Política

Figurante coloca em dúvida eleição
em São Bernardo e bate forte no PT

DANIEL LIMA - 25/06/2012

É claro que Ademir Silvestre, ex-vereador e ex-secretário municipal de várias pastas em São Bernardo, só quis provocar, quando encerrou a entrevista ao jornal Metro/ABC com uma sentença mais que sarcástica sobre a candidatura de oposição ao prefeito Luiz Marinho. O que disse Ademir Silvestre? "Essa oposição não está com cara de oposição, está com cara de composição".

Ademir Silvestre é um figurante nas eleições deste ano na Capital Econômica e Política da Província do Grande ABC. Ele concorrerá a prefeito pelo PSC. Deverá receber votos de vereador, mas ocupou duas páginas do jornal. E soube explorar bem o espaço. Distribuiu catiripapos. Por isso encerrou a entrevista com aquela frase abusada. Tão abusada quanto sem propósito. A disputa entre Luiz Marinho e Alex Manente (PPS) é para valer mesmo. Tanto que o pau come solto nos bastidores. São casos de guerra de guerrilhas que a mídia não publica porque há certa diplomacia com as informações. E principalmente falta de provas dos exageros.

Entretanto, por mais que a candidatura de Ademir Silvestre tenha musculatura eleitoral flácida ante os leões que vão à arena, vale a pena contextualizá-la nesses momentos que antecedem o aquecimento da disputa que oporá o candidato do ex-presidente Lula da Silva e o candidato do governador do Estado, Geraldo Alckmin. Por que Ademir Silvestre disse que Marinho e Manente não são oponentes, mas componentes de um mesmo enredo?

Ausência tucana

Porque Ademir Silvestre não se conforma com o fato de o deputado estadual Orlando Morando não estar na disputa como representante do PSDB, partido pelo qual enfrentou Luiz Marinho nas eleições de 2008, tornando-se adversário osso duro de roer. Morando teve 174 mil votos no segundo turno. "É inexplicável. Em troca, colocaram o Admir Ferro, que teve 17 mil votos para deputado estadual dois anos depois, para ser vice do Alex Manente. Como é que pode?".

O raciocínio matemático ou aritmético do entrevistado Ademir Silvestre convence quando observado unilateralmente, ou seja, apenas sob a ótica dele. Seria o coordenador-regional do PSDB (e da oposição ao PT na Província do Grande ABC), William Dib, ex-prefeito de São Bernardo, um idiota completo? Não é bem assim. Primeiro, porque Orlando Morando entrou em rota de colisão com Dib já naquelas eleições, quando praticamente se isolou do padrinho político. Morando não soube fazer a leitura de pesquisas que antecederam à disputa com Luiz Marinho. A rejeição de pouco mais de 30% do eleitorado à Administração de William Dib foi avaliada como sintoma de esclerose popular do então prefeito. Uma bobagem sem tamanho, porque essa parcela é a parte que compete ao latifúndio petista em São Bernardo ou em qualquer outra localidade de regiões metropolitanas.

Limpando o terreno

Mais tarde, nas eleições de 2010 para a Câmara Federal, Orlando Morando deixou William Dib na mão, ao fazer dobradinha na região com Bruna Furlan, filha do prefeito de Barueri. Um chute que Dib, eleito com folga, não esqueceu. Outros episódios marcam os entreveros entre Did e Morando, tendo como pano de fundo a liderança oposicionista na região. Ante tudo isso e também à certeza de que Orlando Morando não cometeria o suicídio ideológico e eleitoral de pregar abertamente votos em benefício a Luiz Marinho, adversário de outros carnavais, William Dib limpou o terreno para Alex Manente.

Ou seja: não foi por acaso e também por nada que Orlando Morando está fora da disputa eleitoral em São Bernardo. Pesquisas qualitativas e quantitativas dão a William Dib a garantia de que Alex Manente capitaliza o eleitorado de centro-direita de Orlando Morando, historicamente avesso ao petismo. Da mesma forma que Alex Manente, aliado de Luiz Marinho no segundo turno de 2008, absorve parte do eleitorado de centro-esquerda, que se soma aos naturalmente de centro-direita, próprios e herdados de Orlando Morando. Manente sempre se manteve ideologicamente menos radical ao PT do que Orlando Morando. O mesmo Orlando Morando que, de uns tempos a esta parte, sinaliza simpatia pelo PT, preocupado com algumas questões pendentes que poderiam colocá-lo em desgraça.

Com a certeza de que pelo menos está equacionado o feixe de razões que conduziram a possível candidatura de Orlando Morando ao acostamento (sem contar que caiu em desgraça com a ala do governador Geraldo Alckmin, de quem era bastante próximo, inclusive com afastamento sumário da liderança do partido na Assembléia Legislativa), a assertiva de Ademir Silvestre sobre a composição de situacionistas e oposicionistas em São Bernardo não tem sustentação.

Pancadas no petista

O ex-secretário de Administração, de Governo, de Habitação e Meio Ambiente e secretário-chefe de gabinete, além de assessor de gabinete e coordenador de Ações Comunitárias da Prefeitura de São Bernardo durante as gestões de Maurício Soares e William Dib, passa o tempo todo da entrevista ao jornal Metro/ABC distribuindo pancadas na Administração Luiz Marinho. À pergunta "como avalia o governo Luiz Marinho?", ele responde:

Acho terrível. Ele tem o projeto São Bernardo Moderna, que é financiado pelo BID, que a Prefeitura só tem que dar a contrapartida, mas ele não consegue executar. Ele executou uma obra e ainda mudou de nome e gastou centenas de milhares de dinheiro para divulgar. É o que ele chama de Nova Lions, mas isso não é Nova Lions nem aqui nem na China. Se você abrir o Google e perguntar o que é o São Bernardo Moderna, você terá 28 obras de grande porte. (...) Ele fez uma obra, de 28 intervenções de grande porte e quase 800 intervenções de pequeno porte, para complementação. Embora o projeto para retirar o esgoto da Billings tenha sido gestado pela Prefeitura em parceria com o governo japonês, a atual Administração, por incompetência, não tem mais participação no programa e, hoje, quem toca é a Sabesp. A primeira obra do São Bernardo Moderna, que é a da Avenida Pery Ronchetti, foi deixada quase pronta e ele teve o trabalho de inaugurar. Ele fez a Lions e terminou o viaduto, que já havia sido começado e é parte do complexo Lions. Há outra obra importante, que é a do túnel da Rua São Paulo, no Jordanópolis, que mergulha por baixa da via Anchieta e desafogaria o trânsito, mas tenho impressão de que ele nunca nem olhou. O diabo é que ele não sabe usar esses recursos, tem dinheiro do BID e ele não consegue criar soluções.

Inferno do CEU?

Mais pancadaria de Ademir Silvestre? Vejam o que ele respondeu sobre o projeto do CEU (Centro Educacional Unificado) de Vila São Pedro, nas antigas instalações do Volkswagen Clube:

O CEU de Vila São Pedro é criminoso. Quero ver como se administra 5,2 mil alunos em um só espaço. Isso é maior do que 30% das cidades brasileiras, que não têm mais do que 5,2 mil habitantes. Vai ter que ter semáforo, hospital, guarda de trânsito, delegacia, ué? É uma cidade. Qual é a qualidade disso? Qual diretor consegue tocar isso? Ele não consegue, ao longo do ano, ver cada um dos alunos. E outra coisa: não tem aluno suficiente na Vila São Pedro para encher aquilo. Foi preciso fechar escolas e pegar alunos de outras unidades e levar para lá. Por que construir uma escola que tem que fechar outras? Na saúde é a mesma coisa. Olha o prédio das UPAS (Unidades de Pronto Atendimento). É 24 horas, mas não tem médico. O paciente vai à UPA e é atendido por uma enfermeira, que dá uma guia para ele ir à UBS (Unidade Básica de Saúde), que é a estrutura que já existia e está sendo desmantelada para deixar os prédios bonitos, mas que de humanização não têm nada.

Há muito mais críticas de Ademir Silvestre à Administração Luiz Marinho. Desconsiderá-las, simplesmente, seria um grave erro. Por mais que se concentre em apontar problemas e por mais que tenha conotação eleitoral nas avaliações, as declarações do candidato nanico ao jornal Metro/ABC merecem uma leitura atenta e reflexiva. Até para que seja possível estabelecer contrapontos com informações de leituras cruzadas. Nos dois casos específicos a que me ative e que envolvem a gestão Luiz Marinho, sobre o São Bernardo Moderna e o CEU, a posição de Ademir Silvestre é praticamente irrebatível.