Política

Por que UFABC e não Semasa no
primeiro debate em Santo André?

DANIEL LIMA - 13/08/2012

Tenho ouvido e lido de leitores a mesma pergunta, insistentemente: por que indagar no quarto e penúltimo bloco do primeiro debate dos prefeituráveis de Santo André sobre o que chamo de fracasso regional da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC) em vez de acabar com o ambiente morno do encontro tocando num assunto que ninguém tocou, no caso o escândalo do Semasa?


 


A resposta é simples e não tem necessariamente nada com hierarquia de valor entre um assunto e outro: o sorteio indicou que a pergunta deveria ser direcionada ao candidato petista Carlos Grana.


 


Fosse Aidan Ravin, a pergunta seria sobre o Semasa. Fosse Raimundo Salles, a pergunta seria sobre a compatibilidade orçamentária de Santo André e seu plano de governo. Fosse Nilson Bonome, a pergunta se encaminharia para a fluvial e sempre inútil troca de secretários de Desenvolvimento Econômico da Administração Aidan Ravin, que ainda outro dia ele criticou. Fosse a Alexandre Flaquer, a pergunta seria sobre a viabilidade de uma árvore genealógica já por demais defasada influenciar na disputa eleitoral. Fosse Marcelo Reina, candidato do Psol, a pergunta seria simples: será que ele acredita mesmo que seu discurso moralista e ético tão velho de guerra, dinamitado pelo PT outrora virginal, se manterá caso consiga viabilidade eleitoral? Não seria a viabilidade eleitoral produto do encontro das águas de acertos prévios nada republicanos?   


 


Perguntas prontas


 


Quando disse, microfone à mão, que estava me programando com 15 perguntas diferentes, não estava blefando. Nem poderia blefar. Afinal, a agenda transformadora de Santo André comporta provavelmente muito mais indagações e respostas, tanto na retórica quando na prática. Santo André é um Município em  declínio econômico há aproximadamente quatro décadas. É verdade que a linha decrescente de fragilidade em vários indicadores econômicos e sociais está passando por mudanças, de estabilidade e mesmo de certa recuperação. Mas nada, absolutamente nada que recomponha a força do passado. As glórias de Santo André estão circunscritas ao passado, essa é a dura realidade. 


 


Voltando à pergunta, engana-se quem acha que não a fiz porque teria pretendido poupar a Administração Aidan Ravin. Justamente eu que afirmo e reafirmo ser o atual prefeito uma calamidade administrativa em termos gerais, abstraindo-se supostos êxitos na saúde e na educação? Não o pouparia de um cruzado no queixo da improdutividade porque jornalismo não permite condescendência quando o objetivo maior é a sociedade.


 


Então, por que não fiz a pergunta a Aidan Ravin é um anacronismo de curiosidade. Como poderia este jornalista alardear comportamento ético se endereçasse a um adversário de Aidan Ravin uma indagação que Aidan Ravin deveria responder?


 


É lógico que estaria sendo desleal. Carlos Grana teria alguns minutos a mais para dar bordoadas no prefeito sem que o prefeito contasse com a possibilidade de defesa. Pelo menos até que lhe fosse dada a palavra na despedida do quinto e último bloco. Não ficaria em paz com minha consciência, podem acreditar.


 


Agora, fosse o entrevistado Aidan Ravin, tenham a certeza que minhas baterias seriam concentradas no escândalo do Semasa. É certo que o questionamento iria provocar constrangimento, porque o assunto foi tratado como tabu durante o debate. Ninguém resvalou nessa vergonha que está sendo apurada com lentidão pelo Ministério Público e pela Polícia Civil porque, entre outros motivos, há rebarbas político-eleitorais a estimular a vagarosidade.


 


Como Aidan reagiria?


 


Fico imaginando a reação do prefeito Aidan Ravin ante minha indagação. Tenho cá comigo que não se abalaria porque deve estar mais que treinado, preparado, organizado mentalmente, para ataques num de seus calcanhares de Aquiles administrativos. Provavelmente Aidan Ravin responderia com fair-play característico e com uma capacidade enrolativa de deixar qualquer especialista em procrastinação com água na boca.


 


O petista Carlos Grana, longe de ter as qualidades carismáticas de Aidan Ravin, bem como o jogo de cintura para perguntas incômodas, também está distante da ingenuidade e do despreparo para embates públicos. É um sindicalista velho de guerra, acostumado com apartes nada confortáveis e com uma interlocução que não admite ponto final por conta da vivência de que o radicalismo é uma porta que se fecha com prejuízos incalculáveis a quem depende de voto, de qualquer tipo de voto.


 


Tanto Carlos Grana tem frieza para suportar as durezas dos prélios que, à indagação deste jornalista sobre o fracasso da UFABC, saiu-se relativamente bem, embora sacrificasse a realidade dos fatos e a história: disse que tinha estado dois meses antes com o reitor da instituição e que já se manifestara inquieto com a frágil regionalização pedagógica, curricular e institucional daquele estabelecimento. Nem de leve foi às origens petistas do descalabro anunciado por este jornalista desde a conceito do projeto da UFABC.


 


Safadezazinha petista


 


Carlos Grana aproveitou os minutos que lhe permitiram o regulamento para cometer uma safadezazinha com Aidan Ravin, num claro indicativo de que quer minar o adversário que provavelmente entenda como o alvo maior ao retorno do PT ao Paço: insinuou em rápidas palavras que o petebista nada fizera no sentido de valorizar a UFABC em termos de regionalidade.  


 


Aí foi demais, pensei comigo enquanto me ajeitava para descer de onde havia me postado para formular a pergunta. Afinal, por que meter Aidan Ravin adentro de uma questão que reúne todas as digitais do PT?


 


Tivesse Aidan Ravin sido em alguma jornada presidente do Clube dos Prefeitos, até se encontraria uma vereda para encaminhar-lhe uma porção de responsabilidade pela omissão generalizada sobre a autonomia exacerbada da UFABC na Província do Grande ABC. Ou seja: Aidan Ravin pode ser acusado de tudo, menos de fugir da luta para enquadrar a UFABC num modelo de modernidade regional. Talvez a responsabilidade que lhe pudesse ser imputada sem manipulação semântica seria a omissão. Mas como exigir de Aidan Ravin um estado de alerta sobre as implicações sociais e econômicas da UFABC se ele tratou a pasta de Desenvolvimento Econômico com o mesmo zelo de Herodes pelas crianças?


 


Viram por que, leitores, preferi a UFABC na pergunta encaminhada verbalmente a Carlos Grana do que o escândalo do Semasa ao mesmo Carlos Grana? A recíproca seria verdadeira: fosse Aidan Ravin e não Carlos Grana o alvo de minha indagação, não lhe solicitaria resposta sobre a orfandade regional em relação a atuação da UFABC, mas sim os desvarios administrativos da direção do Semasa durante o período mais fértil do mercado imobiliário da Província do Grande ABC.


 


Seria reto e direto nesse caso: como o prefeito explicaria o fato constatado e denunciado de que o Semasa era um antro de corruptos? Não seria justo levantar a bola para Carlos Grana com essa pergunta. Se o próprio PT, por razões sobre as quais qualquer dia desses desço a detalhes, não quis saber do Semasa na mesa de debates, por que haveria este jornalista de meter a mão naquela lambança de forma enviesada?


 


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Marilyn fora do primeiro debate em Santo André, mas valeu a disputa 


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