Política

Aidan sujinho e Donisete limpinho,
quem, afinal, teria mais vitalidade?

DANIEL LIMA - 06/06/2012

Sem lero-leros nem biro-biros, vamos diretamente ao ponto, de olho nas eleições de outubro mas com as fotografias do momento: quem tem mais possibilidades de vencer as eleições, o sujinho prefeito Aidan Ravin, em Santo André, ou o limpinho candidato a prefeito em Mauá, deputado estadual Donisete Braga? Arriscaria o leitor uma resposta? Como este texto é o último que produzo antes do feriado prolongado (feriado uma pinóia, porque vou trabalhar intensamente em meu escritório domiciliar, como sempre o faço em dias semelhantes) haverá tempo de sobra a reflexões.
 
Querem os leitores minha resposta, curta e grossa para começar e, em seguida, bastante reflexiva? Pois pelo retrato do momento, somando-se perspectivas até onde o bom senso e as informações estratégicas permitem chegar, digo e repito que o sujinho Aidan Ravin tem mais viabilidade que Donisete Braga.
 
Isso não significa que a perspectiva irá se consolidar e tampouco que Aidan Ravin iria seguramente se eleger, mas que está pintando um recuo no estrebuchamento a que o submeteram, não resta dúvida. Mesmo com o contragolpe dos oposicionistas em Santo André, que fabricam uma nova CPI para manter a Administração Aidan Ravin sob o crivo de balas, não se pode descartar a força e, principalmente, o carisma do prefeito.
 
As lambanças do PT em Mauá, que respingaram nas demais candidaturas do partido na Província do Grande ABC, não são lambanças comuns. São lambanças homéricas, típicas de sede de poder, de brigas intestinas, de açodamento. Tudo sob o patrocínio, segundo garantem fontes, do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Atribui-se ao suposto coordenador regional do Partido dos Trabalhadores na Província do Grande ABC a arquitetura do caos da candidatura golpeadora de Donisete Braga. Uma decisão tresloucada, tomada um dia útil antes da inelegibilidade do prefeito Oswaldo Dias pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por conta de uma bobagem sem tamanho de instâncias menores do Judiciário.
 
Defesa é peça de marketing
 
Ao apear da possibilidade de reeleição um triprefeito que, mesmo sob desconfiança e desaprovação relevantes, seria um candidato competitivo a novo mandato, o PT deu um tiro nos dois pés. As tentativas de remediar a situação, como a entrevista do vice-prefeito Paulo Eugênio Pereira numa página inteira do Diário do Grande ABC, são muito mais uma peça de marketing do que uma análise sustentável quando submetida a contraditórios independentes. O PT tenta disfarçar o indisfarçável e, mais que isso, sugerir que a operação-trapalhada converteu-se em marketing de sucesso. Quanto desprezo pela inteligência além-petista!
 
Já com Aidan Ravin o que se tem é uma disputa partidária que vai muito além da moralização da gestão pública. Que o Semasa é uma casa da sogra todos sabem e faz tempo, muito antes de Aidan Ravin virar vereador a partir dos partos industrializados que o consagraram nas camadas mais pobres da população. A instrumentalização político-eleitoral do Semasa, portanto, não é novidade na gestão pública de Santo André. Historicamente, o Executivo nada de braçadas no orçamento da autarquia. Uma investigação criteriosa e minuciosa provavelmente construiria dezenas de enredos paralelos que culminariam na construção de um enorme edifício de falcatruas. Sempre foi assim. Somente a penumbra midiática de uma região sem emissora de TV de massa explicaria a manutenção despudorada das algazarras no Semasa. O caso do Residencial Ventura, que beneficiou Sérgio De Nadai, é apenas uma das muitas irregularidades que não resistiriam a uma investigação administrativa minimamente séria.
 
O desgaste da Administração Aidan Ravin é evidente, mas não penetra em camadas populares e tampouco é levado tão a sério por uma classe média anestesiada por crises intermináveis de corrupção no País. A repetitividade das denúncias, o esticamento de uma nova CPI, as investigações policiais, o parecer do Ministério Público, tudo isso contribui para expor as vísceras de uma tragédia administrativa anunciada, mas nem por isso decididamente liquidada. Até porque, o embate subjacente em Santo André evoca no fundo da alma dos mais politizados uma disputa entre situação e oposição, o que reduz o impacto real das malandragens embutidas. Em Mauá, a destruição da imagem do PT decorre da disputa entre facções partido. É PT versus PT.
 
Quem lava mais branco?
 
Ou seja, na disputa paralela entre o sujinho Aidan Ravin e o limpinho Donisete Braga, o paradoxal entra em campo em forma de sabão em pó para lavar a roupa de maledicências entre situação e oposição em Santo André, enquanto a lama é atirada em direção a Donisete Braga na forma de excessos partidários com mensagens subliminares de que durante pelo menos os últimos três anos o partido foi cúmplice (e igualmente negligente) de uma Administração Municipal reprovada pela população – pelo menos foi esse o argumento petista para puxar o tapete de Oswaldo Dias.
 
Também se deve considerar no confronto entre o aparentemente sujinho Aidan Ravin e o aparentemente limpinho Donisete Braga que a recuperação ou a tentativa de recuperação petista em Mauá se dará exclusivamente com os esforços do partido, enquanto o prefeito de Santo André conta com força-tarefa do governo do Estado que não pretende abrir mão do endereço na lista de Prefeituras azuladas. Sim, Aidan Ravin conta com reforços na área jurídica e também de marketing de enviados especiais do PSDB. Gente graduada, experiente e decidida a primeiro enrolar os adversários e, em seguida, quando a cobra tiver de fumar, dar um golpe fatal e botar na rua não o vilão de falcatruas, mas a vítima dos inconformados. Tal qual Lula da Silva no caso do Mensalão.
 
Pode ser que o jogo vire, mas, por enquanto, Aidan Ravin é muito mais favorito a manter-se competitivo na disputa de outubro do que Donisete Braga. Os estrategistas de Aidan Ravin lavam mais branco e os aliados de Donisete Braga não são aquela Brastemp.


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