Tomo emprestado o título daquele que é considerado por muitos o melhor filme de Marilyn Monroe para tentar sintetizar um desejo para o resultado final do debate da manhã desta quarta-feira na Fundação Santo André entre os candidatos a prefeito do Município que mais perdeu tônus econômico nos últimos 30 anos. Que título? Quanto Mais Quente Melhor, com a insuperável (em beleza e em encrencas) atriz cuja morte acaba de completar meio século. Que prevaleça o espírito de MM, mas que o encontro valha a pena pela seriedade e pelos embates produtivos.
A iniciativa da Radio ABC e do jornal Bom Dia/ABCD chega em boa hora. Já estava cansado da pasmaceira das Páginas Eleitorais Compulsórias do Diário do Grande ABC, um repeteco impresso do chamado Horário Eleitoral Obrigatório que somente os municípios com viabilidade tecnológica de contar com emissoras de TV abertas podem apresentar. Ou seja, o Diário inventou uma maneira dispendiosa, quando não tediosa de tentar compensar a falta da programação eletrônica.
Sei lá qual vai ser o nível emocional do debate que reunirá os seis candidatos
É claro que nem de longe estou a sugerir rabos de arraia, golpes baixos, essas coisas de lutas-livres do passado que mudaram de nome, ganharam alguns requintes regulamentares e muito, muito marketing e fortuna. Só quero que os candidatos entendam a gravidade do quadro econômico de Santo André, que se irradia por todos os demais setores, principalmente ao atacar mortalmente a cidadania, e coloquem as cartas na mesa.
Olha o orçamento!
Que travem acalorado debate sim, mas cuja essência seja a qualificação de cada frase, o embasamento orçamentário de cada promessa, o compromisso com uma Santo André há décadas praticamente à deriva. Não se pode perder uma oportunidade como essa para esclarecimentos, embora, sinceramente, não acredito nisso. Tradicionalmente os debates eleitorais, quaisquer que sejam os formatos, pautam-se pela enrolação, pelo sofisma, pela exuberância criativa sem conexão com os cofres públicos. Mas, mesmo assim, são mais interessantes que o noticiário em geral, fora do esquadro das demandas dos consumidores de informação.
Por conta de convite dos organizadores do evento não deixarei de acompanhar o espetáculo de democracia ao vivo e em cores no auditório do colégio da Fundação Santo André. Tomara que meu nome não seja catapultado do sorteio em forma de uma pergunta no quarto bloco, porque se ocorrer o pior e me sobrar essa obrigação regulamentar, não vou dar moleza. Sei lá se é pergunta individual ou uma mesma pergunta para o coletivo de concorrentes. Seja lá o que for, vou armado de metralhadora persecutória. Quero fazer jus à Marilyn Monroe naquela jornada de glória do cinema norte-americano.
Lógico que não vou revelar aos leitores que pergunta farei tampouco as alternativas de que disponho caso alguém resolva adivinhar meus pensamentos e se sorteado for, ou mesmo durante o debate nas fases anteriores, fizer indagação que esteja engatilhada por mim. O que não faltam são opções para, quem sabe, retirar o debate de eventual zona de conforto. No fundo, no fundo, duvido que existirá essa zona de conforto porque há concorrentes que não têm nada a perder porque já tem as eleições como perdidas, outros precisam ser mais atrevidos para saírem do atoleiro das pesquisas e o bloco dos dianteiros em probabilidades de sucesso disputa acirradamente cada evento como o último passo rumo a um segundo turno nivelador de possibilidades.
Avaliação à tarde
Como se candidato fosse a prefeito de Santo de Santo André, entro na onda eleitoral e faço uma promessa: vou anotar tudo o que achar importante e pretendo transformar a maçaroca num texto que postaria nesta quarta-feira nesta revista digital por volta das 16h.
Os organizadores do evento vão bagunçar o meu dia, porque meus dias são sempre bem organizados. Reservo as manhãs para leituras, escritas, arquivamento de material, reuniões longe de olhos curiosos, entre outras situações. Com o debate, vou ter de dar um jeito de levantar mais cedo para pelo menos digerir parte dos jornais que recebo em casa de forma a que não acumule atividades à tarde e à noite. Até porque, quarta-feira é dia de futebol e como sou louco por futebol não abro mão de me meter sofá a fundo para procurar entender as razões que me levam a crer que provavelmente os gaúchos Internacional e Grêmio e os cariocas Fluminense e Vasco disputarão o título do Campeonato Brasileiro, com alguma possibilidade de o Atlético Mineiro, cavalo paraguaio velho de guerra, quebrar a escrita de fracassos após brilhantes arrancadas.
Quebrar a rotina da organização de meu dia a dia será provavelmente bastante compensador porque, de qualquer maneira, seja o debate bom, médio ou uma arrastada tentativa de os concorrentes mostrarem-se os maiorais, haverá sempre a perspectiva de descrever os lances principais com o entusiasmo de sempre de quem não consegue deixar de dedilhar o teclado imaginando-se pianista no Municipal.
Se fosse fazer uma aposta fundamentada na experiência de vida profissional e no empacotamento de regras dos debates eleitorais indispensáveis à convivência de algumas horas entre os candidatos sem que seja necessário recorrer à Polícia, diria que não espero nada parecido com o filme mais famoso de Marilyn Monroe. O que vier é lucro, porque sairemos da pasmaceira das promessas diárias das páginas dos jornais.
No fundo, no fundo, temo que o espírito de Marilyn Monroe esteja na Fundação Santo André com outro sucesso de bilheteria da loira que saltou de cama em cama até cair nas graças presidenciais de John Kennedy. Temo de verdade que cada candidato vá à disputa nesse debate certo de que fará crer a todos que o pecado mora ao lado, à direita ou à esquerda de onde se encontrará sentado ou de pé.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)