A ideia generalizada de que o prefeito de Santo André, Aidan Ravin, é folgadamente o menos eficiente e o mais suscetível a críticas entre os gestores públicos dos municípios da Província do Grande ABC está completamente deslocada da realidade. Para chegar a essa conclusão basta que a segunda rodada de pesquisas eleitorais do Diário do Grande ABC seja levada a sério. Sem adotar uma postura desclassificatória à conclusão do jornal, ouso afirmar, entretanto, que o trabalho do instituto que o Diário do Grande ABC diz ter criado é por demais reticente, para não dizer outra coisa. Acondicionar no mesmo saco avaliativo da população os prefeitos Aidan Ravin, Clóvis Volpi (Ribeirão Pires) e Mário Reali (Diadema) parece demais.
Por essas e por outras repetiria praticamente tudo o que escrevi quando da primeira rodada, mês passado. Até então, o DGABC Instituto não havia sido anunciado. O foi agora, sem detalhamento algum que possa ser confiável. E pensar que quando estive ali, diretor de Redação, criei um Conselho Editorial com 101 representantes da sociedade exatamente para tratar tudo o que diz respeito à responsabilidade social explícita do jornalismo com absoluta transparência. Mas isso é outra história.
Vamos ao que interessa (os números sobre as preferências eleitorais ficam para outro dia) de fato sobre o impacto da gestão Aidan Ravin junto ao eleitorado e os comparativos que saltam à inteligência nas pesquisas do Diário.
Atribuindo-se credibilidade aos dados publicados na edição de ontem, domingo, o prefeito Oswaldo Dias (PT) de Mauá ultrapassa largamente os níveis de rejeição apontados a Aidan Ravin (PTB) em Santo André. E os prefeitos Mário Reali (Diadema) e Clóvis Volpi (Ribeirão Pires) estão tecnicamente empatados com aquele titular de Paço Municipal alvejado já há tempos por inúmeras denúncias de irregularidades (a Máfia do Semasa é a mais reluzente e também, até agora, de resultados mais que complacentes) e por metralhadoras de restrições no campo de gestão. Aidan Ravin, trocando em miúdos, é, sob o olhar jornalístico, espécie de Gení dos prefeitos.
Considerando-se sempre que a margem de erro divulgada pelo Diário do Grande ABC é de três pontos percentuais (não confundir com três por cento), Aidan Ravin conta com reprovação de 36,5% do eleitorado de Santo André, ante 30,8% de Mário Reali e 37,7% de Clóvis Volpi. Oswaldo Dias atinge 42,8% à frente da Prefeitura de Mauá.
Rigorosamente, há empate técnico entre Aidan Ravin, Clóvis Volpi e Mário Reali. Basta puxar o índice de Aidan Ravin (os tais três pontos percentuais de margem de erro, para baixo ou para cima) o índice de Mário Reali (ainda os tais três pontos percentuais de margem de erro) para se chegar à conclusão a que este jornalista chegou. Na verdade, detesto esse tipo de aplicação numérica, embora os chamados especialistas o defendam. Até o compreendo sob o ponto de vista metodológico, porque tem bases científicas. O problema é o que fazem desse mecanismo em proveito de malandragens analíticas, principalmente em manchetes de jornais. Margem de erro sob avaliação exclusivamente jornalística é uma massa disforme moldada à medida das necessidades e acordos nem sempre republicanos.
Perseguido ou subestimado?
Ora, ora, ora, se Aidan Ravin, repito, está no mesmo nível de reprovação popular de Mário Reali e de Clóvis Volpi, das duas uma: ou a mídia move uma ação retaliatória insensata contra o prefeito de Santo André ao execrá-lo permanentemente, enquanto aqueles outros dois prefeitos são quase que olimpicamente esquecidos das mazelas que patrocinariam, ou a pesquisa do Diário do Grande ABD está furada, furadíssima, porque seria incontestável a liderança folgada do volume depreciativo à gestão de Aidan Ravin.
O que poderia obscurecer a análise exposta seria a desconsideração ao outro lado da moeda da pesquisa, que trata da avaliação positiva, de aprovação, dos três gestores. Haveria diferenças significativas que poderiam amenizar o quadro de similaridade de reprovação apresentado. Nada, nadinha, disso ocorre: Aidan Ravin conta com aprovação administrativa de 27,9%, Mário Reali de 32,1% e Clóvis Volpi de 28,6%. Tudo, de novo, absolutamente dentro de margem de erro de três pontos percentuais para cima ou para baixo. Já o petista Oswaldo Dias, campeão de rejeição, é o lanterninha em aprovação, com apenas 18,8%.
Talvez o critério que pudesse clarear um pouco o cenário de aprovação e de reprovação dos mandatos de Mário Reali, Clóvis Volpi e Aidan Ravin, de modo a retirá-los desse empate triplo, distinguindo-os, seja um dos buracos que o Diário do Grande ABC mantém na matriz da pesquisa: o que significa de fato a avaliação “regular” dos entrevistados? Quem está formulando a metodologia da pesquisa do jornal deveria se decidir sobre o desdobramento do conceito de “regular”. Se adotar “regular positivo” e “regular negativo”, definirá com maior exatidão o conceito de “aprovação” e de “reprovação”. Do jeito que está, é impossível sustentar que o trio de prefeitos mais reprovados pelos eleitores o é de fato.
Enquanto o Diário do Grande ABC não solucionar esse empate (os institutos de pesquisa mais renomados já desdobram o “regular” porque entenderam que havia uma zona cinzenta a complicar as avaliações) qualquer tentativa de ir adiante em termos comparativos pode parecer chutometria.
De qualquer modo, a rodada número dois da pesquisa do Diário do Grande ABC insiste em abrir um gigantesco buraco de desconfiança nos dois critérios-chave de avaliação dos prefeitos (aprovação e reprovação) que me levam a ficar com os dois pés atrás. Seriam os números de Mário Reali e Clóvis Volpi amplificados em função de alguma distorção ou teria sido beneficiado Aidan Ravin, notoriamente mais atingido por críticas, cujos números seriam então subestimados?
Oswaldo traído
No caso da rejeição a Oswaldo Dias, talvez e provavelmente a pesquisa do Diário do Grande ABC tenha maior fundamentação. O que teria levado a população de Mauá, em larga escala, a execrar a gestão do petista? Há pontos cruciais que ajudariam a explicar a situação. Primeiro, as carências sociais locais e os transtornos orçamentários se entrecruzam como permanentes desafios a quem quer que seja o Administrador de plantão. Segundo, há uma multiplicação de agentes políticos de oposição em busca de espaço que torna Mauá uma selva de votos. Terceiro, a desmoralização da gestão de Oswaldo Dias pelos próprios petistas, candidato Donisete Braga à frente, ao retirá-lo da corrida à reeleição.
A rejeição a Oswaldo Dias já era elevada (o que é natural naquela arena de múltiplos guerreiros) e se tornou maior ao ter as pernas cortadas pelos próprios companheiros de jornada. Se Donisete Braga imaginava dar um golpe de mestre, as pesquisas parecem não concordar, porque perde feio para a deputada Vanessa Damo, herdeira de ônus e bônus do pai, prefeito até outro dia.
Escaparam da marcha crítica de reprovação dos eleitores apenas o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Mas também nesse caso a inflexibilidade do conceito “regular” exige cuidados redobrados na formulação de sentenças definitivas. Considerando mais uma vez a margem de erro de três pontos percentuais, Marinho e Auricchio estão tecnicamente empatados no critério de aprovação (58,8% para o petista e 53,8% para o petebista) e também no critério de reprovação do governo (13,9% para Marinho e 15,3% para Auricchio).
Estava esquecendo, sinceramente, do sétimo pedaço municipal da Província do Grande ABC, a pequenina Rio Grande da Serra, onde o prefeito Kiko Teixeira reina absoluto com 71,6% de aprovação da população, ante 7,3% de reprovação. Sabem o que significam esses números do prefeito tucano para a Economia e o Desenvolvimento Sustentável da Província regional? Nada, absolutamente nada. Com todo o respeito, mas sem hipocrisia.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)