Política

Estou decidido: vou me encontrar
com Aidan no sótão de minha casa

DANIEL LIMA - 19/07/2012

Tenho medo, mas muito medo mesmo, do bicho-papão em forma de arquivo editorial das promessas eleitorais dos candidatos às Prefeituras da Província do Grande ABC na campanha de 2008. Juro por todos os santos que reluto em subir ao sótão residencial, aonde guardo as relíquias do jornalismo regional, nacional e internacional. O tampão no teto é simples de ser removido, a escada de madeira é pequena e suficientemente segura para que me lance degraus acima, mas insisto em adiar esse vasculhamento. Especialmente com relação a Aidan Ravin, um formidável vendedor de ilusões, tenho certeza de que vou me meter numa enrascada, porque possivelmente o que encontrarei será suficiente para encher um caminhão de desencanto.


 


Não, não pensem que estou a perseguir o prefeito de Santo André. Tampouco qualquer outro prefeito. Se querem saber mesmo, as promessas aos borbotões que saltam do banco de propostas dos candidatos seguem um ritual que o povo adora, a Imprensa venera e os contribuintes aplaudem. Quando a memória é fraca, quando a cidadania é escassa, quando a responsabilidade social é ficção, quando tudo isso se junta, trouxa é o candidato que não se locupleta. Eles não me pegam faz tempo, mas que pegam a maioria,  não tenho dúvidas.


 


Subo ou não subo no sótão em busca de meu arquivo valiosíssimo que comprova materialmente as imensas e caudalosas bobagens que se construíram e se consumiram na Província do Grande ABC ao longo das duas últimas décadas? Dou uma subidinha ou não dou? Meto-me escada acima ou sigo lá em baixo, entretido em minhas leituras, em meus programas preferidos de TV, os quais, quando não posso assistir ao vivo, programo gravações?


 


O que o leitor sugeriria? Vou fundo para saber o que os candidatos à reeleição na Província do Grande ABC prometeram caso vencessem em 2008 ou devo esquecê-los em nome de um pragmatismo de sobrevivência deles mesmos, porque é assim que o povo quer e merece? Que diferença fará se eu recuperar as declarações supostamente mais importantes daqueles vencedores ou se simplesmente esquecer o assunto? Digam-me, digam-me. Será que fará diferença? Estou pensando seriamente em me castigar. Há dias venho pensando em dar uma subidinha e trazer debaixo do braço algumas pastas com insumos esclarecedores sobre o grau de fantasias de candidatos exclusivamente interessados em chegar aos respectivos paços municipais.


 


Subo ou não subo?


 


Seria justo e honesto este jornalista se omitir nesse levantamento? Mas o que se dará depois de se provar por todos os caminhos possíveis que os vendedores de ilusões não têm com que se preocupar, porque nada lhes acontecerá por terem abusado do direito de iludir? Dou ou não dou uma subidinha, eis a questão que me incomoda.


 


Tudo isso acontece e não é de ontem porque há uma associação de interesses que fecha os olhos à retirada de coelhos de promessas da cartola da malandragem eleitoral. Faz parte do jogo  um tipo de competição desvairada, que consiste em maratonista apresentação de plano de governo. Dá-se espaço a toda e qualquer demanda sem levar em conta a baixa elasticidade orçamentária de municípios estrangulados na área fiscal, como provam recentes números oficiais que traduzimos em rankings do G-20 Paulista. Há um conflito latente que balizaria as propostas dos candidatos e a quase rigidez orçamentária, já por natureza legislativa estrangulada com as obrigações nas áreas de Educação e Cultura.


 


Dou ou não dou uma subidinha? Vou ou não vou ao sótão? Dou sim. Vou sim. Mais dia menos dias me lançarei escada acima. Começarei pelos candidatos à reeleição. Depois, se der tempo e se tiver paciência, vou vasculhar as páginas dos prefeitos que estão deixando os cargos. Só mudarei de ideia se levantar com a macaca da desilusão e decida esquecer de vez essa pauta. Uma pauta que, na verdade, nem deveria ser minha, isoladamente, mas de instituições municipais e também regionais.


 


Cadê a sociedade?


 


Para isso, bastaria que fossem socialmente responsáveis no sentido de monitorar todos os passos dos governantes, tendo como referencial a lista de soluções que anunciaram durante a campanha eleitoral. Mas como imaginar tamanha maturidade de uma sociedade amorfa, desleixada, interesseira e cultivadora permanente do egocentrismo de colunas sociais impressas, digitais e eletrônicas? Aliás, pensando bem, essa pauta não seria necessariamente dos candidatos, mas da sociedade. Como é o caso em São Paulo, onde uma instituição chamada Nossa São Paulo está revolucionando o conceito de administração pública ao cobrar do prefeito o cumprimento de extensa agenda de obras.


 


Pretendo começar minha viagem ao passado recente com o então candidato Aidan Ravin. Poderia dizer, fosse hipócrita, que estaria obedecendo à ordem alfabética dos municípios desta Província. Como detesto sinuosidades semânticas, vou direto e reto ao ponto: dono de um prontuário administrativo que faz corar muita gente que salta às manchetes em âmbito nacional, e seguramente o pior entre os prefeitos que Santo André elegeu nos últimos 50 anos, vou começar por Aidan Ravin porque o bom senso sugere, a obrigação profissional determina e a gravidade econômica do Município que mais se empobreceu no País nos últimos 40 anos assim o determina.


 


Mas se pensam os leitores que, com todo esse currículo, Aidan Ravin é uma carta fora do baralho de possibilidades de reeleição em Santo André, estão redondamente enganados. O homem é um fenômeno de popularidade principalmente entre os incautos, é um sonho de consumo entre os incluídos que mantém interesses ligadíssimos na Administração Pública e conta com o beneplácito das autoridades policiais e ministeriais que apuram devagar quase parando o escândalo do Semasa, além de fazerem vistas grossas a tantas outras irregularidades.


 


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