro livros sobre os quais ando me debruçando alternativamente, e, é claro, acompanhar a rodada de futebol. E que rodada, porque meu time vai terminar em primeiro lugar na Série A do Campeonato Paulista. Estava esquecendo que pelo menos no sábado assistirei à novela das nove. Pena que acabou o BBB.


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