Política

Virada da biruta pode levar PT
a perder jogo eleitoral por 6 a 1

DANIEL LIMA - 05/06/2012

É uma extravagância para qualquer que seja o lado, o lado petista e o lado antipetista, o  jogo dos vermelhinhos e dos azulados reforçados por outras tonalidades, mas 6 a 1 nas eleições na Província do Grande ABC não seria um resultado fora do esquadro eleitoral. No ano passado a potencialidade do placar corria em direção ao PT. Agora, há insinuações de que o PT ficaria apenas com o gol de sempre, de Diadema. Perderia até São Bernardo de Luiz Marinho. Pode?
 
O alerta vermelho já foi acionado. O PT quer chegar ao governo do Estado senão em 2014 mas provavelmente, para valer mesmo, em 2018. A Província de sete municípios é vital nessa projeção. O domínio político-eleitoral daria a Luiz Marinho o impulso de que tanto necessita para primeiro conquistar cidadelas internas, naturalmente indigestas, mesmo contando com o suporte do ex-presidente Lula da Silva. Depois de viabilizar-se internamente, Luiz Marinho partiria para amplo vôo estadual.
 
Entretanto, sem o controle da Província do Grande ABC o plano faria água. Como convencer concorrentes petistas na luta intestina que fragmenta a agremiação (a ponto de Marta Suplicy praticamente romper com Lula por conta da escolha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo) sem  o respaldo de números, de estatísticas, de respeitabilidade entre os iguais vermelhinhos e entre os aliados de outras tonalidades na região-berço do petismo?
 
Mudança regional
 
Até o final do ano passado tudo indicava que o PT ganharia de lavada na Província do Grande ABC. Mas aí veio a doença de Lula da Silva. Aí veio a candidatura de José Serra em São Paulo. Aí veio William Dib, ex-prefeito de São Bernardo e hoje deputado federal, a organizar as oposições na região. Aí veio a crise na indústria automotiva a demitir milhares de trabalhadores na região. Aí veio a crise em Mauá, que desalojou da reeleição um triprefeito só porque o PT pretendia lançar um candidato supostamente de renovação. Que conceito é esse se na vizinha Ribeirão Pires o PT manda a campo para disputar a Prefeitura uma mulher manjada de veterana, a ex-prefeita Maria Inês Soares?
 
Aí veio também muita disputa pelo controle orçamentário das campanhas eleitorais, com uma capa preta de Luiz Marinho a cercar o frango de dissidências em todos os cantos.
 
O PT está em crise na região e no País. Não se pode esquecer das dissensões da base aliada de Dilma Rousseff. Tampouco o embicamento do PIB, que ameaça não passar de 2,5% na temporada.
 
Está certo que o PT agora tem um Lula parcialmente recuperado das dores do tratamento. Que tem Dilma Rousseff muito bem avaliada pela população brasileira. Que tem um quadro de emprego em desaceleração mas positivo em números, mesmo que dois terços das vagas remunerem não mais que valores limitados a dois salários mínimos. Isso tudo contrapõe-se às sangrias. Mas é sempre bom lembrar que Lula não terá fôlego, pernas e principalmente garganta para empurrar candidaturas mornas como a de Carlos Grana em Santo André. Não se pode esquecer também que Dilma Rousseff é vista mais como mulher arretada do que como integrante da confraria petista, tanto que em São Caetano mais ajuda a candidatura de uma mulher do que a estrela vermelha.
 
Está certo que disputas eleitorais se decidem principalmente por fatores internos, de cada município ou, no máximo, como é o caso da Província do Grande ABC, pelo efeito contaminador de virtudes e escorregões regionais de partidos que se confundem com os candidatos. Mas o ambiente externo também influencia.
 
O PT da Província sofre de males externos e internos. A suposta liderança regional de Luiz Marinho não é suficiente forte para impedir, por exemplo, a crise quase eliminatória de possibilidades de manter a Prefeitura de Mauá. Os remendos providenciados não passam mesmo de  remendos. Luiz Marinho interveio, escalou juntamente com Oswaldo Dias um vice de conciliação, o ex-secretário de obras Hélcio Silva, mas isso não significa que o eleitorado passou um mata-borrão nos acontecimentos que geraram uma crise fora de hora e de propósito. Uma crise que abalou a confiança do eleitorado na marca PT com forma de governar e também como forma de se entender internamente.
 
Placar possível
 
Seis a um para os azulados e correlatos na Província do Grande ABC não seria um placar inverossímil. Diadema é favas contadas, é verdade, mas Alex Manente aperta o cerco em São Bernardo, Salles em Santo André, onde Aidan Ravin resiste e pode driblar a todos como Lula driblou os denunciadores do Mensalão. Em São Caetano, Edgard Nóbrega é bom moço mas não consegue nem carona na candidatura de Paulo Pinheiro, segundo na bolsa de cotações que privilegia Regina Maura, a Dilma Rousseff de José Auricchio Júnior. Em Ribeirão Pires é difícil acreditar na vitória de Maria Inês Soares com novo visual e a dose de idiossincrasia de sempre. E em Rio Grande da Serra o prefeito Kiko Teixeira tem bala para fazer o sucessor tucano.
 
O jogo está ficando problemático para o PT. E como má notícia sequencial é pouco, eis que as microprovíncias estão sendo invadidas por milhares de exemplares de uma revista que toca num calcanhar de aquiles petista que, por mais que junte bobagem com eventuais fatos, ou seja, o assassinato de Celso Daniel sob a ótica de crime de encomenda e a rede de propinas a lubrificar as engrenagens daquela Administração Municipal, transporta uma carga explosiva de credibilidade. A reportagem não carrega demais nas tintas e nos textos, daí somar mais adeptos da tese de que uma coisa e outra coisa formaram uma coisa ainda maior e desastrada.
 
Não aposto com ninguém que teremos 6 a 1 a favor de azulados e congêneres na Província do Grande ABC. Mas que é bom começar a pensar nisso, não resta dúvida.


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