Política

Por que opositores de Aidan Ravin
silenciam sobre a Máfia do Semasa?

DANIEL LIMA - 15/08/2012

Minha inspiração nesta manhã de quarta-feira para dar conta do recado de um novo texto vem da manchete que leio na edição da Folha de S. Paulo que me chega às mãos, enquanto preparo pessoalmente meu cafezinho: “Há máfias na prefeitura, e temos que peitá-las no início da gestão”. Imaginei que o jornal paulistano havia descoberto um assunto já batido, metralhado e sufocado por aqui -- a Máfia do Semasa, que, segundo denúncias de um advogado (Antonio Calixto) e assessor informal do então Superintendente da autarquia de água e esgoto de Santo André, envolve gente graúda de dentro e de fora do Paço Municipal. A farra do mercado imobiliário instalou-se insidiosamente para produzir milionários de ocasião com amplas condições de longevidade nababesca.

 

Qual nada, a manchete tratava do ponto central da entrevista que o candidato peemedebista Gabriel Chalita dera  àquele jornal sobre as disputas na Capital. Embora a maioria dos jornais da Província do Grande ABC não faça qualquer referência à Máfia da Prefeitura de São Paulo que operava bem lubrificada no mercado imobiliário, provavelmente porque o assunto pode ser correlacionado ao figurino regional, quem é bem informado sabe do que se trata.

 

Lá na Capital o Semasa de Santo André ganhou um nome mais emblemático de maracutaias. Trata-se do Aprov (Departamento de Aprovação de Grandes Obras da Prefeitura), cujo então titular, Hussain Aref Saab, adquiriu 106 imóveis em sua gestão. Ele é investigado por enriquecimento ilícito.

 

Gabriel Chalita disse à Folha de S. Paulo, diferentemente dos candidatos de oposição a Aidan Ravin em Santo André, que vai botar o dedo na ferida do Semasa de lá. “Tem que começar peitando as máfias, senão não peita mais. O caminho mais eficiente para isso é a tecnologia. Quando você sistematiza a administração da Prefeitura na Internet, não é que você acaba com a corrupção, mas diminui bastante” – disse Gabriel Chalita.

 

Salles e Grana, de passagem

 

Para não ser injusto e impreciso, tampouco omisso, das leituras que faço diariamente de todos os candidatos à Prefeitura de Santo André, desde o início do processo eleitoral, apenas o pedetista Raimundo Salles, tangencialmente, abordou a Máfia do Semasa. Tangencialmente sim, sem maiores penetrações. Os demais se calaram. Acho, pensando melhor, que ainda mais discretamente, o candidato petista, Carlos Grana, também se referiu ao assunto. Mas com brevidade que descaracteriza a gravidade do tema. Não só descaracteriza, mas o minimiza. Que mistérios cercariam a Máfia do Semasa a ponto de grande parte da própria mídia regional calar-se, não investir no desbravamento desse terreno mais que minado?

 

Por isso, repetindo que inspirado em Gabriel Chalita, mas indo muito além de imersão tecnológica para contar com um braço de credibilidade, faço algumas observações sobre o antes e o depois eleitoral em Santo André em se tratando do Semasa.

 

Agenda é prioridade

 

Primeiro é preciso botar o assunto como prioridade de debates. Os candidatos têm obrigação reformista de não repetirem o que se deu no primeiro encontro, realizado pela Radio ABC e o jornal Bom Dia ABCD, quando o Semasa não constou da pauta de discussões. Tudo bem que era o primeiro round, que as apresentações iniciais permitiram certa tolerância, mas nem de longe gostaria de acreditar que fora feito um acordo de cavalheiros a impedir que se mexesse nesse vespeiro. Mas agora não tem mais jeito.

 

Que, independente da programação dos candidatos e da mídia,  uma entidade de classe que tenha juízo e independência (mais a segunda do que a primeira, porque em muitos casos a segunda premissa elimina a primeira) promova um debate com todos os concorrentes à Prefeitura de Santo André tendo a Máfia do Semasa como tema exclusivo. Nesse ponto, duvido que todos os concorrentes compareçam. Principalmente o prefeito Aidan Ravin. Mas também provavelmente Carlos Grana, porque o PT também tem mazelas à frente daquele ramal público.

 

Segundo, que todos os candidatos, inclusive o prefeito Aidan Ravin, apresentem um plano de gestão social para o Semasa, o qual seria implementado já em janeiro do próximo ano. O que significaria um plano de gestão social? Um conjunto de mecanismos que possibilitem a representantes da sociedade, inclusive técnicos especializados, controle efetivo não propriamente do cotidiano daquela autarquia, mas dos processos que levam à aprovação de investimentos públicos e privados que, de alguma maneira, estão intimamente relacionados à qualidade de vida de Santo André.

 

Poderia elencar outros pontos que dariam um escopo de plasticidade técnica e rigidez administrativa à direção técnica, financeira e administrativa do Semasa. Tudo voltado a impedir ou reduzir a carga de malfeitos naquela extensão do gabinete do prefeito de Santo André.

 

O resumo da ópera é que o que se pretende para combater a Máfia do Semasa e tornar Santo André referência em matéria de gestão da atividade pública é o que chamo de capital social na prática, quando os interesse econômicos, sociais e de Estado convergem para um mesmo ponto de responsabilidade, transparência e comprometimento com o futuro. Tudo que o Semasa raramente teve ao longo de jornadas que o transformaram numa caixa-preta da Administração de Santo André.

 

A gestão de Aidan Ravin é apenas o corolário de uma série histórica de desvios, os quais, verdade seja dita e impressa, também contaram com intervalos de seriedade e responsabilidade. Cito nominalmente a gestão do engenheiro Ney Vaz, apeado da direção da autarquia na Administração João Avamileno, quando do afastamento coletivo de secretários ligados à candidatura da então vice-prefeita Ivete Garcia, derrotada nas preliminares pelo então deputado estadual Vanderlei Siraque. Foi Ney Vaz uma das fontes de informações que me levaram a denunciar o escandaloso lançamento e comercialização do Residencial Ventura num terreno contaminado durante 70 anos por uma indústria química.

 

A bem da verdade sobre a Máfia da Prefeitura de São Paulo no setor imobiliário, os jornais Estadão e Folha de S. Paulo estão dando um show de informação, disputando centímetro por centímetro impresso os mais diferentes ângulos denunciatórios. Sempre com o suporte do Ministério Público.



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