Política

PT monta farsa democrática em
São Bernardo para definir vice

DANIEL LIMA - 29/06/2012

O forrozeiro Frank Aguiar, peça importante na eleição de Luiz Marinho em 2008, está barrado do baile da tentativa de reeleição do petista em São Bernardo. De peso relativamente importante à popularização do ex-sindicalista, principalmente na periferia que curte seus acordes, Frank Aguiar virou transtorno agora que o prefeito já não é mais desconhecido do povão. Por isso, o petebista acabou substituído na chapa de Luiz Marinho pelo peemedebista Tunico Vieira, representante de uma parcela da classe média convencional que o PT pretende atingir.


 


Não se sabe por que razão não se pretendeu preencher o buraco com o fetiche mais utilizado na temporada, ou seja, a escolha de uma companhia feminina, como a desconhecida Oswana Fameli na chapa de Carlos Grana em Santo André. A simplificação associada ao modismo de marqueteiros que se acham suprassumos na tradução da alma eleitoral tornou-se o mantra decisório dos partidos nesta temporada. São Bernardo só não encontrou a mulher ideal para Luiz Marinho. Indicar a própria mulher não ficaria bem. 


 


A imposição de Tunico Vieira pelo vice-presidente da República, Michel Temer, é desmentida pela cúpula petista. Mas foi o que se deu. A embalagem democrática, de que os 17 partidos aliados  é que decidiram a questão, é apenas uma maneira de limpar a barra de Luiz Marinho no PTB. Algo inútil, convenhamos. O PTB jamais acreditaria nessa versão, porque não é integrado por noviços, mas por rebeldes.


 


Publicamente o prefeito apoiava Frank Aguiar, porque assim lhe convinha nas articulações interpartidárias estaduais e nacionais com o PTB. Internamente, nos bastidores, estimulava a indicação do peemedebista Tunico Vieira. Esse é o enredo que os petebistas decifram do desenlace.


 


A reboque externo


 


Então, por que Luiz Marinho optou por Tunico Vieira nos  bastidores, em detrimento de Frank Aguiar, exaltado publicamente? Porque as alianças entre peemedebistas e petistas, quando despertam a cobiça do ex-presidente Lula da Silva e do vice-presidente Michel Temer, são tão indissolúveis, ou buscam esse objetivo, quanto algemas. Traduzindo: o poder decisório do PT em São Bernardo está enfaticamente a reboque dos interesses estaduais e nacionais de petistas e peemedebistas.


 


Luiz Marinho optou pelo petebista em público porque queria salvar a lavoura do prestígio do cantor. E transferiu o resultado contrário, dos aliados, como sensibilidade democrática. Um golpe perfeito. Mas faltou combinar com os aliados petebistas, agora adversários. Tanto que o presidente estadual do partido, Campos Machado, promete lançar o forrozeiro à Prefeitura. Uma aventura, naturalmente, porque o atual vice-prefeito pode continuar a fazer certo sucesso musical, mas o eleitorado se lhe mostrou hostil nas últimas eleições a deputado federal.


 


Tudo isso não quer dizer, entretanto, que não exista viabilidade a surpresas radicais na movimentação das pedras, porque até o impossível é sempre possível na política.


 


Não está fora de cogitação uma reviravolta com relação ao companheiro de  Luiz Marinho na chapa situacionista.  Não está afastada a possibilidade de aparecer um medalhão petista, especialmente Lula da Silva, travestido de salvador da pátria, e recolocar o forrozeiro na disputa. Tudo é admissível na engrenagem eleitoral petista, a flertar entre o bisonho e o sofrível, embora seus marqueteiros façam de tudo isso uma caldeirada de tentativas de resultados opostos, que primariam pelo impacto midiático favorável de estreitar ainda mais os laços entre Marinho a Lula. Ou seja: Lula entraria em cena para desatar os nós provocados pela mudança e, para o bem de todos e felicidade geral da nação petista e de aliados, dirá que tudo foi contornado. Tudo com o apoio dos peemedebistas de Michel Temer, que, no jogo de poderes, aproveitariam o novo acerto para assumir nacos importantes da Administração de Luiz Marinho em suposto segundo mandato. Um rearranjo gerencial e administrativo para arrefecer os ânimos político-partidários.


 


Algumas indagações


 


Se acham que estou exagerando, me respondam então à seguinte indagação: por que Luiz Marinho passou os últimos tempos a esgrimir uma dialética político-eleitoral hermética apenas para os ingênuos, porque o tempo todo suas declarações sublinhavam apoio ao forrozeiro que reforçou sua candidatura há quatro anos? Luiz Marinho pode ser tudo, inclusive um deficiente coordenador de campanha eleitoral, mas não é burro. Ele não estaria abrindo a vereda a Frank Aguiar não fosse a garantia de que os fatos confirmariam suposto controle estratégico da própria candidatura.


 


Então, por que Luiz Marinho foi supostamente surpreendido? Como lhe passaram a perna para ter Tunico Vieira de vice? Se lhe passaram mesmo a perna, a Administração de São Bernardo corre o risco de ser avaliada como a casa da mãe joana, porque o prefeito não exerceria o poder lhe conferido pelo povo.


 


Se a derrubada de Frank Aguiar foi apenas e exclusivamente – como se especula – a consagração de uma decisão de bastidores da qual Luiz Marinho foi o maior articulador, então a Administração do prefeito de São Bernardo tem sim os cordéis sob segurança, embora as relações aprofundem fissuras que lançariam ao limbo qualquer manual sobre ética política.


 


Marinho teria agido publicamente como bom moço, como um eterno agradecido a Frank Aguiar. A mudança de planos, ditada por suposta intervenção democrática, revelaria, reparem bem, o viés coletivista de Luiz Marinho, que cedeu ao conjunto de partidos a decisão sobre o vice. De qualquer forma, sob a ótica petista, Luiz Marinho capitalizaria lucros à imagem de conciliador. 


 


Apenas marionete?


 


A alternativa mais consistente de que o que se praticou na suposta eleição secreta do entorno multipartidário que dá sustentação à campanha de reeleição de Luiz Marinho não passou mesmo de uma farsa democrática é a que mais alcança adeptos. A votação foi orquestrada, com resultado previamente definido de 10 apoiadores de Tunico Vieira ante sete de Frank Aguiar, para salvar as relações entre o prefeito e o atual vice. A intervenção de Michel Temer, anunciada na véspera do encontro pelo jornal Bom Dia/ABC, é a mais clarividente explicação à contrapartida em forma de submissão da escolha ao colegiado de partidos.  Marinho encontrou na pretensa decisão democrática motivo suficiente para retirar de sua cabeça a espada pública da dependência externa de Michel Temer e de Lula da Silva, situação que o subordina a instâncias partidárias e personalísticas encabrestadoras. Seria Luiz Marinho não mais que marionete entre os dois gigantes políticos?


 


Concordo com os leitores que ao acompanharem estas linhas se sentirão meio perdidos com tantas nuances. O que fazer se política é assim mesmo, ou seja, o que parece geralmente não é e o que geralmente é não é o que parece. O desafio é saber distinguir o que parece do que geralmente é.


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