Política

Um Daniel de volta à política para
reforçar a campanha de Bonome

DANIEL LIMA - 14/05/2012

Depois da definição só aparentemente prematura de Raimundo Salles pelo sindicalista Cícero Martinha, eis que o ex-supersecretário da Administração Aidan Ravin, Nilson Bonome, anuncia a captura de um candidato a vice-prefeito. Rafael Daniel, sobrinho de tio famoso e respeitado, vai formar a chapa do PMDB. Agora resta saber quem estará ao lado do petista Carlos Grana e do petebista Aidan Ravin para completar a lista de concorrentes mais competitivos ao Paço Municipal.
 
Quem anda enroladíssimo é Aidan Ravin, mas Carlos Grana também não está nadando de braçadas. A cada dia que passa e repassa a escolha às bases diretivas do partido, mais o deputado estadual é engolfado por pressões de quem não quer ver Aidan Ravin nem pelas costas, mas que pode lhe negar o apoio desejado em caso de frustração. Nada é pior no mundo político, quando não pessoal, que acenar com perspectivas que não se confirmam. Quanto mais se alimenta o monstro da expectativa de poder, mais estragos ocorrem.
 
Nessa questão, Raimundo Salles foi sábio e não ficou com salamaleques: foi diretamente ao ponto com Cícero Martinha e, com isso, eliminou tortuosidades especulativas. Aqueles que estão no entorno mais imediato da campanha do candidato e constroem horizontes de participação intestina em eventual Administração imaginam o tamanho das possibilidades funcionais que os aguardariam.
 
A escolha de Cícero Martinha potencializa sim o grau de inserção de Raimundo Salles nas camadas corporativas. Cícero Martinha, experiente sindicalista, pode representar um salto do classe média Salles em redutos provavelmente insondáveis. Companheiro de chapa do petista Vanderlei Siraque nas últimas eleições municipais, Martinha tem certo controle sobre seu rebanho ideológico. Há, portanto, potencialidade de votos materializada no histórico do companheiro de chapa de Raimundo Salles. Martinha lida com gente trabalhadora, gente que bate cartão de ponto, gente que o conhece de longa data. Não é um fantasma a enfeitar a chapa de Raimundo Salles.
 
Campo metafísico
 
Enquanto Raimundo Salles deverá contar com elementos comprováveis de suporte suplementar de votos, porque Cícero Martinha tem relações factuais com a classe trabalhadora, o caso de Nilson Bonome e Rafael Daniel ganha desenho metafísico. Entra em campo com o sobrinho de Celso Daniel um feixe de votos ainda não dimensionado, a reboque da lembrança, do simbologismo, do histórico, do trauma, das conquistas e de tudo o mais que se referir àquele político que, ao deixar a vida em circunstâncias que abalaram o País, foi canonizado.
 
Nesse ponto, o jogo fica um tanto quanto complexo, porque a imaterialidade precisa ser relativizada. O que vai acontecer nos próximos meses com o noticiário vinculado ao assassinato de Celso Daniel poderá contribuir para engrossar o eleitorado de Nilson Bonome. Nenhuma conotação negativa da Administração Celso Daniel, já por demais repetida, de propinas que teriam gerado o próprio desaparecimento do prefeito (uma bobagem que a mídia industrializou por conta da atuação do Ministério Público), atingirá o espólio político-social daquele que seguramente foi o maior prefeito regional desta Província. Resta saber quanto da santificação de Celso Daniel será catalizada pelo sobrinho e transferida ao peemedebista que o chamou como reforço. Rafael Daniel é um vice vinculado à classe média a ostentar uma, marca familiar respeitável, apesar dos tios confusos, omissos, interesseiros e tardiamente arrependidos da grandeza do tio principal.
 
Nilson Bonome desferiu com Rafael Daniel um golpe de mestre nos demais concorrentes ainda órfãos de vice. Principalmente no PT que, estupidez máxima, não soube costurar aproximação com o sobrinho daquele que é com larga folga a maior expressão do partido na Província do Grande ABC. Quem sabe o ciúme que petistas mal-ajambrados ou excessivamente ambiciosos nutrem por Celso Daniel não seja um obstáculo cuja explicação estaria reservada a Freud?
 
Pois Nilson Bonome foi direto à fonte. Entre tantos que se pretendem herdeiros naturais do grande prefeito de Santo André, do político que seria um dos cinco homens de Lula da Silva na Presidência da República, Rafael Daniel é quem tem de fato uma plataforma de ensaios. Só não é vereador por conta do quociente eleitoral, mesmo após uma campanha franciscana por um partido menor.
 
Contornar obstáculos
 
A reeleição pretendida por Aidan Ravin, caso passe pelo corredor polonês do Escândalo do Semasa, possivelmente terá de contornar outro grande obstáculo político-partidário. O PSDB regional comandado por Willian Dib, ex-prefeito de São Bernardo, não aceita outra missão senão formar chapa com o titular do Paço de Santo André. Aliás, a executiva estadual tucana deve confirmar o alinhamento nos próximos dias. já que Aidan Ravin já entregou a rapadura, tão debilitado que está. É possível que o PSDB esteja a reservar uma vaga que parecerá definitiva mas que se tornaria apenas provisória caso as escorregadelas da Administração Aidan Ravin tornem-se insanáveis. Aí, os tucanos simplesmente retirariam o time de campo. Antes só, em posição de neutralidade ou quem sabe de bandeamento em direção a um candidato de oposição ao PT, do que mal acompanhado.
 
O drama de Aidan Ravin é que teria de aceitar o que todos desmentirão (um acerto provisório com o PSDB, com Ricardo Torres como possível companheiro de chapa), com o custo adicional de sofrer prováveis retaliações internas da base aliada. Afinal, a vice-prefeita Dinah Zekcer já começou a botar a boca no trombone, como o apoio ou o incentivo do marido, ex-deputado e atual vereador, Israel Zekcer.
 
E que boca no trombone é essa? Que não aceita ser desalojada da candidatura a vice à qual foi escolhida em 2008 porque precisava embalar um candidato desconhecido da classe média tradicional. Dinah, em linhas gerais, avalizou Aidan Ravin nas camadas mais tradicionais da cidade. A insistência de Dinah Zekcer em permanecer na chapa situacionista também é vista como uma ponte de material autodissolúvel conforme a elevação da temperatura do desgaste provocado pelo Escândalo do Semasa. Ou seja: em se tratando da candidatura de Aidan Ravin, tudo é provisório, nada é definitivo. É a participação da síntese da síntese da política.
 
Mulheres salvadoras?
 
Para completar o circo armado, o petista Carlos Grana e grupo de conselheiros sempre entre a cruz da unanimidade diretiva e a caldeirinha da praticidade eleitoral, segue fazendo fita. Somente em 40 dias estaria definido quem ocupará a vice. A novidade agora é que dá-se vida a uma teologia considerada equivocada porque sugeriria solucionar todos os problemas, sem levar em conta os ingredientes. Trata-se de simplificação tática condenada à derrota acreditar que basta colocar uma mulher de classe média ao lado de Carlos Grana para tudo se resolver. Acredita-se que a candidatura ganharia ares de modernidade, de qualificação, de prestígio em áreas formadoras de opinião.
 
Estão confundindo singular com plural. Mulher, qualquer que seja a mulher, sem apetrechamento político, partidário e comunitário, sem histórico, não vai resolver nada de nada. Dinah Zekcer não ajudou Aidan Ravin a ganhar as eleições de 2008 apenas porque é mulher, mas porque reunia atributos para quem se mete na arena política, os quais iam muito além do cargo de vereadora que ocupava havia quatro legislaturas.
 
Alguns nomes ventilados à composição petista têm lastro em determinados segmentos, mas não passariam por escrutínio mais amplo. O perfil de José de Alencar que esculpiu o modelo ideal de capital e trabalho à vitória presidencial de Lula da Silva é o retrato do empresário Mário César de Camargo. Colocá-lo lado a lado com as mulheres pretensamente concorrentes e fazê-los expor seus planos de governo confirmaria a diferença entre ter Neymar e Liédson com a missão de desequilibrar um jogo.
 
Mário César de Camargo só não ocupa função pública ditada pelo voto popular porque jamais pretendeu passar por escaramuças morais e éticas que fazem da política um jogo bastante pesado. Se está disposto agora, convencido por um grupo de admiradores, estejam certo de que ele não participaria de uma possível Administração Carlos Grana apenas por conta de projeto de poder. Talvez esse seja o maior empecilho à escolha.  Certamente é o maior motivo à escolha.


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