Política

De volta à cama com observações
sobre Marinho, Reali e Regina

DANIEL LIMA - 26/07/2012

Conforme prometido, volto à cama com o prefeito Luiz Marinho de São Bernardo, o prefeito Mário Reali de Diadema e a candidatíssima à Prefeitura de São Caetano, Regina Maura. Este texto complementa aquele em que assustei os leitores com os primeiros parágrafos maliciosamente apimentados. Trata-se de observações sobre as entrevistas que essas autoridades concederam a três veículos de comunicação da região nos últimos dias. Um trabalho criterioso dos profissionais envolvidos, a demonstrar que há vida inteligente na Imprensa regional. E que o varejismo da cobertura do Diário do Grande ABC na temporada eleitoral, que, aos poucos, vai-se alterando porque é dose para cavalo, tem contrafaces que precisam ser exaltadas até para que não se coloque no mesmo saco de gatos as espetadas críticas que o jornalismo exige.

Para facilitar o entendimento dos leitores e, principalmente, para permitir que não me perca nas temáticas, até porque geralmente escrevo de manhã com alguma pressa, vou aproveitar os verbetes que utilizei na matéria de chamada deste texto para resumir impressões sobre as entrevistas ao Repórter Diário, ao Metro/ABC e ao Diário Regional. Marinho foi ouvido pelo Metro/ABC, Reali pelo Repórter Diário e Regina Maura pelo Repórter Diário e pelo Diário Regional.

1. Sarcasmo

Luiz Marinho caiu na armadilha desse ingrediente idiossincrático, além de dissimulado, ao ser inquirido sobre o projeto São Bernardo Moderna, deixado de herança técnica pela Administração William Dib. Fez-se Marinho de surpreso, desclassificou a série de intervenções viárias e de infraestrutura e avocou exclusivamente para si as medidas tomadas. Foi na contramão do projeto que, ainda recentemente, um de seus executivos de confiança, o secretário da pasta que cuida da estrutura física de São Bernardo, não só confirmou como também procurou acrescentar informações sobre o volume de recursos envolvidos, entre os quais do governo federal e de fontes internacionais. Marinho precisa estudar resposta ao São Bernardo Moderna que lhe dê o merecido crédito pela efetividade de obras sem, entretanto, negar a origem intelectual e técnica do projeto.

2. Determinação

Regina Maura está tão determinada a acabar com os cortiços em São Caetano quanto Mário Reali a eliminar os barracos em Diadema e Luiz Marinho a acrescentar mais e mais obras no currículo de fazedor de soluções sociais. Ler as respostas nesse sentido é depositar esperanças de que cada um a seu modo tem compromisso intrínseco ante eventual mandato. A postura serena de Regina Maura, de que a solução para os cortiços de São Caetano passa pelos governos estadual e federal, demonstra a franqueza de quem sabe que o que se diz hoje é um compromisso assumido. Preferiu, elegantemente, não retaliar opositores que, sempre em período eleitoral, advertem sobre essa chaga urbanística no Município de melhor qualidade de vida da Região Metropolitana de São Paulo. Respondeu com a segurança de sempre.

3. Comedimento

As três autoridades não se excederam em promessas nem no derramamento inadvertido de autoelogios, em sinal evidente de que parece não haver deslumbramento com a possibilidade de continuarem (no caso dos dois prefeitos) ou de assumir (no caso de Regina Maura) os respectivos paços municipais. O tom das entrevistas não chegou a ser de desconforto com os desafios que se colocam numa região demandadora permanente de intervenções públicas em várias áreas. E isso é muito bom.

4. Detalhismo

Também há semelhança entre os entrevistados no detalhamento das respostas. Luiz Marinho parece que concedeu a entrevista munido de documentos e gráficos. Em resumo, eles não desperdiçaram a oportunidade de transmitir informações aos leitores. Muito, mas muito melhor que a alternativa varejista de acompanhamento local das andanças de cada um deles nesta campanha eleitoral, como tem feito o Diário do Grande ABC.

5. Sensibilidade

Esse quesito é parente próximo de comedimento e de detalhismos. É impossível, portanto, registrá-lo sem que venha acompanhado. Marinho, Reali e Regina transpareceram esse sentimento. O que é uma ótima resposta e, mais que isso, um compromisso à aplicabilidade dos projetos.

6. Entusiasmo

Regina Maura fala com entusiasmo quando se refere ao projeto de esporte e lazer que gostaria de ver efetivado nos 11 quilômetros de área da Eletropaulo, entre o Bairro São José e o Bairro Mauá, e que passa junto ao Bosque do Povo e ao Chico Mendes. Mas chama a atenção ao fato de que o reenquadramento urbanístico da área depende de aprovação da estatal do governo do Estado. Mario Reali fala sobre o compromisso de reduzir o déficit de creches em Diadema, mas antecipa que não promete universalizar a oferta porque são 22 mil vagas a preencher. Luiz Marinho fala da implementação de corredores de ônibus, de transporte fluvial e também de metrô a cabo nos bairros montanhosos como fitas de chegada a perseguir.

7. Regionalismo

Um grande buraco negro para Luiz Marinho é acreditar em regionalidade. Em nenhum trecho da entrevista ao Metro/ABC o prefeito de São Bernardo fez qualquer menção ao verbete, ou a algo equivalente. Uma lástima para quem é o coordenador político do PT na Província do Grande ABC e, mais ainda, para quem sonha com o governo do Estado nas eleições de 2018. Já Regina Maura está atenta à integração regional, é crítica do Clube dos Prefeitos, e garante que se eleita vai dedicar-se à interlocução tanto regional quanto metropolitana. Mario Reali, até outro dia presidente do Clube dos Prefeitos, vai reivindicar o esticamento do metrô (VLT, Veículo Leve sobre Trilho) até Diadema. Por enquanto, apenas São Caetano, Santo André e São Bernardo estão contemplados com o trajeto. E, como Regina Maura, desfralda a bandeira de planejamento e ações compartilhadas, que tornem a mobilidade urbana algo menos complexo. Não é por outra razão, aliás, que o Clube dos Prefeitos, então sob a presidência de Reali, contratou um plano específico nesse sentido. Só falta ser entregue e aprovado.

8. Municipalismo

Luiz Marinho é o símbolo do municipalismo regional. Em dose cavalar. A dificuldade em enxergar o restante da Província do Grande ABC em outras áreas além da política partidária é estonteante. Seus assessores imediatos precisam chamar-lhe a atenção. Se o prefeito de São Bernardo dedicar à especialidade de Celso Daniel uma parcela apenas do entusiasmo com que se lançou a planejar as intervenções sociais em São Bernardo, estará no caminho de Damasco. Sim, porque a São Bernardo canteiro de obras com recursos municipais e federais foi esculpida antes mesmo de Luiz Marinho assumir o cargo, no intervalo entre a vitória eleitoral de 2008 e a posse em janeiro, tendo a companhia de vários assessores especiais e, principalmente, de Miriam Belchior, informalmente no comando da operação. Regionalidade é um bicho de sete cabeças para Luiz Marinho. Municipalismo é um mantra importante, mas incompleto. Somos uma confederação de províncias municipais.

9. Inquietação

O prefeito Mário Reali demonstrou o quanto está preocupado com a anatomia viária e social de Diadema ao revelar inquietação com o que será do Município ante a projeção de novas 10 mil moradias nos próximos anos, cinco mil das quais já impactadoras. O que vai acontecer com a mobilidade viária? Quais os resultados sociais desse estupro? Talvez o prefeito devesse criar um grupo especial para tratar preventivamente do assunto. Seria uma resposta didática a outros municípios anestesiados pelas torres de concreto que sobem sem parar como enganoso sinônimo de desenvolvimento econômico.

10. Futurismo

Faltou aos três concorrentes às eleições de outubro uma centralidade no futuro estratégico de seus respectivos municípios e também da Província do Grande ABC. As propostas ainda são pontuais e mesmo quando sugerem integrar um feixe de homogeneidade não estão formalmente compactadas num invólucro específico.

11. Confiança

Apesar de todos os pesares macroeconômicos, com rebaixamentos contínuos das projeções do PIB (Produto Interno Bruto), com efeitos diretos numa geoeconomia movida à indústria automotiva, Regina Maura, Mário Reali e Luiz Marinho não demonstraram qualquer sinal de incômodo com eventuais transtornos orçamentários a partir do ano que vem.

12. Compartilhamento

Regina Maura e Mário Reali pareceram mais suscetíveis a compartilhar propostas de cunho regional. Embora os municípios não apresentem vizinhança física territorial, acabam indiretamente atingidos por infortúnios metropolitanos.

13. Partidarismo

Dizendo-se com obrigação de ganhar as eleições em São Bernardo, Luiz Marinho insinua que vai engrossar a campanha de petistas aparentemente em situação menos confortável nas pesquisas eleitorais, casos de Carlos Grana em Santo André e de Donisete Braga em Mauá. Marinho chega a sugerir que abrirá mão da companhia do ex-presidente Lula da Silva em favor de concorrentes petistas em apuros. A verbalização da confiança na reeleição pode parecer arrogância, mas como condenar um prefeito bem avaliado que deixa de lado a hipocrisia e declara com sinceridade cortante que está mesmo disposto a dispensar o apoio presencial disputadíssimo de Lula da Silva, seu mentor e principal cabo eleitoral na vitória de 2008?

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