Política

Legado de Celso Daniel é disputa
ecumênica e também oportunista

DANIEL LIMA - 24/08/2012

Impressiona o volume de reportagens que colocam Celso Daniel no centro das promessas de candidatos à Prefeitura de Santo André. Todo mundo quer o espólio político daquele que foi o maior gestor público regional, embora no âmbito doméstico, de Santo André propriamente dito, haja controvérsias. E controvérsias mais que justificáveis. Celso Daniel não contou com as facilidades de antecessores como Newton Brandão, principalmente, que, titular de três mandatos e de orçamentos mais que facilitadores à execução de obras, deixou um legado físico mais avantajado.


 


Celso Daniel foi um Executivo de ideias brilhantes e ações compartilhadas num período de empobrecimento latente de Santo André. Brandão foi um tocador de obras durante uma quadra de Santo André fervilhante. Somente no terceiro e último mandato, já nos anos 1990, sentiu as dores do estrangulamento financeiro.


 


Não desconfio preliminarmente de tudo o que os candidatos em Santo André procuram capitalizar com essa espécie de pó de pirlimpimpim de credibilidade administrativa em que se transformou Celso Daniel. Acho até que não falta sinceridade nos discursos, porque não há quem não gostaria de realizar uma parte do que Celso Daniel proporcionou a Santo André e, principalmente, a outra parte, que não pode executar por conta de obstáculos políticos, ideológicos, econômicos e, em seguida, da própria exaustão vivencial.


 


Uma sabatina que este jornalista viesse a realizar com os prefeituráveis de Santo André tendo como base a obra material e principalmente a obra intelectual de Celso Daniel (esta maior do que aquela, porque esta não encontrou barreiras orçamentárias daquelas) provavelmente os colocaria em posição defensiva. Seria provavelmente muita areia temática para os respectivos caminhõezinhos de conhecimentos. Mas valeria a pena porque algo nesse sentido, programado previamente, os levaria a dedicarem-se a estudar mais a fundo o que foram os 10 anos de Celso Daniel à frente da Prefeitura de Santo André.


 


Iria mais longe ainda nessa proposta inviável de uma sabatina sobre Celso Daniel ao dividir a sugestão em duas partes. A primeira, somente com candidatos à Prefeitura de Santo André, procuraria dissecar a herança deixada exclusivamente para o Município. A segunda, agora com todos os candidatos às prefeituras da Província do Grande ABC, quando se exporiam apenas as inserções de Celso Daniel no campo da regionalidade. Seria ótimo porque de alguma maneira teríamos a oportunidade, quem sabe, de recuperar algumas bandeiras hoje submersas ante a mediocridade geral em relação à integração regional.


 


Irmão vira herdeiro


 


Ouvir dos candidatos de Santo André citações a Celso Daniel não me causa choque algum porque sei que no fundo, no fundo, todos alimentam desejo de em alguma proporção razoavelmente digna e respeitável resgatar políticas públicas municipais daquele petista moderado e com visão globalizada. Duro mesmo é ler, como li outro dia no Diário do Grande ABC, o caradurismo de Bruno Daniel Filho, a reivindicar o espólio intelectual de quem em vida, durante mais de uma década, simplesmente ignorou, quando não o confrontou.


 


Sim, Bruno Daniel Filho, que engrossa as fileiras do PSOL em Santo André, disse em alto e bom som que Celso Daniel é uma de suas especialidades. Tenha a santa paciência. Fosse Celso Daniel Bruno Daniel Filho, muito improvavelmente teria alcançado a luminosidade intelectual e construído obras materiais mesmo que em parte inacabadas por conta do desenlace criminal.


 


Afinal, Bruno Daniel Filho se distanciou do irmão famoso ainda na primeira gestão petista em Santo André, em 1989, quando, solidário à mulher Marilena Nakano, então secretária de Educação decidida a mandar mais que o cunhado titular do Paço Municipal, acabou rompendo com aquela gestão. Dali em diante passou a ter contatos não mais que formais em algumas festas de aniversário da família. Bruno Daniel Filho também, nesse ponto, no ponto de relacionamento com Celso Daniel, constrói um barracão de fantasias delirantes que se incendeia numa quarta-feira de cinzas de análise crítica.


 


Pegar carona na caravana de saudade, respeito e admiração de Celso Daniel não é crime e pode mesmo se tornar solidariedade e comprometimento com a gestão pública, como parece ser o caso dos candidatos em Santo André. Entretanto, pirataria para tentar capitalizar prestígio por conta da genealogia familiar em confronto direto com a história está longe de caracterizar algo respeitador. Celso Daniel e Bruno Daniel Filho só têm em comum em termos políticos a origem socialista retrógrada dos tempos de juventude, numa rota que aquele que se tornou triprefeito de Santo André soube corrigir, encaminhando-se a uma centro-esquerda de recorte socialdemocrata europeia, enquanto o caçula da família permaneceu preso à envelhecida cartilha cubana.


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