Finalmente a candidatura de Carlos Grana acertou um passo importante à disputa eleitoral de outubro ao conquistar o passe do classe média Paulinho Serra, vereador mais votado nas últimas eleições e até outro dia defensor das cores do PSDB. Paulinho Serra é um peso muito mais importante que o da candidata a vice do petista de Santo André, a educadora Oswana Fameli, cuja relação com essa camada socioeconômica é semelhante a deste jornalista com os astronautas que foram à Lua.
Não é o fato de Oswana Fameli integrar a diretoria da Acisa (Associação Comercial de Santo André) que a credencia como membro da classe média tradicional que guarda relativa distância do PT. Paulinho Serra tem o aval das urnas a corroborar com essa impressão. Um escrutínio dos votos recebidos nas últimas eleições, caso transformado em imagem, seria transposto na forma de uma enorme mancha azul tucana numa área que se espalha pelo perímetro central do Município. Ou seja: Paulinho Serra não é apenas um classe média de fato, de condições socioeconômicas e até mesmo históricas, por assim dizer, mas também eleitoral.
A vantagem que o PT de Santo André terá com o reforço de Paulinho Serra poderá ser ínfima perto do que eventualmente ele representaria numa possível Administração de Carlos Grana. Se na campanha eleitoral em fase de aquecimento o ex-tucano poderá dar uma densidade de votos em áreas geográficas cruciais para o sindicalista Carlos Grana, porque tem a cara da classe média, no poder municipal seria extraordinariamente útil caso se confirme uma das pontes que o ligam ao PT: o resgate de programas sociais e econômicos de Celso Daniel.
Paulinho Serra, a bem da verdade, não é um oportunista a bradar a bandeira celsista para comover a sociedade. Há muito tempo oferece-se como elemento de reconstituição do legado do maior prefeito regional da Província do Grande ABC.
Dádiva para o PT
Ter Paulinho Serra como representante da classe média na Administração de Carlos Grana seria uma dádiva ao PT que, paradoxalmente, praticamente se esqueceu da relevância de Celso Daniel depois daquele fatídico pós-sequestro seguido de morte. As denúncias de que o petista seria o centro de uma operação de ilegalidades no financiamento de campanhas eleitorais, bem como o cerne de uma teia de corrupção no Paço Municipal, assustaram o próprio partido na esteira da entonação que o Ministério Público deu ao assassinato. Paulinho Serra, um estranho no ninho partidário-petista, talvez seja algo como escrever certo por linhas tortas. Vindo de fora, não teria razão alguma para fugir da restauração conceitual do inventário de Celso Daniel.
Também por linhas tortas a companhia que Paulinho Serra oferece a Carlos Grana acaba tornando-se providencial. Como integrante dos tucanos o programado alinhamento com o PT no segundo turno lhe caberia mal, oportunista, contrariando desígnios do partido do governador do Estado. Expurgado da disputa pelo então coordenador regional do PSDB na Província do Grande ABC, o ex-prefeito e atual deputado federal William Dib, Paulinho Serra acabou encontrando uma solução ética. Agora no PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab, aliado petista em vários endereços metropolitanos, a compensar a fidelidade ao amigo José Serra na Capital, Paulinho Serra correu normalmente em direção a Carlos Grana. Principalmente porque carrega na algibeira de coerência um acordo para cuidar do histórico de Celso Daniel.
E o Instituto Celso Daniel?
Ainda sobre isso, convém lembrar que está a resistir uma dívida petista com aquele que foi o maior disseminador da invasão do partido de operários nas hostes conservadoras de Santo André, com espalhamento aos demais municípios da região. Que dívida? O Instituto Celso Daniel, ao qual me referi algum tempo atrás como núcleo à recuperação e ao aperfeiçoamento de políticas públicas aplicadas pelo então prefeito
Quando conversei sobre o assunto com Carlos Grana, em texto que consta desta revista digital, a resposta foi de que tudo seria encaminhado à concretização do projeto. Infelizmente, nada se aplicou nem como preparativos. Talvez Carlos Grana tenha entendido mal, porque o memorial em homenagem a Celso Daniel, sediado no Clube dos Prefeitos, está a léguas de distância do que este jornalista propõe. Talvez o que se oferece e o que sugeri tenham a mesma distância entre um calhambeque e uma Ferrari.
Quem sabe com Paulinho Serra cuidando do temário, independente até do resultado eleitoral de outubro, o Instituto Celso Daniel finalmente saia da idealização e seja entregue à sociedade como presente extrapartidário.
Do jeito que está é que não pode ficar, porque os petistas amam Celso Daniel apenas em particular ou quando o discurso convém em período eleitoral, enquanto os adversários o admiram também entre quatro paredes, estando sempre próximos a dar estilingadas públicas utilizando-se do escândalo do crime como munição à estigmatização da retórica adversária.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)