Política

Luladependente, PT de Santo André
deve encaminhar vice à lá José Alencar

DANIEL LIMA - 08/05/2012

O desenho eleitoral projetado pelo PT de Santo André para o candidato Carlos Grana, deputado estadual de origem sindicalista, não seguiu as linhas projetadas. O legado artístico do centenário Oscar Niemeyer, de preferência pela sinuosidade, acabou interferindo. O destino atinge duramente o ex-presidente da República, Lula da Silva, fiador e principal incentivador da candidatura de Carlos Grana. Praticamente fora do combate de campo e da mídia eletrônica, suas especialidades, Lula da Silva terá muito menor peso em Santo André do que o maior dos pessimistas petistas poderia sugerir. Por isso, cresce a possibilidade de Mário César de Camargo, empresário, compor a chapa petista. A dobradinha capital-trabalho está potencialmente revigorada.
 
Outros nomes com aderência na classe média tradicional  de Santo André também são citados, mas nenhum tem o magnetismo de Mário César. Ele remeteria à composição Lula-José Alencar vitoriosa em duas campanhas presidenciais. Nenhum outro nome sugerido remete à simbologia da complementaridade capital e trabalho, eterno estorvo à imagem dos petistas nos compartimentos mais conservadores da população. E tampouco nenhum outro nome mencionado tem a experiência empresarial, institucional e social de Mário César de Camargo, dedicado agente de clubes de serviços.
 
De realce a incômodo
 
A Luladependência de Carlos Grana incomoda os petistas. Tanto incomoda que, depois de realçá-la no passado com a roupagem de aliança imbatível que dispensaria maiores inquietações com a composição da chapa, mais especificamente com o ocupante da vice, agora o que se tenta é minimizar o desfalque para não entregar a rapadura de que o horizonte não está tão nebuloso assim. O que antes, no ano passado recente, embalava o entusiasmo por Carlos Grana,  agora é elemento de preocupação.
 
O PT de Santo André confiou tanto no artilheiro Lula da Silva nestas eleições como o Corinthians no Brasileiro esperou no ano passado pelos gols de um Adriano sempre complicado. Não fosse aquele gol salvador contra o Atlético Mineiro no Pacaembu, Adriano teria sido um peso morto. De Lula da Silva os petistas esperam algo semelhante, pelo menos. Resta saber se o restante da equipe vai ajudar a fazer a diferença.
 
Lula da Silva é um reforço de peso que se perdeu, todos reconhecem internamente. Externamente, o discurso é outro. Nem poderia ser diferente. Já imaginaram o técnico Muricy Ramalho sem Neymar em jogos importantes da Taça Libertadores? Ele não iria à Imprensa para dizer que está ferrado. Por isso mesmo que existe a intermediação da imprensa para esclarecer o que tem de ser esclarecido, denunciar o que tem de ser denunciado. Talvez o Santos seja mais dependente de Neymar do que Carlos Grana de Lula da Silva, do Lula da Silva imaginado como aliado de passeatas e palanques. O nó é que a diferença não é tanta assim. A dependência de Lula é uma realidade.
 
Tanto que o PT de Santo André está quebrando a cabeça para buscar alternativas amortecedoras do estrago. Imaginar que Lula da Silva vai se safar rapidamente do infortúnio e desfilará pelas ruas de Santo André com Carlos Grana a tiracolo é estupidez. Nem Luiz Marinho, protegido maior do ex-presidente, terá companhia tão empolgante nas caminhadas e comícios. Sorte dele que a Luladependência para reeleger-se é menos intensa.
 
Sem passado partidário
 
Certamente por sentir que o mar de Carlos Grana não está para peixe, Mário César de Camargo acaba de ser recomendado pelo PR (Partido da República) para ocupar a chapa petista. O consultor José Batista Gusmão, candidato a vereador pelo PR, articulou já no ano passado a filiação de Mário César. Foi uma surpresa o empresário que dirigiu a Abrigraf (Associação Brasileira de Indústria Gráfica) por 10 anos, passar para o campo político-partidário. Mário César jamais navegou por essas águas. Aceitar a recomendação, então, é o complemento de uma operação da qual o PT oficialmente não participou mas provavelmente vai compartilhar  com o possível anúncio da chapa.
 
As pressões de outras camadas representativas da classe média convencional deverão murchar na medida em que cair a ficha de que Mário César é espécie de hours concorse. O que o diferencia da imagem de José de Alencar, o vice escolhido por Lula e então senador da República, é que não tem militância político-partidária. Para a sociedade que representa, trata-se de fator ultravantajoso. Mário César de Camargo tem outra vantagem: está longe do provincianismo da maioria dos concorrentes à companhia de Carlos Grana.
 
Nem mesmo a crise por que passa a Administração Aidan Ravin, metida na sinuca de bico do Escândalo do Semasa, acena com segurança a possibilidade de Carlos Grana ocupar o Paço Municipal a partir de janeiro do ano que vem, retomando trajetória petista interrompida pela zebra de branco nas eleições de 2008.
 
O prestígio de Aidan Ravin está em baixa, ele se faz de vítima da quadrilha do Semasa, as realizações de um mandato capenga estão muito aquém de uma Santo André em crise de identidade econômica que afeta duramente o tônus social, mas a Luladependência de Carlos Grana parece falar mais alto. O PT de Santo André está unido em torno de Carlos Grana mas a maioria ainda não se deu conta de que o melhor é esquecer a voz rouca de Lula da Silva, porque a voz rouca de Lula da Silva está quase silente, fanhosa, cansada, comprometida num corpo agora a andar com o auxílio de bengala.
 
Quem torce por uma Província do Grande ABC menos medíocre no campo político já está feliz com a inscrição de Mário César de Camargo a uma disputa eleitoral, independente do companheiro de chapa, da agremiação partidária, de tudo que possa particularizar a arremetida. Duvido que ele aceitaria ser recomendado à composição da chapa de Aidan Ravin, para a qual bandeou inadvertidamente a classe média de Santo André na última eleição, em 2008, sob a lógica camicase de mudanças a qualquer custo. Se estava ruim com o PT de João Avamileno, longe do brilho e dos compromissos de Celso Daniel, ficou muito pior com a zebra vestida de branco. Mas isso pouco interessava aos grupos de pressão que se locupletaram e ainda se locupletam do vazio de governabilidade.
 
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