Política

Ordem no PT é jogar pesado para
não perder de goleada na Província

DANIEL LIMA - 21/06/2012

O PT vai jogar pesado na Província do Grande ABC para impedir que adversários azulados e assemelhados apliquem uma goleada nas eleições de outubro. A possibilidade de perder de 6 a 1, gol de honra mais que provável em Diadema, endoideceu a cúpula petista na região, que se divide em várias partes, algumas das quais não se comunicam com as outras. A avaliação de que o placar não é uma heresia oposicionista agrupa pequena parcela de petistas. A maioria ainda entende que a previsão do resultado é apenas uma forma de espicaçar com os nervos dos herdeiros de Lula da Silva; ou seja, a ficha não caiu.


 


Uma cidadela que os petistas colocam como prioritária para sustentar o moral da tropa no futuro, no futuro de eleições ao governo do Estado, em 2014, envolve São Bernardo do prefeito Luiz Marinho. Há um ano previa-se qualquer coisa, menos uma mobilização organizada da oposição.


 


Entretanto, com a liderança do ex-prefeito William Dib, hoje deputado federal e interlocutor com poder de mando em todos os municípios locais, os tucanos pretendem manter o jogo jogado até onde for possível.


 


Tradução: com o aliado Alex Manente, do PPS, a corrida eleitoral em São Bernardo não será apenas a homologação democrática da reeleição de Marinho. Afilhado de Lula, o atual prefeito já entregou a rapadura de superar o índice recorde de votos de 76% que William Dib conseguiu em 2004. Trabalha-se realisticamente com 10 pontos percentuais de vantagem ao final da contagem dos votos.


 


Malas de problemas


 


Os antipetistas de São Bernardo estão com a mala cheia de ferramentas para contrapor-se à gestão de Luiz Marinho, reconhecidamente frutuosa na área social, embora não falte quem se oponha a essa interpretação. Caso do próprio Alex Manente que, numa entrevista ainda outro dia ao jornal Diário Regional, jogou pesado na avaliação de que Marinho é mais do mesmo e lançou dúvidas inclusive sobre a viabilidade orçamentária do Hospital de Clínicas que Marinho pretende entregar até o final do ano. Manente diz que sem recursos do governo do Estado, ou seja, sem a estadualização, o legado seria uma aventura. O governo Marinho contrapõe com argumento que de alguma maneira dá razão a Manente: quem vai segurar as pontas orçamentárias na rubrica relativa à manutenção seria o governo federal, petista como se sabe. Ou seja, o HC de São Bernardo seria um Mário Covas com dinheiro de Brasília. A estadualização pretendida por Alex Manente virou ofensa. Pelo menos até que o PT conquiste o Palácio dos Bandeirantes. A federalização, como se anunciou na resposta, é a prova provada de que a proximidade entre São Bernardo e Brasília transfere muitas vantagens ao governo petista.


 


Embora não falte quem reconheça entre os oposicionistas da candidatura de Luiz Marinho o caminho do céu da reeleição, constrói-se um cenário de dificuldades para o titular do Paço Municipal por causa do simbolismo da disputa.


 


São Bernardo estratégica


 


O governo do Estado quer que o jogo seja o mais parelho possível porque pretende desgastar a imagem do prefeito petista não só no âmbito local, mas regional e estadual. Uma vitória de lavada, como se previa há um ano, seria um impacto desagradável para o Palácio dos Bandeirantes, porque repassaria a ideia de que o vizinho rebelde de São Bernardo poderia estar arquitetando para valer algo semelhante em termos de revolução de costumes político-partidários ao que o então operário Lula da Silva organizara nas relações entre capital e trabalho.


 


Os tucanos não querem permitir a repetição da história no campo político e eleitoral. Ninguém os convence de que o mesmo raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Avocam chavões defensivos para encerrar diálogos fadados a dialéticas confusas. É melhor prevenir do que remediar, afirmam. Alex Manente é a prevenção em forma de oposição consistente, jovem, supostamente inovadora. Como estão a indicar as demandas de marqueteiros loucos para fabricar concorrentes que supostamente representariam os desejos dos eleitores. Casos emblemáticos de Fernando Haddad escolhido por Lula da Silva, e de Gabriel Chalita, do vice-presidente da República, Michel Temer.


 


É a partir da sustentabilidade eleitoral em São Bernardo – e também da segurança que Diadema sempre vermelha permite – que o PT constrói pontes para fazer o máximo possível de gols na Província do Grande ABC.


 


As demais disputas


 


Em Santo André a candidatura de Carlos Grana é vista como de alto risco. Não engrenaria no ritmo desejado. Nem mesmo ante o campeão nacional de escândalos e traições, o titular do Paço, Aidan Ravin. Cresce entre os especialistas a ideia de que Aidan Ravin vai dar a volta por cima tal qual Lula da Silva pós-Mensalão. Mesmo os petistas menos fanáticos já trabalham com essa perspectiva. A redução da velocidade e da divulgação do caso envolvendo a cúpula do Semasa, aquele antro de perdição que favorece há muito tempo o mercado imobiliário mais nojento, é prova disso.


 


Em Mauá, as trapalhadas do Trio Cabeça Dura que destronou antecipadamente Oswaldo Dias da chefia do Executivo, sumariamente reduzido a pó de respeitabilidade moral nos meses que faltam para completar o governo, após ser apeado das pretensões à reeleição, deverão custar os olhos da cara para fechar as brechas.


 


A vitória do rebelde (para dizer o mínimo) Donisete Braga não está fora de cogitação, mas as coligações vão sangrar os recursos petistas para continuar na chefia do Paço. Será indispensável ceder a alma ao demônio de aliados de ocasião para tentar justificar o injustificável, ou seja, que o golpe aplicado em Oswaldo Dias tem algum fundamento ético, mesmo se considerando a ética um luxo na política, e muita consistência pragmática, de salvar o resultado eleitoral.


 


Nas demais cidades da região, apenas em Ribeirão Pires, com a ex-prefeita Maria Inês Soares, o PT alimentaria esperanças de sucesso. E mesmo assim a depender da burrice dos adversários locais, que parecem dispostos a dividir os votos e ficarem com a menor parte numa disputa de turno único.


 


Em São Caetano, luta-se para agregar a candidatura petista à do peemedebista Paulo Pinheiro, por si só em forte dieta de suprimentos.


 


Em Rio Grande da Serra, nem um milagre resolveria a situação de controle tucano.


 


Balanço geral


 


No fundo, no fundo, o PT mais otimista acha possível ganhar em Diadema, em São Bernardo, em Santo André e em Mauá. Com isso, aplicaria o placar de 4 a 3 ante os oposicionistas tucanos e aliados. Ou seja: reverteria o placar atual, favorável aos azulados. Seria isso possível? Façam suas apostas.


 


O que não é possível deixar de registrar é que os petistas são tão incompetentes eleitoralmente como o foram os tucanos nos tempos em que Fernando Henrique Cardoso dirigia o País. Em 2000, sob a liderança de Celso Daniel, o partido fez 5 a 2 no placar regional, perdendo apenas na imbatível São Caetano e em São Bernardo de um até então ex-petista, Maurício Soares.


 


Mais que assemelhadamente incompetentes como o foram os tucanos, os petistas estão alguns degraus acima. Ou é bobagem dizer que – sem juízo de valor sobre a consistência de políticas econômicas dos últimos 10 anos, que privilegiam o consumo ante investimentos – com o controle da máquina federal, os petistas da Província do Grande ABC poderiam estar a nadar de braçadas com favoritismos explícitos e incontestáveis, inclusive com alguma possibilidade mais concreta de incomodar em São Caetano?


 


Os divisionismos, com porções que se engalfinham pelo poder municipal e regional, explicam os maus lençóis em que se meteu a agremiação nesta nova temporada de votos.


 


Celso Daniel fez tanto com poucos, enquanto seus herdeiros partidários, pretensiosamente seus discípulos, fazem muito pouco com tanto. E quem paga a conta final é o contribuinte da Província. Um exemplo: com o respaldo do governo federal, poderíamos ter muito mais que essa bobagem de barriga de aluguel da Universidade Federal do Grande ABC, sempre a lustrar o ego e os diplomas de estudantes que, quase na totalidade, não têm e não terão compromisso algum com nossas divisas.


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