Política

Aidan continua a sangrar, mas pode
recuperar-se e dar volta por cima

DANIEL LIMA - 04/05/2012

Os resultados parciais sobre a atuação da quadrilha do Semasa, a Casa da Moeda da Prefeitura de Santo André, estão aquém da velocidade esperada, mesmo que a velocidade esperada não fosse de Fórmula-1. O sangramento político e administrativo de Aidan Ravin segue em frente, mas está longe de tornar-se hemorragia. Pelo andar da carruagem, não está descartado um repeteco doméstico do chamado mensalão, quando o governo do então presidente Lula da Silva estava praticamente liquidado, foi poupado pela oposição e virou o que todo mundo sabe – uma espécie de santo popular depois de oito anos de sucesso. Talvez essa seja a maior diferença, porque Aidan Ravin é fracasso quase total.
 
É claro que há um oceano a separar Lula da Silva de Aidan Ravin. Eles são suas circunstâncias e as circunstâncias que os colocaram em situações constrangedoras passaram por contextos completamente diversos. Lula da Silva contava com arco de partidos políticos e apoio sindical  enquanto Aidan Ravin está mais para o outsider Fernando Collor, deposto no começo dos anos 1990.
 
Exatamente porque está quase totalmente isolado, com um ou outro apoio de bastidores da cúpula do PTB, Aidan Ravin é poupado de intervenções mais impetuosas daqueles que o querem distante do Paço Municipal antes das eleições.
 
Acompanho atentamente o noticiário, ouço protagonistas do Escândalo do Semasa, tenho fontes insuspeitas. Faço de tudo que o bom jornalismo exige. Por isso não afasto a possibilidade de Aidan Ravin safar-se de impeachment e, mais que isso, ter o tônus eleitoral abalado mas não neutralizado às eleições de outubro. Exceto se nos próximos tempos medidas mais vigorosas forem aplicadas.
 
Temáticas sistêmicas
 
Divido uma breve análise da situação em quatro partes: governabilidade, política, criminal e mídia. Essa segmentação com sistemicidade talvez seja a melhor maneira de aferir o quadro desdobrado a partir das denúncias do advogado Antonio Calixto Júnior à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Legislativo de Santo André. Naquela oportunidade ele disse, entre outras situações, que foi colocado no Semasa para filtrar os processos sobre os quais o prefeito Aidan Ravin trataria pessoalmente de extorquir empresários do setor imobiliário. A gravação do depoimento está em meus arquivos. A sequência de revelações explicita a proximidade entre o prefeito e o advogado.
 
Em termos de governabilidade a Administração Aidan Ravin perde musculatura em proporção ainda aquém da gravidade da atuação da quadrilha do Semasa. Há pesquisas informais que procuram detectar até que ponto o sangramento popular é representativo. As informações não são confiáveis, mas é lógico que mesmo que o bombardeio não tenha a intensidade que o escândalo sugere, há perda de prestígio do titular do Paço.
 
Quanto ao entorno político-partidário, o esticamento da atuação da CPI deixa evidenciado que se protela até às vésperas das convenções o prazo para definições. Até lá, a possibilidade de abandonar-se o barco situacionista é imensa, mas a tendência poderá sofrer revertério se refluir o ímpeto de desalojamento do titular do Paço Municipal. É muito provável que o potencial arco de alianças patrocinadas pelo Paço estreite-se e convirja a concorrentes. Talvez um dos melhores medidores do grau de isolamento de Aidan Ravin seja o posicionamento futuro do PSDB, para variar em cima do muro até que o horizonte não seja um ponto de interrogação. Mais que isso: que seja um ponto de exclamação. Uma candidatura tucana carregaria a certeza de que Aidan Ravin sangrará mais acentuadamente.
 
Na área criminal, as investigações policiais parecem desenvolver-se sem interferências de mandachuvas. Aidan Ravin conta com amigos políticos bem enfronhados na área. Gente com o controle de determinadas porções policiais sob restrições da própria categoria. Sabe-se que o delegado Gilmar Bessa, que preside o inquérito, tem ampla autonomia e estaria determinado a juntar todas as peças das denúncias, remetendo-as ao Ministério Público que, estranhamente, sustenta silêncio pouco usual, embora corretíssimo. Segue rito cronológico para se manifestar. Bem diferente do caso Celso Daniel, quando a Polícia Civil foi amordaçada pelo governo do Estado e uma força-tarefa do MP elevou-se à condição de fonte exclusiva de informações.
 
Já a cobertura da mídia é tímida. Na Província, o Diário do Grande ABC tem mergulhado no assunto, mas isso não significa propósito de aprofundamento constante. A entrevista do final de semana prolongado com o prefeito Aidan Ravin foi um atentado ao bom jornalismo. Uma combinação de dispersão, imprecisão, enrolação e procrastinação tornou aquelas duas páginas desperdício monumental. Duvido que os leitores tenham entendido patavina. Li e reli aquela entrevista e cheguei à conclusão que faltou planejamento editorial para conduzir as frases quase ininteligíveis do prefeito Aidan Ravin a algo minimamente elucidativo. Para piorar, tudo fora de um contexto explicativo. O caso da quadrilha do Semasa precisa de resgate informativo básico para atender aos novos leitores e também para reavivar a memória dos mais assíduos.
 
Já a mídia de massa da Capital segue a priorizar um escândalo nacional, envolvendo Carlos Cachoeira e uma turma de saqueadores. A Província do Grande ABC vive na penumbra dos veículos de comunicação de massa. Só despertamos interesse por exclusão de pauta ou em casos mais que escandalosamente ibopeanas, como o assassinato de Celso Daniel e o desenlace do caso Eloá, mal resolvido por Lindemberg Alves Fernandes.
 
Entrelinhas, entrelinhas
 
Esse breve relato que procura atualizar as apurações de irregulares no Semasa possivelmente não tenha levado os leitores a conclusões extraordinárias. Não costumo fantasiar a realidade. Tenho por hábito dizer que conheço os jornais não pelo que escrevem, mas pelas entrelinhas. No caso do Diário do Grande ABC, não consigo ter convicções que se sustentem por mais de uma ou duas edições seguidas. O vai-e-vem subjacente e camaleônico de cada reportagem, algo que os leitores comuns não detectam, me leva a acreditar em várias possibilidades. Uma das quais é que o sangramento tornou-se uma porta sem saída, mas, complementarmente, não seria o prenúncio de que Aidan Ravin seria abatido durante esses próximos tempos. Mais que isso: manter-se-ia uma janela a assegurar a oxigenação da Administração Municipal em nível apropriado para, quem sabe, garantir uma escapadela providencial.
 
A quadrilha do Semasa conta com tentáculos poderosíssimos. O prefeito Aidan Ravin sabe muito bem do que estou falando. Tanto sabe que não tem coragem de passar a autarquia a limpo. O primeiro passo seria tapar a boca do denunciante Antonio Calixto.

Basta abrir a caixa de Pandora da burocracia do Semasa a especialistas. Eles desvendariam a cronologia dos principais investimentos no setor imobiliário nos últimos anos e a estreita relação com a fome pantagruélica de bonificações também conhecidas por propinas. Como a medida envolveria também o PT, já que foi na Administração João Avamileno que o Residencial Ventura, de Sérgio De Nadai, foi agraciado com maracutaias, o que parece subsistir no Escândalo do Semasa é uma vocação à pirotecnia político-eleitoral em detrimento de apuração técnica rígida, confiável, insofismável.
 
Como não contamos com instâncias sociais autônomas para liderar um movimento de transparência total no Semasa, já que associações empresariais como a Acisa e entidades de classe como a OAB assistem a tudo sem mover uma palha sequer, não é de se duvidar que tudo termine em pizza. Mesmo que a sociedade vá às urnas e decida mudar o cheff da cozinha.  


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