O PT de Santo André quer retomar o Paço Municipal a qualquer preço, por isso submete-se a tudo. Só falta entregar as calcinhas da autoestima que resta, porque o sutiã da independência de composição da chapa se foi, o vestidinho bem ajeitado de um discurso coerente esgota-se no proselitismo de ocasião e os sapatos da percepção de que não se pode vender a alma já foi para o vinagre. Resumo da ópera: o PT de Santo André caminha para uma nudez desavergonhada de corpo e de alma. Será que tudo isso vale o preço por um Paço Municipal, principalmente quando se corre o risco de não ter o Paço Municipal na reta de chegada?
Depois de aceitar uma composição inócua que enfiou goela adentro uma candidatura a vice-prefeita de uma Oswana Fameli sem o menor peso eleitoral (tanto que o reforço de Paulinho Serra é comemorado de forma barulhenta, porque o ex-tucano dialoga de verdade com parte da classe média), o candidato Carlos Grana aceitou passivamente do presidente do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto, a exclusão sumária e sem qualquer possibilidade de reviravolta do ex-menino de ouro da Administração Celso Daniel. Sim, estou falando do arquiteto Klinger Sousa, ex-amigo do peito de Ronan Maria Pinto.
Os motivos que comportam tamanha sandice partidária e eleitoral são de foro particular e jamais devem ser retirados dali, mas as consequências são públicas, de interesse coletivo. Klinger Sousa é um tremendo reforço a qualquer candidatura de peso e com ambições de alterar o rumo dos acontecimentos que Santo André gostaria de ter. Mas nenhum dos concorrentes o terá, nem o PT de Carlos Grana, nem o PDT de Raimundo Salles, nem o PMDB de Nilson Bonome. Nem que a vaca tussa, porque as consequências seriam retaliadoras para quem ousar enfrentar um tiroteio do qual não se contariam feridos, porque só mortos existiriam.
Preferido de Celso Daniel
Klinger Sousa era incensado como futuro prefeito de Santo André naquele final de 2001. Celso Daniel, nomeado e confirmado como coordenador da campanha do então presidenciável Lula da Silva, o colocara na linha de frente para dirigir de fato a Administração petista. Quando janeiro de 2002 chegou e Celso Daniel virou mito, o mundo começou a desabar sobre Klinger Sousa. O executivo público que se elegera vereador em 1998 com votação extraordinária e que gradualmente se transformara no principal secretário da Administração foi metido no redemoinho de denúncias de irregularidades, assim como Ronan Maria Pinto e tantos outros íntimos do maior prefeito regional que a Província do Grande ABC já contou.
O ostracismo público de Klinger Luiz de Sousa não tem correlação alguma com o enriquecimento intelectual e as ações práticas de quem jamais se preocupou em salvar as aparências de que entre o tecnicamente bem feito e o acomodatício na gestão pública, sempre ficaria com a primeira opção. Por isso, sustentou atritos com peixes pequenos e alguns peixes graúdos petistas que se notabilizam pela mediocridade permanente. Em suma, Klinger Sousa continua a ser uma cabeça com alta demanda não só dos petistas como também de adversários que o colocam sim como o mais brilhante fruto do grupo mais próximo a Celso Daniel.
É esse Klinger Sousa que começou badalado e imprescindível ao grupo de pré-campanha eleitoral de Carlos Grana o alvo de veto de Ronan Maria Pinto. O mesmo Ronan Maria Pinto que, até então, o indicara para o grupo de Carlos Grana. As razões particulares que os tornam praticamente inimigos, um degrau, portanto, acima do conceito de desafeto, desfalcam sensivelmente não só a candidatura petista, mas qualquer outra que ouse desafiar o coronelismo midiático da Província do Grande ABC. Situação que lembra o quanto somos caipiras e nos remete, sem exagero, à série televisa Gabriela, em nova versão. Quem esticar a comparação e sugerir uma ideia do que seria o bataclan de Maria Machadão, sugiro que passe a frequentar com alguma assiduidade nossas casas supostamente de leis, que só enchem linguiças decorativas.
Solidariedade zero
A submissão do PT de Santo André à vontade do Diário do Grande ABC não obteve de outras forças do partido na região qualquer movimento de solidariedade e, principalmente, de repulsa. O poderoso prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, acompanha tudo calado e praticamente nada fez para reverter o processo, embora não falte entre assessores diretos quem avalize todos os atributos de Klinger Sousa. O problema é que também não falta entre eles, o que é comum numa sociedade morta como a da Província, quem torça desesperadamente para Klinger Sousa ficar longe de qualquer administração petista. Tudo por conta de ciumeira, ciumeira das bravas, porque os medíocres querem que querem ser soberanos e qualquer cabeça mais bem aquinhoada que ouse confrontá-los em ideias, propostas, planos, essas coisas, é malvista porque expõe justamente o que eles têm de melhor (e de pior): a própria mediocridade e a sustentação da zona de conforto. É assim também em tantas outras atividades. Como o jornalismo, por exemplo.
Jamais me permitiria a bisbilhotice informativa de me meter na seara de particularidades entre Ronan Maria Pinto e Klinger Sousa, embora o dono do Diário do Grande ABC tenha sido o primeiro a propagar a questão a interlocutores nem tão íntimos como se suporia. Entretanto, não é o fato de o assunto pertencer a um departamento privado que adquire a impenetrabilidade informativa decorrente dos desdobramentos públicos. O caráter vingativo explicitado na socialização do privado é um erro no sentido mais amplo e agudo do caso, principalmente porque interfere de forma abusiva nas relações comunitárias, entendidas como a possibilidade de Santo André tão árida de ideias e de ações continuar a expurgar uma cabeça pensante que contribuiria imensamente a reviravolta há muito esperada.
Nudez rodriguiana
O mais lastimável mesmo de tudo isso é que o candidato Carlos Grana e o PT como um todo se colocam de joelhos ante um veículo de comunicação que, eles mesmos cansam de afirmar nos bastidores, está muito longe de influenciar profundamente o eleitorado depois da consolidação de uma conjugação de fatores que vai da fragilidade da companhia que edita a publicação à multiplicidade de fontes de informação, passando pela limitação de audiência da mídia impressa e o Complexo de Gata Borralheira.
Será que supostamente encontraremos uma Administração Carlos Grana, a partir de janeiro próximo, em situação bem menos interessante do que as meninas do bataclan de Maria Machadão, sempre em figurinos deslumbrantes para quem gosta de luxúria? Prevalecerá a nudez com que está a desfilar nesse período eleitoral? Pior será se, mesmo com todo esse streeptease de princípios e independência, o PT não passar pelo escrutínio popular de outubro. Será um castigo merecido.
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01/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (20)