Trafegam pela mesma raia de desmoralização pública a insistência de se aplicar um chega-pra-lá no prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, e um chega-de-conversa no prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. A desastrosa operação que culminou na tomada do poder partidário de Mauá pelo deputado estadual Donisete Braga, pelo vice-prefeito Paulo Eugênio Pereira e pelo presidente do Legislativo local, Rogério Santana, soterrou temporariamente o suposto brilho de coordenadoria-geral do PT na Província do Grande ABC, que seria exercido por Luiz Marinho, concorrente à reeleição e olhos postos no Palácio dos Bandeirantes.
É impressionante a capacidade de meter-se em trapalhadas dos insubordinados petistas de Mauá. Não bastasse a ruptura amalucada com o prefeito Oswaldo Dias, um dia útil antes do próprio titular do Paço Municipal ter os direitos políticos suspensos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, penalidade que o impede de concorrer à reeleição, o triunvirato formado por Donisete, Paulo e Rogério, espécie de Trio Cabeça Dura, apressou-se em cortar as pernas do titular do Executivo. Tomaram-lhe a frente, o consideraram potencialmente derrotado à disputa de outubro porque não sinalizaria a renovação que uma pesquisa de opinião pública teria detectado, e ainda lhe retiraram o direito de indicar até mesmo o vice de uma nova chapa. No estilo mais stalinista de ser.
Como bobagem pouca não cabe na carroceria de improvisos do Trio Cabeça Dura, o prefeito Luiz Marinho, atrasadíssimo na reação por si só confessional de que estava a negligenciar a movimentação das pedras em Mauá, foi reduzido a pó. Tudo porque, no mesmo dia em que os jornais, semana passada, divulgavam que Luiz Marinho estava se envolvendo mesmo que tardiamente na questão, sugerindo uma composição das duas alas em litígio, com o secretário de Obras Helcio Silva na chapa do insurgente Donisete Braga, eis que esse deputado estadual e Paulo Eugênio reuniram algumas centenas de militantes petistas para confirmar que estão juntos e não arredam pé da decisão de concorrerem ao Paço Municipal. Ou seja: não serão Oswaldo Dias e Luiz Marinho que vão demovê-los da decisão.
Emenda ingênua
Cristais quebrados, declarações pacificadoras muito distantes da sinceridade efetiva, agora o Trio Cabeça Dura se mete em nova empreitada: derramar elogios à Administração Oswaldo Dias, prometendo-lhe a função de principal condutor do processo que visa a manter o PT no poder
Não há dúvida que essa tragicomédia não terminou. Os jornais não têm traduzido o outro lado da moeda em forma de reações dos oposicionistas a tantas barbeiragens, mas sabe-se que estão todos assanhados. Quem andava encruado, fora de perspectiva eleitoral, já arregaçou as manguinhas. Vanessa Damo, deputada estadual que aparece como maior beneficiária do desastre petista, arma-se com barricadas de marketing. Até se trabalha a ideia de um mote de campanha preliminar para sintetizar o espírito do eleitorado incrédulo ante os acontecimentos. Seria algo assim: “Se o PT não aprova o PT, só temos a lamentar que o mandato de Oswaldo vá até o último dia do ano”.
Os marqueteiros petistas, é claro, não abandonaram o barco à deriva. Procuram uma saída honrosa. Mais que isso: ainda acreditam em algo que reverta a desvantagem concedida de bandeja a uma oposição que não conseguia encaixar com precisão os golpes de desclassificação da Administração Oswaldo Dias. O prefeito de Mauá se sente na mesma situação de um boxer que, em franco combate ante um adversário poderoso, mas nem por isso capaz de lhe impedir a manutenção do título, vê-se, de repente, surpreendido e nocauteado pelo próprio treinador, inadvertidamente um invasor do tablado. Qualquer imagem que o PT procure repassar sobre os acontecimentos dos últimos dias será manipulação descarada.
Por isso mesmo vai ser muito cansativo e possivelmente improvável reenquadrar os dispositivos de valorização da Administração Oswaldo Dias, ponto nuclear para embalar a candidatura de Donisete Braga e seja quem for seu companheiro de chapa, se Paulo Eugênio mesmo ou o sugerido por Oswaldo Dias e apoiado por Luiz Marinho.
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17/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (9)