Política

Oposição aperta Marinho. Essa
disputa já foi bem mais tranquila

DANIEL LIMA - 27/04/2012

A disputa eleitoral em São Bernardo já foi mais confortável para o prefeito Luiz Marinho. A oposição moribunda até outro dia recuperou fôlego com a inscrição de José Serra à disputa na vizinha Capital e o afastamento temporário do ex-presidente Lula da Silva de agenda mais ativa. Além disso, o distanciamento de Orlando Morando, acordado nos bastidores com o PT, liberou geral a atuação do deputado estadual Alex Manente (PPS), agora apoiado pelo coordenador do PSDB na Província do Grande ABC, o deputado federal William Dib, prefeito até outro dia.


 


O jogo estava praticamente decidido até então porque o PSDB paulistano parecia dirigir-se ao cadafalso de uma candidatura sem lastro popular. A ressurreição de Serra mudou tudo, inclusive em São Bernardo. Ganhar de lavada significaria para Luiz Marinho a porta da consagração rumo à disputa do governo do Estado em 2018. Ganhar por margem não muito elástica teria um sabor diferente. Cada ponto percentual de voto favorável ao jovem Alex Manente, em parceria com o tucano Admir Ferro, seu vice, seria comemorado como marca de resistência ao PT em sua cidadela mais simbólica. Uma reviravolta, então, seria extraordinária.


 


As estocadas oposicionistas já começaram. E evocam reflexão. Um exemplo: no ano passado a Prefeitura de São Bernardo consumiu R$ 50 milhões em publicidade e R$ 10 milhões em Segurança Pública. A diferença é brutal. A inversão de prioridade é alarmante. As declarações de Luiz Marinho ao Diário do Grande ABC são um atestado de improvisação. Vejam o que disse a respeito da discrepância de valores entre uma atividade e outra:


 


 “É um ato falho deles falarem de Segurança, porque essa é uma responsabilidade do governo do Estado. Nós dobramos o efetivo da guarda (que passou de 500 para 1.000 integrantes) para complementar o trabalho da policia e não para concorrer ou assumir o seu papel” – justificou Marinho.


 


Questões bem diferentes


 


São questões diferentes às quais o prefeito de São Bernardo não deu resposta que a sociedade deveria exigir.


 


Primeiro, R$ 50 milhões em publicidade é dinheiro demais que possivelmente jamais conseguiria encontrar justificativa. Não que Marinho seja uma virgem em casa de tolerância de propaganda ostensivamente personalista, por mais que disfarçada. Mas o suposto reformismo socialista vai para a cucuia.


 


Segundo, porque os investimentos municipais em Segurança Pública deveriam ser  mais transparentes, mais detalhados e também mais explicativos quanto à complementaridade aos recursos estaduais. Até porque, por mais que o governo tucano tenha sido relapso durante os anos Mário Covas, quando assassinatos, roubos, furtos e sequestros viraram rotina, a curva estatística foi severamente revertida em uma década a ponto de se colocar não só São Bernardo como toda a Província do Grande ABC em ranking menos doloroso.


 


Ainda estamos mal situados no ranking de criminalidade do G-20, o Clube dos 20 Municípios mais Importantes do Estado, mas avançamos tanto na redução de indicadores que já não perdemos de goleada dos demais, os quais, conforme mostramos ainda outro dia, tiveram curvas mais suaves de rebaixamentos estatísticos.  


 


Também quanto às críticas do ex-prefeito William Dib à inauguração do CEU (Centro Educacional Unificado) Regina Rocco Casa, na antiga área do Volkswagen Clube, Luiz Marinho não acertou o passo da resposta. William Dib disse que os R$ 63 milhões consumidos para atender 5,2 mil alunos foram um desperdício de dinheiro e de atendimento. Ficaria mais barato e causaria efeitos pedagógicos e sociais mais relevantes se a Administração Luiz Marinho optasse por quatro unidades em pontos diferentes do Município, cada uma com capacidade para 1,5 mil alunos. Em suma, o CEU festejado por Marinho provocaria canibalismos na rede municipal porque priorizou concentração em vez de descentralização.


 


O que respondeu Marinho, segundo o Diário do Grande ABC? “Essa coisa do achismo do ex-prefeito (Dib) e do pré-candidato (Alex) não me incomoda. Estamos corrigindo uma herança maldita que nós herdamos, ou seja, a ausência de vagas para o Ensino Infantil” – disse o prefeito petista.


 


Maior preparo


 


O que seria o mais correto a retirar o bate-boca da linha político-eleitoral com que foi contemplado? Que Luiz Marinho se apresentasse munido de informações técnicas que pudessem retirar a temática do campo de beligerância partidária. O leitor mais exigente não foi contemplado pelo noticiário, porque sobrou a dúvida sobre quem está com a razão. Um mapeamento das áreas atendidas e também de vacuidades em Educação Infantil poderia desclassificar afirmações dos oposicionistas. Sem isso, Luiz Marinho dá fôlego às críticas.


 


Luiz Marinho sofreu, portanto, dois gols ante o ataque oposicionista -- o primeiro dos quais, da publicidade, praticamente irreversível porque não seria a obrigatoriedade constitucional de investimentos do Estado em Segurança Pública o aval para a festança publicitária. No terceiro assalto da peleja impressa nas páginas de jornal, acabou por recuperar-se parcialmente. Tanto Alex Manente quanto Admir Ferro procuraram desclassificar o secretariado de Luiz Marinho ao desfraldar a bandeira de um municipalismo revigorador de contratação de gente local para os cargos, não de supostos forasteiros.


 


É certo que a resposta de Luiz Marinho não foi das mais felizes, porque novamente pareceu-lhe faltar assessoria adequada, mas, mesmo assim, lhe garantiu um ponto. Disse Marinho, segundo reportagem do jornal ABCD Maior: “Eu procurei pessoas capazes de resolver um trabalho, independentemente de se mora aqui ou não. Já pensou se a Volks contratasse só gente de São Bernardo?”


 


Marinho poderia ter dito que competência e meritocracia não têm atestado de procedência e também que há determinadas funções públicas municipais que prescindem de prioridade domiciliar porque são essencialmente específicas de habilidades técnicas. Muito mais poderia ter afirmado em vez de verbalizar inadvertido duplo sentido relacionado à população de São Bernardo incapacitada para atender integralmente àquela montadora de veículos.  


 


A conclusão depois desse embate eleitoral entre o prefeito de São Bernardo e os oposicionistas que giram em torno de William Dib e Alex Manente é que o nível da campanha que ganha as páginas de jornais não ultrapassará certos limites de subjetividades suburbanas. Esperar por entrechoques que provoquem luminosidade seria exagerar no otimismo. Parece que os dois lados estão pouco preparados para sair da mesmice. Sobretudo porque transformam entreveros democráticos em discussão de botequim. A imagem de Luiz Marinho está em jogo em pequenos detalhes, principalmente porque cada passo que dá, cada frase que pronuncia, supostamente asfaltam o caminho rumo a uma disputa de maior envergadura.


 


Talvez esteja a faltar a Luiz Marinho uma assessoria de imagem que vá além do penteado da cabeleireira densa e dos ternos bem cortados. Preparar o petista para embates mais complexos talvez não tenha, ainda, conquistado espaço na agenda atribulada. Marinho não abre mão de acompanhar as obras alimentadas por orçamento municipal recheadíssimo de recursos federais organizadamente planejados e solicitados. Alguém precisa lhe dizer que transpiração operacional e inspiração intelectual são metades da mesma laranja administrativa e eleitoral.


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