A Operação Camicase patrocinada por um triunvirato trapalhão (o deputado estadual Donisete Braga, o vice-prefeito e secretário de Saúde Paulo Eugênio Pereira e o presidente do Legislativo, Rogério Santana) é uma associação duplamente explosiva de voracidade pelo poder e medo incontido da candidatura oposicionista de Vanessa Damo.
Se não bastasse a dinâmica de videocassetadas do golpe de Estado perpetrado contra o prefeito Oswaldo Dias, eis que o calendário pregou uma peça nos malfeitores éticos: o prefeito está impedido de participar da disputa por conta de inelegibilidade determinada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. O chamado escândalo do Túnel do Tempo não lhe dá sossego.
Além de açodado, o triunvirato se revelou desinformado, porque é inadmissível que a agenda judicial do prefeito Oswaldo Dias não fosse do conhecimento da cúpula partidária do Município. Há quem tente minimizar a rasteira sofrida por Oswaldo Dias, mas a emenda só compromete o soneto. Donisete Braga, Paulo Eugênio Pereira e Rogério Santana são nomes a ser grafados em negrito, caixa alta e tudo o mais como símbolos de imprudências do PT de Mauá. Ou pode ser tratado de outra forma um grupo que toma o poder decisório e passa por cima do encontro dos mais de 400 delegados petistas que no último 22 de abril aprovaram por unanimidade o nome de Oswaldo Dias à reeleição?
Afoiteza do deputado
Principalmente a biografia de Donisete Braga dificilmente deixará de expor essa mancha de afoiteza, com peso significativo no imaginário dos eleitores em outubro próximo, caso a oposição com Vanessa Damo, peemedebista que se fortalece com a crise petista, saiba explorar os flancos abertos pelos imprevidentes vermelhinhos.
Já imaginaram o estrago caso a traquinagem ética e partidária de Donisete Braga, Paulo Eugênio Pereira e Rogério Santana fosse objeto de divulgação e análise numa rede de televisão aberta? Sorte deles que a Província do Grande ABC não reúne condições tecnológicas para sustentar retransmissora de uma TV Globo. Ou alguém tem dúvidas sobre o conjunto de fatos que determinaram a produção dessa comédia pastelão que termina com a cassação interna do candidato petista pouco antes de ter seus direitos políticos cassados pelo Tribunal de Justiça, o que o impede de concorrer em outubro?
Como se explicam tamanhas estultices? Simples: eles se arvoram conhecedores profundos de política e mergulharam de cabeça, tronco e membro numa piscina vazia chamada avaliação de pesquisas eleitorais. Sabe-se lá que tipo de formulação teórica foi levada aos eleitores, que resultou na constatação de que o povo que vai às urnas em Mauá quer renovação. Os trapalhões do PT entenderam que Oswaldo Dias estava longe desse perfil numa conjugação de dados que identificam também desgaste do prefeito. Tudo bem se eles não participassem ativamente da Administração. Reagiram, portanto, como opositores.
Mais ainda: como Vanessa Damo supostamente vem liderando pesquisas informais, viram o fantasma de que a peemedebista simbolizaria o critério de renovação demandado como pretensamente vitorioso. Aí saltou da cartola do triunvirato o nome de Donisete Braga, deputado estadual na terceira legislatura e reconhecido pela capacidade de quebrar a rotina de mesmices da maioria dos parlamentares. Ele é o cara, ele é a renovação personificada. E daí à rasteira
Custo elevado da ação
Mesmo supondo que a leitura da pesquisa tenha sido correta, que não houve equívoco algum na interpretação dos dados, nada autorizava o deputado estadual, o vice-prefeito e o chefe dos vereadores a promoverem a lambança que culminou na deposição da candidatura de Oswaldo Dias apenas três dias antes do Tribunal de Justiça de São Paulo se reunir. A troca que poderia ser feita sem traumas, ganhou o formato de crise que vai custar muito caro. Ou alguém tem dúvidas de que o PT precisará de muito mais esforços e até quem sabe de uma coalizão que instale como companheiro de chapa de Donisete Braga alguém de outra agremiação, não mais Paulo Eugênio Pereira, para sagrar-se vencedor em outubro?
Não resisto a investigar horizonte mais próximo após tantas demonstrações de incompetência. As facilidades oferecidas de bandeja pelos petistas trapalhões a Vanessa Damo provavelmente não serão desperdiçadas. Entre os indecisos, que formam a maioria do eleitorado, quem resistirá a mensagens bem alinhadas que coloquem Donisete Braga e Paulo Eugênio Pereira na condição de avalistas da candidatura de Vanessa Damo, já que assinaram um atestado público de que a Administração petista de Oswaldo Dias seria um fracasso tão estrondoso que o próprio vice-prefeito e o deputado estadual queridinho do partido na cidade trataram de defenestrá-lo?
Talvez o que se rivalize com as patacoadas petistas em Mauá seja a omissão do prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, líder do partido na Província do Grande ABC. Imaginava-se que o processo eleitoral regional contasse com maior controle institucional do homem escolhido por Lula da Silva para concorrer ao governo do Estado em 2018, mas pelo andar da carruagem o que se observa é que essa liderança está esquadrinhada apenas à viabilidade financeira dos candidatos, deixando-se para segundo plano estratégia de organização que identifique e desmobilize crises internas.
Mauá é o calcanhar de Aquiles do PT na Província do Grande ABC. É um rastilho de pólvora do qual os adversários poderão usufruir bastante. Basta ver que o noticiário sobre o Escândalo do Semasa, líder absoluto de audiência durante muitas semanas, perdeu importância nas manchetes. O trio de Mauá é insuperável, mas conta com a retaguarda de descuido de gente mais graduada.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)