Política

Uma mulher nas eleições de Santo
André e as alternativas que se abrem

DANIEL LIMA - 11/06/2012

O lançamento da candidatura da médica Ana Glória da Silva à Prefeitura de Santo André pelo PSDC evoca pelo menos três consequências especulativas:
 
Primeiro: quanto individualmente e no conjunto perdem os demais candidatos, todos do sexo masculino?
 
Segundo: quem será o homem a ser escolhido para formar a chapa com essa profissional também com curso de graduação em gestão pública?
 
Terceiro: quem vai ter coragem de enfrentá-la de peito aberto e língua solta nos debates públicos e mesmo reservados, sabendo-se que poderá passar recibo de deselegante?
 
É possível que com um pouco mais de esforço mental se chegue a outras perguntas, porque é sempre viável botar mais fogo na fervura nestas alturas do campeonato, mas que Ana Glória da Silva está aí para dar um chega-pra-lá na mesmice de marmanjos atrás de votos, é inegável.
 
O que se sabe de Ana Glória é que tem o estopim curto como Dilma Rousseff. O prefeito Aidan Ravin não é alguém a quem se deva perguntar até que ponto se deve pisar na bola com essa ginecologista com uma carteira extensa de pacientes. Dizem que o prefeito teve de ouvir Ana Glória fora do tom conciliador e amistoso que caracteriza a maioria das mulheres em estado convencional, de sociabilidade. Ana Glória teria lhe dado alguns catiripapos verbais que o fizeram ruborizar, garante uma fonte insuspeita.
 
Aidan já sentiu 
 
Traduzindo tudo isso, o que quero dizer é que Ana Glória da Silva não seria alguém a quem se deva chamar de procrastinadora de emoções e reações. Ela chutaria o pau da barraca quando o pau da barraca precisaria ser chutado. O prefeito Aidan Ravin, a quem apoiou nas eleições de 2008, já teria sentido a força da personalidade da agora candidata de oposição.
 
Respondendo à primeira pergunta, o tamanho e as dimensões da perda individual e coletiva dos homens só o tempo definirá. Mas, de imediato, o que sei e sei mesmo porque não tem como não saber, desde que foi anunciada a candidatura, é que Ana Glória bagunçou principalmente a campanha de Carlos Grana, do PT.

Dava-se  entre os petistas como certa a coligação com o PSDC. Talvez o que Grana não sabe mas acabará sabendo porque não é bobo nem nada é que além do PSDC outros partidos deverão perfilar-se ao lado de Ana Glória. Todos comprometidos inicialmente com o PT.
 
Os demais candidatos masculinos não têm motivo algum para festejarem a desgraça petista. Ana Glória da Silva fez um esparramo geral. A presença de uma mulher no embate, de uma mulher com o perfil de Ana Glória, de uma mulher que remete a Dilma Rousseff, nova no pedaço de votos, arretada no trato, não é uma presença que os concorrentes desejariam. Se já estava a incomodar o anúncio de uma mulher como companheira de chapa de Carlos Grana, num reconhecimento de que o PT acredita na força feminina na esteira dos benefícios da imagem da presidente da República, imagine então uma candidatura feminina ao Paço como cabeça de chapa.
 
Então, quanto à primeira pergunta, ficamos assim: além de Carlos Grana, também Aidan Ravin, Nilson Bonome e Raimundo Salles teriam sofrido um choque com o toque feminino às eleições de outubro próximo.
 
Agora vamos tentar responder à segunda pergunta: quem seria o homem a fazer companhia eleitoral a Ana Glória? O mais cotado é o empresário e liderança social Mário César de Camargo, desdenhado pelo PT que preferiu enamorar-se de Oswana Famelli, da Associação das Escolas Particulares e da direção da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André). Mário César tem mais currículo, mais liderança e mais outras coisas que pesam junto ao eleitorado principalmente quando a cabeça de chapa é uma mulher.
 
E à terceira pergunta, sobre o limite psicológico e comportamental tênue de enfrentar uma mulher em disputas eleitorais, um limite entre o respeito cerimonioso e a deselegância mesmo que sutil, é difícil imaginar que entre os concorrentes alguém deixará de cuidar atentamente da etiqueta social que favorece amplamente às mulheres.
 
Nada soaria mais comprometedor a um concorrente que saia a desancar uma candidata mulher. Pega mal, como se sabe. Nem se coloca em questão o conceito de juízo de valor, se a crítica é pertinente ou não. Ainda não chegamos a um estágio de amadurecimento político que entronize a mulher no palco eleitoral em condições de igualmente com os homens. Quem desancar Ana Glória, com razão ou sem razão, tem tudo para se dar mal. Ou seja, sob esse ponto de vista, o mundo político-partidário é infinitamente favorável às mulheres. Talvez os homens devessem requerer direitos iguais. Enquanto não chegamos a esse estágio, tudo que soar desrespeitoso vai se encaixar perfeitamente no terreno do machismo condenatório.
 
Homens, cuidado!
 
Ana Glória entrou no jogo eleitoral para atrapalhar a vida dos homens e, é claro, para entrar na história de Santo André, que jamais contou com uma prefeita. Os homens não contavam com a presença de uma mulher na parada. Eles imaginavam que estava tudo encaminhado para a troca ou manutenção da chave do Clube do Bolinha. O que se vai registrar nos próximos tempos ainda é algo indefinido, mas convém prestar atenção às possibilidades concretas do sexo feminino bagunçar o coreto dos homens.
 
Aliás, é o que elas mais fazem. Sem machismos nem preconceitos, é claro.


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