Política

Há um marqueteiro genial na praça
a organizar a campanha de Grana

DANIEL LIMA - 02/08/2012

É claro que o título acima é sarcasmo puro. Nem poderia ser diferente. Até porque, fosse verdade, verdade verdadeira, outros petistas relativamente em baixa nas pesquisas eleitorais recorreriam imediatamente à medida. Trata-se do seguinte: o candidato do PT à Prefeitura de Santo André, Carlos Grana, decidiu, ouvidos o marqueteiro e as comissões de sempre daquela agremiação política, incorporar a sigla PT ao próprio nome não só nas pesquisas eleitorais como nas urnas eletrônicas em outubro. Razão principal apresentada? Grana conta com menos do que os potenciais 30% de votos cativos que seriam destinados ao partido para chegar ao segundo turno.


 


Há série de ponderações que não escapam ao senso crítico. A principal talvez seja a lógica de que o marqueteiro que inventou essa história deveria ser conduzido rapidamente à equipe do também petista Fernando Haddad, em São Paulo. Como o candidato em Santo André, a partir de agora Carlos Grana PT, Fernando Haddad PT também saltaria oficialmente às pesquisas eleitorais e às urnas. E mais um montão de outros concorrentes petistas que ainda não atingiram a cota potencial de votos.


 


Não fosse por si só uma confissão de que o PT de Santo André não conseguiu até agora comunicar ao distinto público que tem um candidato à Prefeitura, o que é absolutamente natural porque o concorrente tem raízes locais mas ficou por alguns anos fora da órbita social doméstica, a medida é contraproducente no contexto político atual.


 


Basta ligar a TV, principalmente o líder de audiência Jornal Nacional, para tomar contato com o estágio de constrangimento da estrela vermelha, metida até o pescoço no escândalo do mensalão, a ser julgado a partir de hoje e que por pelo menos 30 dias será objeto de polêmicas barulhentas.


 


Contexto inadequado


 


Carlos Grana PT surge exatamente nessa quadra da vida do partido do ex-presidente Lula da Silva. Esse marqueteiro petista é de lascar, convenhamos. O que mais fazem alguns candidatos petistas Brasil afora é tentar submeter a agremiação a algum tipo de escamoteamento público nesse período de execração dos métodos de conquista de maioria parlamentar. Até mesmo o nacionalmente conhecido Zeca do PT, se pudesse, viraria apenas Zeca. Pois Carlos Grana vai em frente, premido pelas dificuldades momentâneas, e acrescenta a sigla ao nome de batismo.


 


A medida teria equivalência a uma iniciativa análoga da jovem e bela mulher do bicheiro Carlinhos Cachoeira que, supostamente candidata, acrescentasse o apêndice popular do marido ao seu. Ou alguém tem dúvidas de que os dois escândalos, um requentado às vésperas das eleições e outro metido na arena política para tentar minimizar os estragos do primeiro, não têm certa equivalência destrutiva?


 


Gostaria de ouvir do próprio marqueteiro do PT os argumentos que o tornaram autor de tamanha sandice. Li tudo o que era possível a respeito da decisão, nas mais diferentes fontes jornalísticas, inclusive em publicações simpáticas a Carlos Grana, e não encontrei outra explicação senão a tentativa de alcançar o patamar mínimo de votos na próxima pesquisa eleitoral do Diário do Grande ABC, daqui a duas semanas. Esqueceu-se de combinar com os eleitores sobre os desdobramentos de tudo isso num eventual segundo turno, quando o piso de 30% de potenciais votos petistas do primeiro turno se transformarão em teto a ser derrubado.


 


É bem capaz de o engenheiro dessa aberração de marketing proclamar-se detentor de extraordinários dotes de sensibilidade social caso Carlos Grana PT, como assim o quer e decidiu, der uma avançada nos números. Como se entre a primeira bateria de pesquisas e a segunda não houvesse um compulsório salto, já que o nível de eleitores que deixarão de responder que não sabem em quem votar, porque mal ouviram falar dos concorrentes, não fosse diminuir ante as peregrinações carregadas de promessas que os jornais divulgam a cada novo dia dos esforçados prefeituráveis.


 


Tamanho do estrago


 


Ainda não se mediu o tamanho dos estragos que o mensalão vai provocar nas ambições eleitorais do PT Brasil adentro e afora. Nenhuma pesquisa foi a campo com o sentido de retirar a interrogação que inquieta principalmente os petistas. A cobertura da TV Globo reproduz o senso comum de que se trata do maior escândalo político do País. Faz-se quase nenhuma menção aos cromossomos dos criadores do mecanismo de desviar recursos públicos para compra de votos de parlamentares, em 1998, com o governador tucano Eduardo Azeredo, de Minas Gerais. O PT deu uma garibada na metodologia, ampliou os tentáculos e o tornou mais sistêmico. Assim se dá com qualquer inovação quando submetida a novas intervenções. Começamos com telégrafos e chegamos à Internet. Evolucionismo tecnológico é isso. Pantagruelismo político é aquilo.


 


A então candidata Dilma Rousseff, escolhida a dedo pelo então presidente Lula da Silva para concorrer à sucessão presidencial, não precisou utilizar o recurso de Dilma PT para superar José Serra. Nem quando registrava desmilinguidos numerais pré-eleitorais apareceu nas hostes petistas alguém que tentasse vinculá-la explicitamente ao partido. Desconhece-se qualquer iniciativa nesse sentido. Como a presidente não é de salamaleques, possivelmente as consequências teriam sido graves.  


 


Carlos Grana é mais cordato, tem vocação ao consenso e, como se sabe, consenso é um perigo porque basta uma fagulha de mediocridade exposta com certa linguagem de descobridores da pólvora ou de industrializadores de bobagens para adesões imediatas. Celso Daniel só foi Celso Daniel entre outras razões porque tinha por hábito deixar para mais tarde, preferencialmente para o dia seguinte, cada proposição supostamente nova. Assim como um encanto imediato pode desencadear complicações amorosas no futuro, o entusiasmo por uma proposta que toca fundo no peito a paixão partidária pode entupir os filtros críticos.


 


Falta coordenação


 


Talvez o que esteja a faltar ao staff que administra a candidatura de Carlos Grana em Santo André seja mais tranquilidade, mais organização e mais planejamento. A escolha de Oswana Fameli foi um equívoco só contornado pelo reforço do ex-tucano Paulinho Serra porque sortilégios contribuíram para isso. Tivesse Paulinho Serra obtido sucesso para concorrer como companheiro de chapa de Aidan Ravin, uma das alternativas que mais se projetaram antes que entornasse o caldo entre tucanos e petebistas, Carlos Grana ficaria a ver navios, sem nenhum pezinho sequer na classe média.


 


O puxadinho engendrado pelo marqueteiro petista é um chute nas regiões baixas porque enfatiza, com o Carlos Grana PT, uma intimidade entre o candidato e sua agremiação mais que desnecessária. Pode soar, por isso, à provocação, à exibição, à arrogância, à fanatismo partidário acima de compromissos com o Município.


 


O senso comum de reconhecer que Carlos Grana é o candidato petista é uma coisa. O carimbo oficial nas pesquisas e nas urnas de que Carlos Grana é PT, é outra. Sem contar também que é uma confissão tácita de que a capacidade de mobilização do PT para massificar Carlos Grana no seio da comunidade está debilitada. O material de campanha já distribuído e exposto em muitas das esquinas de Santo André terá de ser totalmente refeito se houver coerência à acoplagem da agremiação à identidade do candidato. 


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