Política

Marinho entra em campo para
tentar salvar lavoura em Mauá

DANIEL LIMA - 25/05/2012

Como era de se esperar para quem quer ser governador do Estado e precisa dar provas de que sabe cuidar da lavoura regional do PT, o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, saiu a campo para minimizar os prejuízos provocados pela divisão petista em Mauá. Como se sabe, o prefeito Oswaldo Dias foi apeado da perspectiva de concorrer à reeleição por um grupo dissidente antes mesmo de se tornar judicialmente inelegível. Uma burrada e tanto que demonstra a fragilidade do monitoramento petista em âmbito regional. Parece que, até então, somente a arrecadação de recursos eleitorais constava do painel de controle que tem o mapa da Província do Grande ABC na tela.
 
A remediação proposta mostra que Luiz Marinho não perdeu o apetite e a acuidade à conciliação dos tempos de maturidade de sindicalista. Isso é muito bom para o Partido dos Trabalhadores. Seria perfeito se não coubesse contraponto: mais que agir com serenidade e inteligência durante um processo de ruptura, o grande líder se consagra mesmo quando é capaz de preparar-se para evitar complicações. Em outros termos, mais que ações reparativas brilhantes, Luiz Marinho precisa provar também que sabe agir preventivamente. No caso de Mauá, não soube.
 
Destacado informalmente pelo ex-presidente Lula da Silva coordenador-geral do PT na Província do Grande ABC, Luiz Marinho não pode limitar artilharia às demandas de financiamento das campanhas, entregues ao presidente do São Bernardo Futebol Clube, Luiz Fernando Teixeira Ferreira. Regionalizar a arrecadação eleitoral é um método que provoca escaramuças partidárias, mas tem a vantagem de proporcionar economia de escala. Não me perguntem o que significa economia de escala porque esse é um assunto para outro artigo.
 
Tomara que Marinho, também no quesito de aportes de recursos financeiros, fique atento a possíveis ações heterodoxas (ou as ações heterodoxas se tornaram ortodoxas no cenário político que ganha visibilidade nas manchetes de jornais?) para não ter o prestígio chamuscado quando a campanha necessariamente terá de ultrapassar o mercado regional, ganhando dimensão muito maior.
 
Contragolpe de Dias
 
O contragolpe à problemática armada em Mauá pelo triunvirato formado pelo deputado estadual Donisete Braga, o vice-prefeito Paulo Eugênio Pereira Júnior e o presidente da Câmara, Rogério Santana, foi disparado pelo prefeito cassado duas vezes -- pelos petistas e pelo tribunal paulista. Oswaldo Dias melou o jogo que se desenhava favorável a Donisete e a Paulo Eugênio ao escalar para o embate partidário que definirá a chapa petista às eleições municipais o então secretário de Obras, Hélcio Silva.
 
Se a situação já era grave, porque as fissuras no PT em Mauá não poderiam ser subestimadas, a emenda do lançamento do candidato de Oswaldo Dias tornou a perspectiva ainda mais complexa. Agora, a solução providencial de Luiz Marinho está na composição Donisete-Hélcio. Um remendo bastante interessante, convenhamos. Pena que, pelo menos por enquanto, apenas reduzirá o grau de perdas petistas. Os oposicionistas em Mauá, principalmente a jovem Vanessa Damo, estão a preparar discursos que pretendem mostrar à população o potencial de risco de entregar mais quatro anos de governo a gente que não se entende mesmo vestindo a mesma camisa.
 
A dúvida sobre o então distanciamento do prefeito Luiz Marinho das questões partidárias e eleitorais em Mauá (e provavelmente em outros municípios da Província) é se houve negligência, descuido ou empáfia. Quem sabe foram os três quesitos em conexão perversa que influenciaram os acontecimentos? Ou é concebível que, sabendo-se que o PT é uma marca político-partidária indivisível na interpretação dos eleitores da região, com repercussões ao sabor do noticiário, chegue-se a desarranjo tão escandaloso?
 
Possivelmente depois dessa porta arrombada a coordenação regional do PT na Província do Grande ABC passe por reformulação completa. Até porque, as fraturas expostas em Mauá denunciam que essa instância de controle macrorregional é uma ficção que só se materializa nas tentativas de centralizar a arrecadação de recursos para financiamento eleitoral.
 
O predomínio do poderio regional da economia de São Bernardo já seria suficiente para um prefeito petista local arrebanhar os iguais partidários e doutriná-los a planos estratégicos que não permitiriam dissensões. Somando-se a essa realidade o histórico do prefeito Luiz Marinho e a proximidade com Lula da Silva, qualquer tentativa de transferir as divergências à suposta autonomia de Mauá não passaria de bobagem juramentada.
 
Dib, uma contraponto
 
Talvez o prefeito Luiz Marinho e o grupo mais próximo de supostos pensadores do PT na Província do Grande ABC tenham muito a aprender com William Dib, ex-prefeito de São Bernardo, hoje deputado federal. Mesmo sem cargo de exponencial importância, como o Executivo de uma cidade que vai arrecadar no ano que vem mais de R$ 4 bilhões, William Dib coordena com mão de ferro e luvas de renda, de acordo com cada situação, os oposicionistas do PT na Província do Grande ABC. Está fazendo o possível para tornar um jogo regional que se desenhava de goleada pró-PT competição mais acirrada, porque reconhece a importância da região, numérica e simbológica, na disputa ao governo do Estado em dois anos.
 
Talvez o prefeito Luiz Marinho tenha de ser alertado por eventuais inteligências do PT sobre as limitações do viés de industrializador de obras. Caberia uma parada para reparos estratégicos, acrescentando cuidados especiais com o desvendar da direção dos ventos eleitorais nem sempre possível para quem não se dedica a valer à matéria. Luiz Marinho precisa exercitar mais cobranças de pênaltis porque o jogo jogado na política regional lembra esses mata-matas da Libertadores, não os jogos de cartas marcadas dos mata-matas do Campeonato Paulista que, só de vez em quando, permitem alguma surpresa.   


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