Política

Apoio tucano torna Salles favorito
ao segundo turno em Santo André

DANIEL LIMA - 02/07/2012

O advogado Raimundo Salles ganhou decisivo suporte eleitoral do PSDB e converteu-se no principal candidato a chegar ao segundo turno em Santo André. Essa é uma fotografia pós-convenções partidárias no final de semana. A perspectiva poderá delinear-se ainda mais favorável ao candidato do PDT e de oito partidos coligados caso os tucanos decidam ir fundo na parceria. Ficaria com Carlos Grana (PT), Aidan Ravin (PTB) e Nilson Bonome (PMDB) a outra vaga ao turno final, no qual Raimundo Salles seguiria como principal concorrente, seja qual for o adversário. Principalmente se for o PT.
 
Muito provavelmente o prefeito Aidan Ravin, que busca reeleição, deverá amargar a escapadela dos tucanos. O presidente do diretório municipal do PSDB, Ricardo Torres, foi subestimado pelos petebistas que, pressionados pela vice-prefeita, Dinah Zekcer, confundiram as bolas. Em nome de um peso municipal mais proeminente da petebista, vereadora em várias legislaturas, Aidan Ravin desdenhou da ligação direta com o governador Geraldo Alckmin. Pensou e agiu provincianamente. Tudo isso depois de os tucanos darem respaldo ao prefeito durante a tempestade de água e esgoto do Semasa, a casa mais que manjada e comprovada de maracutaias da Administração Municipal.
 
Preferiu o PTB manter a chapa vitoriosa em 2008, com Aidan-Dinah, a alargar os arranjos com o governo do Estado. Esqueceram que Ricardo Torres não é um agente político qualquer: suas relações com o secretário estadual Bruno Covas o colocam no centro de fidelidades agora canalizadas à candidatura de Raimundo Salles.
 
Aidan Ravin e Dinah Zekcer deveriam contar com mais informações sobre o movimento de pedras eleitorais para não cometerem bobagens e trombetearem independência. Bruno Covas é o principal nome no bolso do colete de Geraldo Alckmin para concorrer ao governo do Estado em 2018. Mesmo objetivo de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo.
 
Ricardo Torres é o representante maior de Bruno Covas na Província do Grande ABC. Eles se conhecem faz bastante tempo. Ricardo Torres foi, inclusive, chefe de gabinete dele. Quando o fogo amigo do PTB criou o suposto impasse de inelegibilidade de Ricardo Torres, por conta de domicílio eleitoral, puxou-se um tapete que colheu a própria candidatura de Aidan Ravin. O tombo poderá ser muito mais prejudicial nos próximos tempos.
 
Campanha sem erros
 
Não há como duvidar da viabilidade eleitoral de Raimundo Salles agora que conta com o PSDB como aliado. O ex-secretário de comunicação do então prefeito William Dib em São Bernardo vem construindo uma campanha praticamente sem falhas e com parcos recursos financeiros. Justamente o contrário dos dois principais oponentes. Aidan Ravin só se sustenta pela máquina e por um discurso que carrega tintas no inegável carisma que tem limites éticos para não virar zombaria, a mesma distância entre amor e ódio, remédio e veneno. Os próximos tempos deverão aquecer as caldeiras e expelir boa parte da sujeira que repousou em banho-maria na reta de chegada da definição das chapas que concorrerão ao Paço.
 
Já Carlos Grana não decola, depois de praticamente perder as asas com que pretendia flanar, caso do ex-presidente Lula da Silva, responsável pela indicação do sindicalista. Sem contar que a escolha de Oswana Fameli é um abuso para quem afirma que pretende mudar os ares em Santo André. O problema de Carlos Grana é que acredita em Papai Noel. Todos dizem nos bastidores que Oswana Fameli De Nadai é uma invenção de incompetentes, mas ninguém lhe diz ao ouvido a verdade inconveniente. Adorar bajuladores é um velho vício dos petistas, portadores de mal psíquico-eleitoral insanável: a necessidade de agradar a sempre hostil classe média outrora esbofeteada.
 
Basta ver o quanto o PT recorre à aprovação da presidente Dilma Rousseff como tentativa de transferência de prestígio. Os marqueteiros petistas fazem de tudo para garantir uma colagem que não se sustenta com a força e a abrangência necessárias. Provavelmente ainda falta aos institutos de pesquisa uma pergunta essencial: qual é o nível de assimilação da imagem de Dilma Rousseff em relação ao PT?
 
Adversários estressados
 
Raimundo Salles organiza campanha rumo ao Paço Municipal de forma tão segura que causa estresse nos adversários. Todos torcem contra Salles, esperando que a qualquer momento ele cometerá um desatino com custo público enorme. Mas Salles insiste em acertar. Aprendeu a aguentar calado em público, verdades ou mentiras. Cutucadas que antes revidava agora são absorvidas. Talvez as vomite em particular, como a personagem da novela das nove.
 
A festa de lançamento da candidatura de Salles no Clube Atlético Aramaçan foi prova de prestígio. Mais de três mil pessoas aplaudiram o pedetista. De pequenos empresários a profissionais liberais. De trabalhadores metalúrgicos sob a influência de Cícero Martinha da Silva a variedade de candidatos a vereador de partidos diversos. É claro que não se ganha eleição com massificação popular em convenções partidárias, assim como não se ganha no futebol com a arquibancada lotada. Mas quem disser que volume não ajuda a fazer pressão, a influenciar no resultado, precisa se reciclar política e esportivamente.
 
O ponto principal da campanha de Raimundo Salles é a sensibilidade para montar coalizões partidárias e sociais. Ainda há redutos resistentes, mas a oposição já foi muito maior. Mesmo a Acisa (Associação Comercial de Santo André), não está integralmente nos braços de Carlos Grana. A vice-presidente Oswana Fameli representa apenas uma parcela dos dirigentes daquela entidade, entre os quais o empresário Sérgio De Nadai, condenado por participar da Máfia da Merenda. Outra parcela está com Raimundo Salles.
 
Mas não é a Acisa que vai resolver as eleições em Santo André, como jamais resolveu. Quanto muito, pode atrapalhar ou ajudar a governabilidade. É mais uma etiqueta empresarial de baixa aderência dos pequenos e médios empreendedores, na quase totalidade afastados do quadro associativo. Raimundo Salles tem tido contato direto com esses quase deserdados econômicos nas andanças de muitos anos em Santo André, mas provavelmente deve também entender que estar no seio da Acisa e de outras entidades econômicas e sociais faz parte do cardápio de potencialização de voto, porque o conjunto é um grande mosaico.
 
O que resta nestas alturas do campeonato é imaginar o que os demais concorrentes em Santo André têm a oferecer. De Aidan Ravin se deve esperar muita rezadeira para que o escândalo do Semasa não deixe o estado de hibernação imposto por conta do calendário eleitoral. É possível que a decisão seja insuficiente, porque ao PT, em estado morno, só o despertar do monstro de irregularidades impulsione a candidatura de Carlos Grana, com os riscos inerentes de um partido que também tem passivos indesejáveis, inclusive no Semasa. Já Nilson Bonome precisa passar sebo nas canelas, depois de acertar em cheio na escolha de Rafael Daniel como companheiro de chapa.


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