Política

Marinho centraliza arrecadação do
PT na região e provoca insatisfação

DANIEL LIMA - 20/08/2012

O PT de São Bernardo está centralizando toda a captação de dinheiro para financiamento de campanhas na Província do Grande ABC e os resultados não são nada positivos. Há críticas a assessores do prefeito Luiz Marinho, coordenador-geral do partido na região. Enquanto há acusações de que a maioria do dinheiro arrecadado vai diretamente às ações de Luiz Marinho, que quer eleger-se com esmagadora votação, sobram informações de que os canais de irrigação de investimentos privados na campanha dos petistas encontram barreiras, principalmente por causa do quadro macronacional, tensionado pelos possíveis estragos do julgamento do mensalão.


 


É mais que provável que nos próximos dias haverá reunião extraordinária para tentar equacionar o problema. A liderança de Luiz Marinho está sendo colocada em xeque. Há suspeitas de que seu staff privilegiaria essencialmente a injeção de recursos na disputa local com o deputado Alex Manente, infligindo ao adversário um duro revés.


 


Mais: a formação de um Legislativo majoritariamente petista e do amplo arco de agremiações coligadas é questão de honra. Luiz Marinho não pretende passar pelas dificuldades dos dois primeiros anos do primeiro mandato, quando os opositores bloquearam muitas iniciativas do Executivo. A situação só se alterou quando o ex-prefeito Maurício Soares, conselheiro do prefeito e aliado estratégico na vitória de 2008, foi a campo com o poder de sedução que os mais experientes costumam definir como resoluções práticas alinhadas ao orçamento.  


 


As queixas contra a Administração Marinho atingem diretamente o entorno do titular do Paço Municipal de São Bernardo. São apontados como principais alvos de reclamações dois operadores do programa de financiamento eleitoral com recursos privados. Eles não constam da comissão de frente oficial anunciada por Luiz Marinho quando da largada eleitoral. Luiz Fernando Teixeira e Edson Asarias, presidente e vice-presidente do São Bernardo Futebol Clube, o braço esportivo mais envolvente da Administração Luiz Marinho, seriam os maiores obstáculos ao que os petistas rejeitados chamam como núcleo de deliberações regionais.


 


Atribui-se a Luiz Fernando Teixeira e a Edson Asarias uma centralidade que iria muito além da simples arrecadação e distribuição de recursos financeiros da iniciativa privada. Eles ultrapassariam os limites gerenciais e abarcariam implementos político-partidários, imiscuindo-se em decisões de cunho estratégico. Em resumo, extrapolariam o que petistas da Província do Grande ABC chamam de democratização das relações com os partidos aliados e potencialmente aliados.


 


Além dos limites


 


Tanto Luiz Fernando quanto Edson Asarias atuariam além dos muros de São Bernardo nas composições partidárias e nos relacionamentos prévios que poderiam influenciar eventuais novos mandatos do partido na região. A quebra de autonomia municipal dos petistas na esteira do comando financeiro de São Bernardo é interpretada inclusive como uma fenda que poderia ser utilizada pelos adversários como subalternidade nociva aos interesses específicos de cada Administração. Embora o nível de bairrismo entre os municípios da região já tenha sido muito mais abrasivo, ainda prevalece entre formadores de opinião e instituições tradicionais a concepção de que os interesses locais estão muito acima de interesses regionais. As restrições se agigantam quando se somam interesses de outros municípios embalados por injunções partidárias externas.


 


O vazamento dessas informações parte de petistas inconformados que preferem manter-se nos bastidores porque  temem reações da cúpula de São Bernardo. Aliás, a mesma cúpula de São Bernardo que incomoda o partido em outros municípios. Foi a contragosto que se aceitou a imposição informal de que dois homens ligados à Administração Luiz Marinho tratariam das relações com o mundo econômico disposto a financiar as campanhas eleitorais do partido na região. Agora, o que se reclama é que existe um grau de tutela político-eleitoral que ultrapassa a fronteira financeira. Teme-se que, em caso de vitórias principalmente em Santo André, Mauá e Ribeirão Pires, a interferência de São Bernardo seja mais que colaborativa, ganhando formato de invasões ditadas por ganhos de escala no projeto de levar Luiz Martinho ao Palácio dos Bandeirantes.  


 


Crise incubada?


 


Ainda não é possível afirmar que o PT está em crise na Província do Grande ABC. O grau de insatisfação vai depender muito das próximas pesquisas eleitorais e, principalmente, dos resultados das urnas. Há possibilidades de o projeto de integração com centralização dos recursos financeiros privados tornar-se um tiro no próprio pé das ambições do prefeito Luiz Marinho. O projeto do candidato à reeleição em São Bernardo é claro: ele pretende disputar o governo do Estado em 2018 e para isso não basta ser reeleito: quer ter massa crítica interna, municipal, e também regional, para recuperar o tempo perdido durante os quatro primeiros anos de mandato, ou seja, de dedicar-se também à regionalidade da Província. Como Celso Daniel o fez durante alguns pares de ano. Há um quase consenso no núcleo político mais restrito do petista de São Bernardo de que a omissão em questões regionais poderá ser um de seus calcanhares de Aquiles na campanha ao governo do Estado, daí o projeto de regionalização começar no campo de financiamento eleitoral.


 


Não bastasse o descontentamento provocado pela concentração arrecadatória com baixíssima fluidez distributivista dos recursos da livre iniciativa previstos na Legislação Eleitoral, sobrepõe-se às lamúrias a desconfiança de baixa transparência de repasse do dinheiro. Há petistas em Santo André que teriam se sentido traídos com informações que colocam o peemedebista Paulo Pinheiro, candidato de oposição em São Caetano, como beneficiário de volumes financeiros muito além de sua suposta possibilidade de vencer a situacionista Regina Maura Zetone.


 


O sindicalista Carlos Grana seria um dos mais queixosos porque a visibilidade de marketing da campanha para recuperar a Prefeitura de Santo André seria inferior a dos dois principais adversários, o prefeito Aidan Ravin (PTB) e o pedetista Raimundo Salles. Cuidadoso, Carlos Grana escolhe a dedo eventuais parceiros de confidências e desabafos porque não quer se indispor com Luiz Marinho, a quem deve grande parcela da própria candidatura como reforço de interlocução junto ao ex-presidente Lula da Silva.


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