Política

Estragos do mensalão podem ser
maiores para petistas da Província

DANIEL LIMA - 03/08/2012

O Instituto Análise ouviu cinco mil pessoas em 121 municípios brasileiros entre os dias 4 e 15 de julho para saber o tamanho dos estragos nas candidaturas petistas caso os políticos do partido sejam condenados por conta do mensalão. Não há resultados que envolvam diretamente a Província do Grande ABC, mas pelas patas dos números nacionais dá para projetar o tamanho do impacto. Nada menos que 20% do eleitorado responderam que “certamente deixariam de votar” em candidatos do partido. Como outros 18% afirmaram que “talvez não votariam” se houvesse condenação, tudo indica que o PT vai ter de rebolar um bocado para acertar o prumo. Candidaturas que estão longe de margem relativamente segura de confiabilidade, casos de Carlos Grana em Santo André, Donisete Braga em Mauá e Maria Inês Soares em Ribeirão Pires, que se cubram. Luiz Marinho também não estaria a salvo de encrencas porque seu nome é um dos mais associados ao PT. Quanto a Carlos Grana, os marqueteiros trataram de lhe impor um puxadinho incômodo nestas alturas do campeonato.


 


Foi o jornal Valor Econômico que na edição de ontem publicou uma reportagem sobre a pesquisa do Instituto Análise. Diferentemente, por exemplo, da pobreza informativa da pesquisa de intenção de votos na Província do Grande ABC, que o Diário do Grande ABC publicou há 10 dias, o material do Valor Econômico é vasto, explicativo e interessante. E quem quiser ter mais acesso a informações pode dirigir-se diretamente ao site do Instituto Análise.


 


Com os cuidados que os números gerais devem requerer quando transpostos para o ambiente da Província do Grande ABC, não custa nada algumas ponderações. Uma das quais, que não consta do texto de Valor Econômico, é que possivelmente os resultados apresentados tendem a recrudescer o martírio petista, ante a exposição maciça do julgamento dos 38 réus do mensalão. Ou seja: quando tudo terminar e por efeito cumulativo, considerando-se como se prevê um desgaste imenso do PT, com série de condenações, os transtornos eleitorais seriam muito maiores. A temporada de caça aos votos petistas promete desilusões aos candidatos do partido. Quem não tiver gordura para queimar que trate de contabilizar preventivamente um déficit preocupante e trabalhar redobradamente para atenuar as perdas.


 


Um problema adicional


 


Um dos pontos que pode tornar a aderência negativa do mensalão na frigideira de interesses do PT é o percentual de eleitores entrevistados pelo Instituto Análise que declararam ter ouvido falar do mensalão mas não o correlacionam ao PT: foram 53% dos 87% que responderam afirmativamente à indagação do entrevistador. Ou seja: mais da metade dos eleitores têm conhecimento do escândalo, mas não atribuíam até então ao PT. Apenas 12% apontaram o escândalo a Lula da Silva, ante 9% aos políticos do PT. A massificação do mensalão como obra petista possivelmente acrescentará camadas de rejeição aos candidatos do partido.


 


Nesse caso, convém prestar atenção no volume de eleitores que responderam aos pesquisadores do Instituto Análise que “se os políticos do PT forem condenados, deixaria de votar neles por causa do escândalo do mensalão?”. Os 24% que optaram por “com certeza não deixaria de votar” e 22% que “talvez não deixaria de votar”, possivelmente formarão pelotões menos numerosos ante a artilharia midiática direcionada aos companheiros de José Dirceu.


 


A briga é boa entre os eleitores que responderam à questão “qual é o partido mais corrupto?”. Enquanto 39% não souberam responder ou não sabem, outros 32% apontaram que todos os partidos estão no mesmo saco desclassificatório. Os demais se dividiram sem grandes margens de diferença entre o PT (9%), o PMDB (5%) e o PSDB (5%).


 


Economia ajuda muito


 


Mais adiante, o Instituto Análise perguntou que “pode até ser que tenha corrupção, mas os políticos do PT são os que mais melhoraram a vida da população?”. Nada menos que 66% concordaram com o enunciado, ante 23% que discordaram e 13% não souberam ou não responderam. A compreensão desse resultado exige reflexão redobrada porque tanto pode significar que os eleitores que aprovam o governo petista de Lula da Silva e de Dilma Rousseff são mais flexíveis e tolerantes à corrupção como também teria uma conotação de avaliação prevalecentemente econômica.


 


O que favorece a segunda alternativa é que a avaliação de Dilma Rousseff apontou aprovação de 70% dos eleitores entrevistados, 13% dos quais de ótimo, 51% de boa e 6% de regular para boa. Os outros 30% se referem a 3% de regular para ruim, a 17% de ruim, a 8% de péssima e a 2% que não responderam ou não sabem. Viram como essa pergunta do Instituto Análise dá mais precisão à formulação de juízo de valor de uma administração? Bem diferente da pesquisa mal-ajambrada do Diário do Grande ABC, inconclusiva quanto ao critério de “regular” porque não flexibilizou se “positivo” ou “negativo”.


 


Ouso afirmar que as dificuldades das candidaturas petistas na Província do Grande ABC serão mais pronunciadas do que na média geral do País anunciada pelo Valor Econômico. Primeiro porque, agora com base no site do Instituto Análise, a rejeição aos políticos petistas envolvidos no mensalão aumenta de tamanho nas regiões mais desenvolvidas, Sul e Sudeste. Como a Província do Grande ABC tem a particularidade de uma acentuada clivagem petista e antipetista acima, muito acima, da média nacional, os estrategistas avermelhados que tratem de mobilizar esforços para atenuar o estremecimento que se prenuncia nos contatos com os eleitores. A vitrine do Jornal Nacional, principalmente, é corrosiva à tradicional capacidade petista de crescer na reta de chegada. Desta vez, a cronologia do julgamento do mensalão é mais que um antídoto ao anabolizante natural instrumentalizado pela militância do partido. Tem tudo para tornar-se uma crise de depressão.


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