Se o marco zero da campanha eleitoral
Entretanto, como o marco zero não é o primeiro dia deste ano e há todo um recall eleitoral subjacente, bem como históricos de mobilização de organizações partidárias, essa ordem classificatória é exatamente inversa na planilha de probabilidades eleitorais do momento, conforme ditam as pesquisas.
O que significa isso? Significa que embora o que conta para efeitos de perspectivas futuras é a bola na rede das pesquisas sérias, nada asseguraria que a ordem classificatória seria imune a surpresas. Principalmente porque os dois primeiros colocados -- Aidan Ravin e Carlos Grana -- estão numa disputa particular para ver quem erra mais, quem comete mais bobagens, quem chuta mais de bico.
Mesmo que Aidan Ravin e Carlos Grana sejam entendidos como favoritos atuais, é praticamente impossível que vençam a disputa em primeiro turno e que, mais que isso, prescindam do suporte dos outros dois concorrentes no segundo turno. Isso se a biruta não virar já no primeiro turno.
Sorte dos dois primeiros colocados nas pesquisas que não se reserva para qualquer Município da Província do Grande ABC um fator decisivo como o horário eleitoral obrigatório que alguns chamam de gratuito porque não sabem o quanto as empresas de comunicação abatem de impostos àquelas janelas partidárias. Fosse a Província do Grande ABC retirada da penumbra televisiva, os percalços de Aidan Ravin e Carlos Grana seriam capitalizados com muito maior intensidade por Nilson Bonome e Raimundo Salles. A massificação de peraltices e despreparos seria fatal junto ao eleitorado menos esclarecido e que, por conta desse vácuo midiático, será bombardeado por publicações para todos os gostos nos próximos meses.
Rastro de estragos
Nilson Bonome é o trem-bala da campanha
Nenhum outro candidato poderá desfraldar a bandeira do que chamaria de Celsismo sem parecer usurpador. A família do prefeito morto em 2002 ganhou uma cara nova. Imagine o quanto o PT perde com isso. Justamente o PT, que trata Celso Daniel de forma ambígua, quando não desrespeitosa. Tudo porque teme o outro lado da moeda, a moeda do crime.
Ainda bem que o sobrinho Rafael Daniel é a cara nova da família. João Francisco e Bruno Daniel tornaram-se patéticos na empreitada de tentar na Justiça punição aos supostos responsáveis pelo assassinato. Chegaram à estultice de manchar e pisotear a memória do irmão famoso, jogada na vala comum de delinquente público.
Ainda sobre Nilson Bonome e a liderança insofismável a partir do marco zero, convém lembrar o desabamento contínuo da Administração Aidan Ravin desde que o peemedebista retirou-se do Paço, em 31 de janeiro. A sucessão de escândalos administrativos e de trapalhadas com parceiros de jornada mostram que Nilson Bonome não se tornou supersecretário da gestão Aidan Ravin por acaso durante três anos. Bonome parece ter sido o único polo de inteligência gerencial e de governabilidade do Paço.
Segundo dos primeiros
Raimundo Salles vem a seguir na raia de conquistas sempre a partir de janeiro deste ano porque aprendeu a jogar o jogo num território de prefeito desgastadíssimo, de um PT assombrado com a ausência do fiador de Carlos Grana, o ex-presidente Lula da Silva, e de um candidato novato e ainda uma incógnita, no caso Nilson Bonome. Pelo menos publicamente Raimundo Salles não se mete mais em encrencas que o estigmatizaram. Exala diplomacia. Evita críticas aos adversários. Joga um jogo perfeito de quem detectou em pesquisas qualitativas que onde não tem o voto garantido como primeiro tem a maioria de intenções de voto que escapulir de Aidan Ravin e de Carlos Grana.
Trocando em miúdos, Raimundo Salles se converteu no Santos da semifinal da Taça Libertadores: conta com a torcida da maioria dos aficionados dos demais times paulistas, adversários viscerais do Corinthians.
Má companhia
Já no caso de Carlos Grana, não fosse o PT uma agremiação consolidada, com tradição local e nacional, e dotada de ganhos sistêmicos emanados de São Bernardo, dificilmente se converteria em eventual finalista em segundo turno, como se projeta. A campanha petista está desfalcada de Lula da Silva e também de luminosidades. A escalação dada como certa de uma mulher para acompanhar Carlos Grana é uma fórmula manjada e respeitada, mas a escolha se deu sobre alguém com limitada margem de manobra social e, mais que isso e sempre independentemente de juízo de valor sobre qualificações: com o suporte de marketing e financeiro de Sérgio De Nadai, um empresário condenado pela Justiça por integrar a Máfia da Merenda. Era só o que faltava ao PT já por demais atingido por escândalos. Sérgio De Nadai é espécie de Carlinhos Cachoeira, do qual todos os políticos agora fogem como o diabo da cruz. Carlos Grana parece não se
incomodar com isso.
Exemplo de fracasso
Complementando o time de concorrentes fortes ao Paço Municipal, e na lanterninha absoluta da disputa eleitoral a partir do marco zero de janeiro, Aidan Ravin está a léguas de distância de qualquer possibilidade de servir de exemplo de sucesso. Suas derrapagens queimam o capital eleitoral que de fato começou a dissolver-se a partir da própria e surpreendente vitória em outubro de 2008. Vista com rigor crítico minimamente afiado, a gestão Aidan Ravin é a pior dos últimos 50 anos
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Aidan Ravin é um desses casos raros de associação de inapetência administrativa e hecatombe programática. Especializou-se em perfumarias de festas musicais, de academias ao ar livre e de outras bobageiras para impressionar a platéia de incautos, mas não alterou um milímetro sequer a derrocada econômica do Município, exceto em alquimias numéricas de um diretor que se mete a construir estatísticas estrambólicas. Uma Administração cenarista, se é que me entendem.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)