Política

Bonome tem menos voto e melhor
estratégia eleitoral em Santo André

DANIEL LIMA - 18/06/2012

Se o marco zero da campanha eleitoral em Santo André fosse primeiro de janeiro deste ano, o peemedebista Nilson Bonome estaria disparadamente desgarrado dos demais candidatos ao Paço Municipal. Ele estaria à frente de Raimundo Salles, que vem se conduzindo bem na disputa, e muito distante do petista Carlos Grana e do petebista Aidan Ravin, que caem pelas tabelas.

Entretanto, como o marco zero não é o primeiro dia deste ano e há todo um recall eleitoral subjacente, bem como históricos de mobilização de organizações partidárias, essa ordem classificatória é exatamente inversa na planilha de probabilidades eleitorais do momento, conforme ditam as pesquisas.
 
O que significa isso? Significa que embora o que conta para efeitos de perspectivas futuras é a bola na rede das pesquisas sérias, nada asseguraria que a ordem classificatória seria imune a surpresas. Principalmente porque os dois primeiros colocados -- Aidan Ravin e Carlos Grana -- estão numa disputa particular para ver quem erra mais, quem comete mais bobagens, quem chuta mais de bico.
 
Mesmo que Aidan Ravin e Carlos Grana sejam entendidos como favoritos atuais, é praticamente impossível que vençam a disputa em primeiro turno e que, mais que isso, prescindam do suporte dos outros dois concorrentes no segundo turno. Isso se a biruta não virar já no primeiro turno.
 
Sorte dos dois primeiros colocados nas pesquisas que não se reserva para qualquer Município da Província do Grande ABC um fator decisivo como o horário eleitoral obrigatório que alguns chamam de gratuito porque não sabem o quanto as empresas de comunicação abatem de impostos àquelas janelas partidárias. Fosse a Província do Grande ABC retirada da penumbra televisiva, os percalços de Aidan Ravin e Carlos Grana seriam capitalizados com muito maior intensidade por Nilson Bonome e Raimundo Salles. A massificação de peraltices e despreparos seria fatal junto ao eleitorado menos esclarecido e que, por conta desse vácuo midiático, será bombardeado por publicações para todos os gostos nos próximos meses.
 
Rastro de estragos
 
Nilson Bonome é o trem-bala da campanha em Santo André até agora porque tanto deixou a Administração Aidan Ravin à deriva como escolheu um candidato a companheiro de chapa – Rafael Daniel, sobrinho do tio famoso -- que, de simples penduricalho, como muitos entendem a função de vice-prefeito, tornou-se ponto-chave do slogan da empreitada: Coligação Viva Celso Daniel.

Nenhum outro candidato poderá desfraldar a bandeira do que chamaria de Celsismo sem parecer usurpador. A família do prefeito morto em 2002 ganhou uma cara nova. Imagine o quanto o PT perde com isso. Justamente o PT, que trata Celso Daniel de forma ambígua, quando não desrespeitosa. Tudo porque teme o outro lado da moeda, a moeda do crime.
 
Ainda bem que o sobrinho Rafael Daniel é a cara nova da família. João Francisco e Bruno Daniel tornaram-se patéticos na empreitada de tentar na Justiça punição aos supostos responsáveis pelo assassinato. Chegaram à estultice de manchar e pisotear a memória do irmão famoso, jogada na vala comum de delinquente público.
 
Ainda sobre Nilson Bonome e a liderança insofismável a partir do marco zero, convém lembrar o desabamento contínuo da Administração Aidan Ravin desde que o peemedebista retirou-se do Paço, em 31 de janeiro. A sucessão de escândalos administrativos e de trapalhadas com parceiros de jornada mostram que Nilson Bonome não se tornou supersecretário da gestão Aidan Ravin por acaso durante três anos. Bonome parece ter sido o único polo de inteligência gerencial e de governabilidade do Paço.
 
Segundo dos primeiros
 
Raimundo Salles vem a seguir na raia de conquistas sempre a partir de janeiro deste ano porque aprendeu a jogar o jogo num território de prefeito desgastadíssimo, de um PT assombrado com a ausência do fiador de Carlos Grana, o ex-presidente Lula da Silva, e de um candidato novato e ainda uma incógnita, no caso Nilson Bonome. Pelo menos publicamente Raimundo Salles não se mete mais em encrencas que o estigmatizaram. Exala diplomacia. Evita críticas aos adversários. Joga um jogo perfeito de quem detectou em pesquisas qualitativas que onde não tem o voto garantido como primeiro tem a maioria de intenções de voto que escapulir de Aidan Ravin e de Carlos Grana.
 
Trocando em miúdos, Raimundo Salles se converteu no Santos da semifinal da Taça Libertadores: conta com a torcida da maioria dos aficionados dos demais times paulistas, adversários viscerais do Corinthians.
 
Má companhia
 
Já no caso de Carlos Grana, não fosse o PT uma agremiação consolidada, com tradição local e nacional, e dotada de ganhos sistêmicos emanados de São Bernardo, dificilmente se converteria em eventual finalista em segundo turno, como se projeta. A campanha petista está desfalcada de Lula da Silva e também de luminosidades. A escalação dada como certa de uma mulher para acompanhar Carlos Grana é uma fórmula manjada e respeitada, mas a escolha se deu sobre alguém com limitada margem de manobra social e, mais que isso e sempre independentemente de juízo de valor sobre qualificações: com o suporte de marketing e financeiro de Sérgio De Nadai, um empresário condenado pela Justiça por integrar a Máfia da Merenda. Era só o que faltava ao PT já por demais atingido por escândalos. Sérgio De Nadai é espécie de Carlinhos Cachoeira, do qual todos os políticos agora fogem como o diabo da cruz. Carlos Grana parece não se
incomodar com isso.
 
Exemplo de fracasso
 
Complementando o time de concorrentes fortes ao Paço Municipal, e na lanterninha absoluta da disputa eleitoral a partir do marco zero de janeiro, Aidan Ravin está a léguas de distância de qualquer possibilidade de servir de exemplo de sucesso. Suas derrapagens queimam o capital eleitoral que de fato começou a dissolver-se a partir da própria e surpreendente vitória em outubro de 2008. Vista com rigor crítico minimamente afiado, a gestão Aidan Ravin é a pior dos últimos 50 anos em Santo André.
 
Mais
que escândalos que se apuram com vagarosidade e protecionismos, tanto na esfera política quanto policial e criminal, o que temos é um exemplo bem acabado de como não dirigir um Município que sofreu nas três últimas décadas as mais fundas transformações, desmoronando no ranking de investimentos públicos por causa da raquitinização industrial, setor que sobrevive de não mais que duas dezenas de grandes e médias empresas.
 
Aidan Ravin é um desses casos raros de associação de inapetência administrativa e hecatombe programática. Especializou-se em perfumarias de festas musicais, de academias ao ar livre e de outras bobageiras para impressionar a platéia de incautos, mas não alterou um milímetro sequer a derrocada econômica do Município, exceto em alquimias numéricas de um diretor que se mete a construir estatísticas estrambólicas. Uma Administração cenarista, se é que me entendem.


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