Política

O que vai fazer Marinho para se
desligar de um vice incômodo?

DANIEL LIMA - 23/05/2012

Indispensável na campanha eleitoral que levou Luiz Marinho ao Paço Municipal de São Bernardo em 2008, o forrozeiro Frank Aguiar tornou-se incômodo às disputas desta temporada. Marinho tentará a reeleição que aumentaria a força motriz para sonhar com o Palácio dos Bandeirantes, seis anos depois. Por que o petebista era importantíssimo há quatro anos e hoje é descartável? Pelo simples fato de que o prefeito já não é um ponto de interrogação, muito menos uma ameaça em forma de ex-sindicalista que as donas de casa da periferia tanto temiam. E também porque Frank Aguiar já deu o que tinha de dar. Aliás, deu mais o que tinha de dar, porque andou se metendo em algumas lambanças extra-campo que pesam sobre seu futuro político.


 


O vice do sonho acordado de Luiz Marinho é um representante da classe média de São Bernardo, Tunico Vieira, peemedebista ex-secretário da Administração William Dib. Também foi candidato a vice de Vicentinho Paulo da Silva nas eleições de 2004, quando William Dib ganhou de lavada. É um nome respeitado e alcança um eleitorado completamente esquecido pelo grupo petista que comanda o Paço Municipal. A classe média de São Bernardo foi excluída da Administração Marinho. A classe média a que me refiro é a tradicional, que em São Bernardo não é tão pronunciadamente formada por profissionais liberais e pequenos e médios empreendedores como em Santo André e São Caetano. Emergiu de altos escalões corporativos.


 


Não há dúvidas quanto ao favoritismo de Luiz Marinho em São Bernardo, mas não há dúvidas também de que esse mesmo favoritismo foi bem maior e exige monitoramento permanente para que não corra o risco de desandar. Por isso mesmo Frank Aguiar deixou de ser ingrediente de valor eleitoral importante. Não consta nem mesmo como cereja do bolo de fortalecimento do PT nos bairros mais periféricos. A fama do cantor, da qual se utilizou o PT para abrir portas e janelas hostis ao sindicalista Marinho em 2008, foi substituída por obras e um marketing de aproximação física do prefeito.


 


Mundo que gira


 


O mundo político-eleitoral é tão estranho e feito de equações improváveis que uma medição atual das possibilidades de sucesso eleitoral de Luiz Marinho e de Aidan Ravin, em Santo André, não reproduziria a vantagem do primeiro um ano atrás, embora, contraditoriamente, um ano atrás a perspectiva fosse mais alvissareira para o petista do que para o petebista. Vou tentar explicação a situação para justificar a relevância de o PT de São Bernardo correr mesmo atrás de Tunico Vieira.


 


Um ano atrás, Luiz Marinho não tinha oponente à vista em São Bernardo. Nadava de braçadas porque os oposicionistas estavam entregues às baratas. O ex-presidente Lula da Silva prometia participar de inúmeros compromissos de Luiz Marinho, tanto quando de Carlos Grana, o candidato do PT em Santo André. Nem se cogitava o retorno eleitoral de José Serra em São Paulo. Já Aidan Ravin mantinha uma Administração inócua, óbvia em investimentos em Saúde e Educação, de dinheiro carimbado.


 


Agora o que se tem é uma oposição mobilizadíssima em São Bernardo e um Aidan Ravin abaladíssimo principalmente com o Escândalo do Semasa. Sem contar com um Lula da Silva caindo pelas tabelas por conta da enfermidade que o acometeu o PT respira fundo. Lula é um desfalque sensível mais para Carlos Grana do que para Luiz Marinho, mas sempre um desfalque importante. O ex-presidente seria uma espécie de Neymar da candidatura de Carlos Grana, pronto para desequilibrar o jogo. Luiz Marinho pode ganhar o jogo sem Neymar e Ganso, mesmo que sofra muito com as ausências.


 


Tudo isso significa que apesar de uma Administração voltada para o social com amplo sucesso porque os investimentos são milionários, e mais recentemente de obras viárias que já começam a transmitir a sensação de que há um governo municipal que também se preocupa com os motorizados emergentes e de classe média, o prefeito Luiz Marinho está acossado por uma oposição unida. Já Aidan Ravin, em franca decadência, não pode ganhar a forma de carta fora do baralho porque a candidatura petista patina e as demais sofrem com a falta de fôlego financeiro.  Somente um impeachment decidiria de vez a questão sem que se tenha Aidan Ravin, no contexto destes dias, como concorrente relativamente forte.


 


Dança dos números


 


Sintetizando tudo isso numa aleatória escala de probabilidades, diria que em maio/junho do ano passado a perspectiva que se apresentava pela disputa da ponta eleitoral entre Aidan Ravin e Carlos Grana era algo como empate técnico, enquanto entre Marinho e o eventual oposicionista ainda soterrado de dúvidas estaria mais ou menos num patamar de 80% versus 20%, com muito boa vontade. Hoje, passados 12 meses, quem disser que a pobre Administração de Aidan Ravin não contaria com pelo menos a igualdade de possibilidades de vitória ante a soma dos candidatos de oposição estará subestimando a capacidade verde e amarela de transformar escândalos em frustrações, quando não em perseguições a consagrar vilões. Enquanto isso, Luiz Marinho, apesar de bem avaliado em vários setores, não conta com mais de 65% de sucesso eleitoral. Ou seja, caiu em relação à temporada passada. Se não fechar com Tunico Vieira, corre o risco de rebaixamento do percentual.


 


É claro que essa numeralha toda deve considerar também o simbolismo da reeleição de Luiz Marinho, muito mais importante no contexto macroeleitoral estadual do que a reeleição de Aidan Ravin. Afinal, enquanto o prefeito de Santo André luta apenas por novos quatro anos de mandato sem que eventual derrota abale os alicerces do Palácio dos Bandeirantes, a quem está atrelado, o prefeito de São Bernardo é determinante aos planos de renovação política do ex-presidente Lula da Silva e enfrenta um Palácio dos Bandeirantes engajadíssimo no projeto de dificultar ao máximo os passos petistas, espalhando obstáculos onde for possível para, no mínimo, reduzir o placar eleitoral em nível suficiente para distanciar Luiz Marinho da consagração numérica imaginada um ano atrás.


 


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