O plano do PT de São Bernardo, que centraliza a arrecadação de dinheiro para financiamento eleitoral na Província do Grande ABC, é quase perfeito. Só será perfeito se der certo. Trata-se do seguinte: como não consegue penetrar em São Caetano por caminhos naturais, diretamente, utiliza-se do vereador peemedebista Paulo Pinheiro, candidato de oposição à Regina Maura Zetone, para tentar chegar ao controle do Município. É a operação Cavalo de Troia, que remete à invasão grega a partir de soldados escondidos em enorme cavalo de madeira.
Ganhar a eleição em São Caetano mesmo que indiretamente virou obsessão para o PT regional com vistas às eleições ao governo do Estado em 2018, quando Luiz Marinho pretende candidatar-se na tentativa de superar os tucanos. Petistas compartilhariam a Administração Municipal com os peemedebistas, numa réplica da aliança que levou Lula da Silva e Dilma Rousseff à Brasília. A divisão da Administração seria intensamente divulgada no plano de marketing previamente elaborado.
A mensagem ao eleitorado paulista, acreditam os articuladores do projeto, seria sedutora. Afinal, São Caetano é o símbolo bem acabado de uma classe média sólida, com tradição, nicho social com o qual o PT sempre se dá mal. Já se dava mal na Província do Grande ABC antes do mensalão estourar. Depois do mensalão, as barreiras levantadas pelo sindicalismo a partir do final dos anos 1970 tornaram-se ainda maiores. O que era um conjunto de restrições de cunho econômico passou também para o terreno moral e ético. Na Capital, várias São Caetano se espalham pelo Centro e pela Zona Oeste, tradicionalmente hostis ao PT.
Edgar incomodado
A operação Cavalo de Troia não agrada ao próprio candidato petista Edgar Nóbrega, mas ele não tem controle sobre os tentáculos que São Bernardo manipula. As últimas sondagens eleitorais constataram definhamento do eleitorado petista em São Caetano muito além do razoável. Seria reflexo do desinteresse dos próprios candidatos a vereador que teriam sido induzidos a apoiar desde já Paulo Pinheiro. A reação de Edgar Nóbrega pode ser observada no noticiário desta quinta-feira do Diário do Grande ABC. Ele distribui críticas aos gregos de Paulo Pinheiro e aos troianos de Regina Maura.
A contrariedade de Edgar Nóbrega com as manobras de petistas estranhos ao ambiente de São Caetano possivelmente será amenizada nas próximas semanas. Trabalha-se com a ideia de que ele será vencido pelo cansaço e também porque não pretende sustentar rivalidade com os mandachuvas do partido. A aliança formal com Paulo Pinheiro, defendida pelo candidato petista, que seria vice na chapa oposicionista, deverá ser ratificada informalmente.
O PT de São Bernardo quer que quer a cidadela de São Caetano. Com isso, inclusive, desperta ciumeira de petistas de outros endereços da região. Eles reclamam da escassez de recursos financeiros para engrossar o jogo em Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, onde o partido está em desvantagem nas pesquisas. A dosagem de recursos amealhados pela central de São Bernardo estabelece prioridades que começam na própria São Bernardo, continuam em São Bernardo, seguem em São Bernardo e depois, somente depois, chegam aos demais municípios, com São Caetano abrindo a fila.
Contar com os extremos regionais de desenvolvimento sustentável, no caso a primeiromundista São Caetano e a ainda em construção Diadema, é o sonho dos petistas que estão centralizando o jogo estratégico de Luiz Marinho rumo à consolidação do partido na região-berço do lulismo. Por isso, além do suporte à candidatura de Paulo Pinheiro, reforçam também as ações eleitorais. Táticas de guerra são introduzidas no cotidiano da cidade. As redes sociais também servem de campo de batalha. O objetivo é destruir aos poucos a reputação da candidata escolhida pelo prefeito José Auricchio Júnior.
Central de boatarias
A central de boatarias dinamizada pelos abusos eletrônicos é instrumentalizada para transmitir a sensação de que Regina Mara Zetone estaria prestes a sofrer um nocaute. Discursos de petistas e aliados são engenhosamente sincronizados para bater sempre na mesma tecla de suposta vitória antecipada de Paulo Pinheiro.
Tudo isso, evidentemente, faz parte do jogo eleitoral. O que choca nesse emaranhado de articulações são as baixarias digitais, principalmente. Regina Maura sofre ataques semelhantes aos que atingiram Dilma Rousseff na campanha presidencial. A questão de gênero estimula idiossincrasias aparentemente planejadas por mercenários travestidos de eleitores. A oposição trabalha com uma linguagem de estigmatização de Regina Maura Zetone tendo como eixo da operação uma interpretação que pode, na verdade, ganhar a forma de bumerangue: acreditam que pelo fato de ser mulher num eleitorado maduro e supostamente patriarcal como o de São Caetano, ficaria mais fácil a colagem de etiquetas depreciativas na representante do Palácio da Cerâmica. Paulo Pinheiro, segundo essa mesma avaliação, teria o perfil de um suposto conservadorismo do qual São Caetano não abriria mão.
O que as entrevistas qualitativas já apontaram e as pesquisas quantitativas poderão expor nas próximas semanas é que a subjetividade marota da imagem-padrão de Regina Maura Zetone submergiria na medida em que ganhar corpo o ambiente do hibridismo partidário que coloca o PMDB de Paulo Pinheiro e o PT de Luiz Marinho sob os mesmos lençóis de interesses. Contraofensivas, nesse sentido, já teriam sido desencadeadas pelos petebistas e aliados de Regina Maura. A disputa eleitoral em São Caetano não é para amadores, mas também não precisaria inspirar-se em alguns trechos menos sórdidos de filmografias que retratam a biografia de Don Vito Corleone.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)