Administração Pública

Situação de Aidan Ravin pode estar
entre impeachment e sangramento

DANIEL LIMA - 16/04/2012

Depois de ouvir e de anotar todos os pontos mais relevantes, cheguei à seguinte conclusão sobre o depoimento do advogado Calixto Antonio Júnior à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Semasa, segunda-feira passada: a Administração Aidan Ravin está entre a quimioterapia do impeachment e a radioterapia do sangramento político. Vai depender de vontade política, da Polícia Civil e do Ministério Público o desvendar técnico da interferência intestinal do prefeito na liberação de empreendimentos imobiliários em Santo André.


 


Sabe-se que a oposição e alguns vereadores da base de sustentação de Aidan Ravin já se dividem entre possíveis medidas mais apropriadas à situação. A contrapartida à escolha da melhor solução é a reação do prefeito que, de vilão, poderia se tornar vítima de algo que seria vendido ao público como perseguição política. Daí à sacralização da campanha à reeleição seria um  passo e tanto.  


 


O impeachment seria profilaxia circunstancial a desmoralizar de vez a Administração petebista. Até mesmo a vice-prefeita Dinah Zecker seria atingida. A gravidade da medida implicaria em dias tumultuosos em Santo André. Um novo candidato petebista seria levado à arena eleitoral, saído de estratos de moralidade e ética do partido. 


 


Já o estrebuchamento da Administração Aidan Ravin seria penoso, prolongado e minaria as possibilidades de reeleição. Entenda-se por estrebuchamento a sangria permanente imposta à Administração por conta do Escândalo do Semasa, cuja apuração em âmbito legislativo, policial e ministerial seria desgastante para o chefe do Executivo, e também de outras possíveis irregularidades. Atribui-se a Aidan Ravin equivalência de pesos entre o talento à sedução pelo carisma e irrecuperável arte para promover lambanças. 


 


Por mais que prevaleçam cuidados para não dar asas a impropriedades avaliativas após ouvir aquela 1 hora 34 minutos e nove segundos de gravação em CD, é impossível ficar em cima do muro em nome de senso de justiça extremo, parente muito próximo da covardia abominável. Ou seja: ouvir o conteúdo de uma denúncia e pisar em ovos quando é possível separar o que pode ser mera irritação, desapontamento e vingança, de questões mais sérias, mais comprováveis, sem ousar expor o pensamento, seria renunciar à prática jornalística. 


 


Ângelo Pavin preservado 


 


Com todo o cuidado informativo, porque nem tudo que parece é de fato, o que o advogado Antonio Calixto Júnior fez ao longo daquele tempo todo do depoimento  foi jogar muita farofa no ventilador da gestão petebista em Santo André. Estranhamente, excluiu da reta de complicações o superintendente do Semasa, Angelo Pavin, que, segundo depoimento de outro denunciante, o ex-executivo daquela autarquia, Roberto Tokusumi, participava ativamente das traquinagens, entre outros motivos para financiar a campanha peemedebista em São Caetano. Calixto preferiu direcionar baterias ao ex- supersecretário Nilson Bonome e também ao ex-gerente de Gestão Ambiental do Semasa, Jarbas Azuri. 


 


O que joga o prefeito no redemoinho de escorregões é a proximidade com Calixto Antonio. O advogado afirma que estabeleceu relações com Aidan Ravin durante a campanha eleitoral, quando o então candidato petebista contava com apenas 2% das intenções de votos. Mais tarde, já no Executivo, Calixto Antonio foi levado ao Semasa. Mas só teria começado a dar as cartas em nome do prefeito com a saída de Nilson Bonome do Paço Municipal, após ocupar três secretarias. Nenhuma das quais ligadas ao Semasa. Já outro alvo das denúncias de Calixto Antonio, Jarbas Azuri, deixou o Semasa no primeiro semestre do ano passado. 


 


O que joga Aidan Ravin numa zona de turbulência é a afirmativa de Calixto Antonio de que passou a barrar todos os contratos de liberação de investimentos imobiliários a pedido do prefeito. Uma medida que teria sido tomada para que o prefeito cuidasse pessoalmente dos acertos financeiros com proprietários e representantes dos investidores, sempre utilizando o pressuposto de inadequações dos projetos imobiliários à legislação municipal. Traduzindo: opondo dificuldades para obter facilidades. Numa linguagem mais popular, Calixto Antonio Júnior transpirou que o prefeito tratava pessoalmente de extorquir os empresários.


 


Mais que isso, Calixto Antonio afirmou que as intervenções do prefeito Aidan Ravin se davam também no próprio Paço Municipal, onde teria recebido dinheiro de uma grande empreiteira de obras públicas na região. Dinheiro confortavelmente resguardado numa maleta por volta das 10h da noite. 


 


Depoimento complexo 


 


As declarações de Calixto Antonio Junior foram recheadas de verbalizações incompletas, às vezes mutiladas, outras vezes reticentes. Principalmente quando envolveram outros personagens das denúncias na CPI. Somente no caso da relação com o prefeito Aidan Ravin e nos ataques ao empresário Ronan Maria Pinto, do Diário do Grande ABC, as sentenças verbais se completaram sem maiores dificuldades de entendimento. Mas no caso do Diário do Grande ABC, além da bobagem de vincular Ronan Maria Pinto ao assassinato do então prefeito Celso Daniel, Calixto Júnior excedeu-se em acusações quanto às relações do dono do jornal com prefeituras da região. Calixto mostrou-se mais especulativo do que convicto a ponto de, em tom de lamentação, afirmar que poderia ser condenado e preso pelas declarações. 


 


Há um caminho amplo e esclarecedor que poderia determinar o Escândalo do Semasa como o Waterloo do prefeito Aidan Ravin. Trata-se do confronto dos contratos de construtoras e incorporadoras bloqueados a pedido do titular do Paço Municipal, segundo a denúncia de Calixto Antonio. Bastaria a quebra de sigilo telefônico do titular do Paço Municipal seguida de depoimentos de empresários que teriam sido alvos das abordagens. 


 


Nesse ponto, Calixto Júnior foi contundente e esclarecedor: basta selecionar os 40 maiores investimentos imobiliários dos últimos tempos em Santo André para constatar irregularidades que teriam gerado a denunciada montanha de arrecadação financeira paralela. CapitalSocial posicionou-se nesse sentido na semana passada, ainda sem ter conhecimento em detalhes das declarações de Calixto Antonio. Tanto o Ministério Público quanto a Polícia Civil podem se valer de técnicos especializados para devassar os maiores negócios imobiliários em Santo André. Um trabalho que não se prenderia exclusivamente à documentação apresentada. Ir a campo é o melhor caminho. 


 


Falta apenas um caseiro 


 


Há informações que poderão deixar o prefeito Aidan Ravin inquieto. O que estaria adiando a solicitação formal de impeachment do petebista nos próximos dias seria a falta de garantia de que pelo menos um dos empresários supostamente achacado confirmaria encontro com o prefeito. O caso seria rigorosamente fatal e convenceria de vez até parte da bancada situacionista do Legislativo a desembarcar da Administração petebista. O empresário provocaria efeito semelhante ao da rendição do então ministro Antonio Palocci à testemunha-chave do caseiro Francenildo Santos Costa. 


 


Calixto Antonio Júnior deverá prestar depoimento à Polícia Civil nesta quinta-feira. Será uma  ótima oportunidade para o delegado que cuida do caso desenvolver trabalho mais esclarecedor que o dos membros da CPI do Legislativo. Os vereadores foram atuantes, mas o depoente não teve a objetividade, a clareza e a precisão que um especialista em investigação, como um delegado de Polícia, vai exigir. Calixto Antonio praticamente pautou os membros da CPI porque os pegou de surpresa com o depoimento bombástico. Com o delegado de Polícia a tendência é de que seja pautado. Até porque o delegado conta com a vantagem de que todos os ingredientes e temperos do prato já estão à disposição. 


 


Há possibilidade de que a semana seja decisiva a encaminhamentos mais rigorosos do Escândalo do Semasa. Há uma cachoeira de questões a serem tratadas. O melhor é esperar por fortes emoções. Até porque os bastidores políticos estão fervendo. Já não se tem a segurança de que estar na Administração de Santo André é posição confortável. E quem entende de política sabe que, quando se chega a esse nível de desconfiança, a metáfora das baratas que fogem quando se acendem as luzes não é exagero. 


 


Será uma semana para engenheiros políticos queimarem as pestanas tanto para chegar à conclusão sobre o melhor desenlace para a crise, se o impeachment ou o sangramento, quanto para a saída do sufoco, a cargo dos assessores mais próximos de Aidan Ravin. Uma das medidas tradicionais de quem vê o inferno próximo é travestir-se de vítima. Ou disseminar guerras psicológicas que redundem em cenário de devastação total, com perdas e danos para todos os lados.  


 


Como a Polícia Civil e o Ministério Público não teriam lado, e a própria CPI do Legislativo se viu em estado catártico após o depoimento de Calixto Antonio, possivelmente não haveria mais alternativa ao barco à deriva, senão afundar.   


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