Política

Colocamos Aidan, Grana, Salles e
Bonome frente a frente. Vamos ler?

DANIEL LIMA - 28/08/2012

Promovemos um debate de formato inédito com os quatro principais candidatos à Prefeitura de Santo André. Deveremos, quem sabe, repetir o projeto em outros municípios da região. Não é fácil reunir o prefeito Aidan Ravin, o deputado estadual Carlos Grana, o advogado Raimundo Salles e o ex-primeiro ministro de Santo André, Nilson Bonome. Colocamos todos eles frente a frente sem intermediação. Eles foram comportados. Não precisaram de mediador. Só tinham um compromisso com o público: que deixassem a hipocrisia de lado e se manifestassem sem pruridos, sem excesso de diplomacia. Eles toparam. E se comportaram bem. Foi um debate dos sonhos, se querem saber os leitores. Tão dos sonhos que precisamos contar a verdade: tivemos um encontro ficcional.


 


Sim, Aidan Ravin, Carlos Grana, Raimundo Salles e Nilson Bonome saíram de nossa caixola. Eles e suas intervenções são pura fantasia. Mas uma fantasia justificada. O que pesa nesse encontro é a tentativa de didatizar a disputa pela Prefeitura de Santo André. É claro que não exploramos todos os temas, todas as idiossincrasias.


 


Apresentamos apenas alguns acordes de uma orquestra bem afinada de exposições que ajudam a compreender o que se passa na disputa eleitoral. Um trabalho para quem não se dá à curiosidade diária de acompanhar o noticiário de uma Província que vive na obscuridade da mídia eletrônica. Não contamos com TV aberta, amálgama de esquentamento das campanhas eleitorais. Por mais que os jornais se desdobrem, por mais que a mídia digital se empenhe, encontramos muitas dificuldades para massificar o perfil e os planos de cada candidato. Caricaturá-los é uma alternativa. Foi o que fizemos. Sempre seguindo a lógica do comportamento de cada candidato, mesmo que procurem esconder as digitais programáticas do público. Pelo menos até onde for possível, porque quando as pesquisas eleitorais começam a saltar das planilhas, torna-se difícil manter a máscara do bom-mocismo. Até porque não é com salamaleques que se ganha eleição. Acompanhem nosso debate ficcional.


 


Aidan Ravin – Quero saber do candidato Carlos Grana o que pretende fazer como prefeito de Santo André se seu antecessor petista, o senhor João Avamileno, deixou uma cidade em crise e levou uma sova minha na disputa eleitoral quando seu candidato sofreu uma virada histórica no segundo turno?


 


Carlos Grana – O que quero fazer é o que você deixou de fazer em quase todas as áreas e pensa que fez em Saúde e em Educação, comissão de frente de seus discursos. Vamos desmascará-lo.


 


Aidan Ravin – Estão vendo como ele foge do passado do PT em Santo André? Fica em cima do muro até em relação ao Celso Daniel, nosso grande ideólogo de regionalidade, porque teme que o assunto desvie para o crime e fuja da Administração propriamente dita.


 


Raimundo Salles – Peraí, peraí, não venha o caro prefeito metendo o Celso Daniel da regionalidade nessa parada porque esse é um assunto que domino bem, tenho prioridade absoluta em debatê-lo, porque não é de hoje que enalteço as obras deixadas por ele, apesar de ter, também, deixado uma herança de dívida do Semasa, além de corte de salários, quando assumiu o segundo mandato.


 


Nilson Bonome – Estão vendo como não respeitam anterioridades neste debate? Quem pode falar de Celso Daniel sou eu, que tenho seu sobrinho como vice. Quem tem o Rafael Daniel de vice tem prioridade absoluta sobre o assunto.


 


Aidan Ravin – Por mais que me emocione com a história do Celso Daniel, é impossível deixar de mencionar o estranho enredo que marcou sua morte. Mas não quero apelar para sentimentalismos neste debate. Prefiro mesmo lembrar que o Celso Daniel deixou as estruturas teóricas da Cidade Pirelli, mas seu sucessor, João Avamileno, gastou dinheiro da Prefeitura, muito dinheiro por sinal, para construir por conta da Municipalidade o Viaduto Cassaquera, que era obrigação legal da Pirelli, beneficiada com a aprovação da legislação que abriu as portas à construção daquele empreendimento.


 


Raimundo Salles – Só faltava essa, o prefeito Aidan Ravin falar em moralidade pública quanto aos desvios da Cidade Pirelli se, mesmo sabendo das irregularidades do Viaduto Cassaquera, nada fez para colocar os pratos a limpo. Mais que isso: inventou uma nova Cidade Pirelli, que de Cidade Pirelli não tem coisa alguma, e jogou debaixo do tapete todos os pontos obscuros da aprovação da legislação do uso e ocupação daquele solo, para supostamente beneficiar a incorporadora que anunciou as obras. Será que o prefeito esqueceu-se da aprovação do novo Plano Diretor de Santo André na calada da noite de final de ano?


 


Carlos Grana – O Salles tem toda razão porque, se houve algum tipo de problema com a Cidade Pirelli deixada pelo Celso Daniel, caberia ao atual prefeito cuidar dos interesses dos contribuintes e instaurar medidas que pudessem explicar todos os pontos e, confirmando-se os problemas, solicitar as devidas punições.


 


Nilson Bonome – Sei que falam de mim quando se debate a Cidade Pirelli, porque me empenhei no assunto, mas posso garantir que só visei o interesse de Santo André.


 


Raimundo Salles – Não é o que falam de sua atuação supostamente de cobertura das traquinagens no Semasa, no maior escândalo já consumado de uma Administração Pública de Santo André.


 


Nilson Bonome – Esse não é um assunto que fizesse parte de minhas funções. Quem tem de responder pelo escândalo do Semasa é o prefeito. Foi isso, afinal, que denunciou o tal do Calixto Antônio, advogado que ele colocou lá para representa-lo nas questões mais importantes.


 


Carlos Grana – Está aí um calcanhar de Aquiles que o prefeito Aidan Ravin procura disfarçar. O Semasa merecia uma CPI séria, mas não foi o que tivemos.


 


Aidan Ravin – Se a gente for instalar uma CPI do Semasa que leve em conta e para valer todas as anunciadas irregularidades, temos de retroceder no tempo e buscar a Administração do PT, desde o Celso Daniel. Aí eu quero ver se o PT vai topar.


 


Raimundo Salles – Se vai topar não sei, mas que esse assunto não sai de minha cabeça, não sai. Se ganhar a eleição vou em frente. Quero ver esse assunto liquidado.


 


Carlos Grana – Por que ter de esperar por vitória na eleição de outubro, se pode fazer antes disso?


 


Raimundo Salles – Pelos mesmos motivos que levaram você a puxar o freio quando o assunto é levantar o véu das irregularidades. Até parece que você esqueceu que estamos juntos nessa, e que, qualquer um de nós que for para o segundo turno, vai agir para acelerar o ritmo das investigações. Temos de pegar o Aidan Ravin antes da votação do segundo turno. Isso se ele passar pelo primeiro turno. 


 


Aidan Ravin – Estão vendo, senhoras e senhores, como meus opositores são oportunistas e fazem do Semasa não mais que uma jogada eleitoral?


 


Carlos Grana – Nada disso de jogada eleitoral, caro prefeito. É estratégica. Estratégia pura e das boas.


 


Raimundo Salles – É isso mesmo, Grana. Nós não podemos passar o recibo de burrice e jogar fora toda a água imunda do Semasa antes que se definam os finalistas do primeiro turno. Um de nós dois vai para a etapa final. Aí, a conversa será outra.


 


Nilson Bonome – O que vocês vão fazer com a cronologia do Semasa eu não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Só espero que não me metam ainda mais nesse imbróglio.


 


Aidan Ravin – Perceberam que a armação é toda contra mim? Ou por ação ou por omissão. Virei a salsicha de um cachorro quente indigesto. Justamente eu, que adoro cachorro quente que vendem na porta dos estádios. Só querem falar do Semasa. Até parece que isso é a única pauta eleitoral. Para meus opositores não interessa nem Saúde nem Educação, que são meus pontos fortes, onde investi para valer, onde corrigi falhas históricas de meus adversários.


 


Carlos Grana – É claro que para mim não vale a pena falar do que o caro candidato acredita ser seu ponto forte. Afinal, sou sindicalista, metalúrgico, não tenho familiaridades com esses dois mundos. Tudo que disser será interpretado como ação retaliatória, coisa de quem só resmunga, de quem só quer atrapalhar, porque o prefeito é médico e sempre vão lhe dar razão quando falar em Saúde, mesmo que ele não entenda patavina de gestão de saúde.


 


Raimundo Salles – Também não me sinto confortável em me meter nessas duas searas, embora seja um cara de mais lustro, porque sou advogado, professor universitário, do que o Grana. Mas, confesso, tanto estetoscópio quanto grade curricular, quando observados sob ângulos mais completos, não são meus pontos fortes. Vou fugir sempre desses dois temas. Vou deixar o senhor prefeito falar à vontade. Só de vez em quando vou interferir. Por exemplo: mesmo que o prefeito esteja falando a verdade, mesmo que tenha melhorado a situação da Saúde e da Educação em Santo André, mesmo com tudo isso, é tudo muito pouco, porque o dinheiro é carimbado pela legislação. Ou seja, o caro prefeito é obrigado a investir nas duas áreas e, por mais que erre, sempre aparecerá algum acerto. 


 


Nilson Bonome – Fui secretário de Saúde, mas confesso que não entendo muito desse negócio. Talvez o que esteja faltando para nós, opositores, é mais organização para tentar traduzir em métricas o nível de qualidade tanto de uma quanto de outra pasta. Há referências nacionais e internacionais que poderiam ser confrontadas para saber exatamente onde estamos. Saiu outro dia o resultado do ideb, mas, confesso, não entendo muito desse medidor e não vi ninguém na praça com capacidade para traduzir os números de forma analítica. 


 


Carlos Grana – Tudo bem que a gente não tenha se preparado para coisas subjetivas que precisam de informações objetivas, mas não dá é para disfarçar nem sofismar quanto à incompetência do prefeito em lidar com o Estádio Bruno Daniel. Ele simplesmente derrubou o setor de numeradas cobertas. Acabou com a alma do futebol de Santo André.


 


Aidan Ravin – Quem derrubou a marquise foram meus antecessores, que não fizeram nada para a manutenção do estádio durante quase 50 anos. A bomba estourou em minhas mãos e a demolidora, atendendo a decisão do Ministério Público, executou o trabalho. Pena que tenha sido desastrada e inutilizou inclusive o que havia embaixo, o setor de arquibancada.


 


Raimundo Salles – Isso é mais uma prova da desatenção da Administração Municipal com o patrimônio público. Como entregam a demolição daquela parte do estádio a incompetentes?


 


Nilson Bonome – Sou obrigado a concordar parcialmente com o candidato Salles, porque também a mim chocou aquela destruição completa. Sei que o prefeito Aidan não tem culpa nessa história, porque é impossível estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Passei por isso lá dentro quando ocupava três secretarias e imaginava que preenchia todos os espaços da Administração. Caí do cavalo, porque me puxaram o tapete sem comiseração.


 


Aidan Ravin – Obrigado meu caro secretário, desculpe, meu caro ex-secretário, meu faz- tudo, meu ex-faz-tudo, pela intervenção. Esse pessoal da oposição pela oposição não consegue ter sensibilidade. Não enxerga os problemas na condução de uma Prefeitura tão importante como a de Santo André. Não é fácil ser vidraça. Um dia, quem sabe, eles saberão.


 


Carlos Grana – Um dia, não, caro prefeito. Será em breve, porque vou ganhar as eleições de outubro, no primeiro e no segundo turno.


 


Raimundo Salles – Devagar com o andor da confiança, porque seu santo é de barro do Semasa também. Será que está esquecendo que o PT está metido nas tranqueiras do Semasa? Sei que não devia falar sobre o assunto, mas não é assim tão fácil esquecer o que sei. Se o segundo turno me contemplar, não vou dar moleza se o adversário for você, meu caro Grana. Se não for, a gente se junta e vai para cima do gordo. É claro que você e seu partido vão me ajudar a ser prefeito.


 


Nilson Bonome – Só espero que me deixem em paz porque o que pretendo mesmo, ganhe quem ganhar, seja meu amigo Aidan, seja meu amigo Salles, seja meu irmão Grana, é voltar a dar expediente lá no Paço Municipal ou em qualquer ramal da Prefeitura. Estou nesta eleição para construir uma carreira política. Ganhar de imediato não é tão importante. Contem todos comigo.


 


Aidan Ravin – Peraí, gente. Parece que todos estão já encerrando participação. Quero falar mais.


 


Salles – Chega de prosa, porque temos de ir às ruas. É ali que vamos vender nosso peixe, porque televisão na região é abstração. Sebo nas canelas que não tenho mais tempo a perder.


 


Grana – O Salles tem toda razão. E até se não tivesse, estaria com ele. Sei que a quilometragem que consome por dia é elevadíssima. O que ele gasta de sola de sapato não é brincadeira. Tenho de imitá-lo senão não vou para o segundo turno. É claro que não saio sem minha candidata a vice. Isso é planejamento de campanha. Já que não posso contar com o Lula, que me meteu nessa empreitada, vou de Oswana, uma mulher arretada, que tem mais fôlego do que eu.


 


Nilson Bonome – Eu vou na minha toada, com o Rafael Daniel do meu lado. Conheço os atalhos para conquistar o eleitorado que tenho em mente. Obrigado turma pela oportunidade de estar com vocês. Espero estar com um de vocês a partir de janeiro, seja quem for o vencedor. Só não quero mesmo é ser perdedor, mesmo perdendo.


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