O candidato pedetista à Prefeitura de Santo André, Raimundo Salles, começa a descobrir que precisa atacar para tentar chegar ao segundo turno nas eleições de outubro. É uma tarefa irrevogável, porque o prefeito Aidan Ravin e o deputado estadual Carlos Grana ponteiam nas pesquisas do Diário do Grande ABC e do Ibope Inteligência. Aidan e Grana nadam de braçadas porque Salles minimizava as críticas. Aidan é o resumo de uma Administração extremamente frágil e Grana deve pagar o preço do mensalão em fase de julgamento nada auspicioso para o PT e, também, por ter-se incorporado a uma engrenagem politica municipal mediocrizada desde a morte de Celso Daniel.
Raimundo Salles parece que definitivamente saiu do casulo do bom-mocismo, como recomendariam pesquisas qualitativas, e decidiu ir adiante. E não poderia mesmo protelar. Aidan Ravin e Carlos Grana vinham tendo vida folgada. Atacá-los é a única saída. Salles não precisa fazê-lo com destempero nem inconformismo. Deve ser didático sem ser agressivo; cortante, sem ser escandaloso; enfático, sem ser alarmista.
Tanto Aidan Ravin quanto Carlos Grana estavam adorando até outro dia o afrouxamento de Raimundo Salles. O que querem mesmo é ir ao segundo turno. Principalmente Carlos Grana, que, graças aos votos de Salles no primeiro turno, numa perspectiva de que o pedetista não o ameace, asseguraria uma disputa extra com o prefeito. Já para Aidan Ravin, com Salles na competição a vitória no primeiro turno só seria adiada, já que aposta em clivagem ideológica contra o PT no turno final.
Embaralhamento natural
O embaralhamento do enunciado é por conta da disputa acirradíssima, não por dificuldade de exposição de ideias. Ou estaria este jornalista perdendo a forma de tornar-se inteligível não por obra de suposto apanhado intelectual, mas por esgotamento cognitivo?
Resumindo as projeções, por enquanto os adversários favoritos ao segundo turno em Santo André têm Raimundo Salles como coadjuvante ideal, sobretudo Carlos Grana, a quem Salles prometeu apoio individual num eventual segundo turno.
Talvez Raimundo Salles não tenha cultura futebolística para entender que não é bom negócio ser o endereço preferido dos votos que potencialmente escapulirem dos favoritos de verdade. Até outro dia o candidato desfilava orgulho de ser o segundo time da preferência dos eleitores dos dois primeiros colocados nas pesquisas. Transparecia nas declarações a possibilidade de contar com um salto eleitoral ante o desgaste mais acentuado da Administração Aidan Ravin e do candidato petista Carlos Grana. Esqueceu-se Salles de atentar para o fato de que sem que se lhes apontem os problemas, não existe desgaste no nível desejado à materialidade do voto automático como segunda opção.
Na toada em que Salles vinha vindo, ritmo quebrado nos últimos dias quando aumentou os decibéis contra os dois líderes das pesquisas, não lhe restaria senão o papel conformista e antecipadíssimo de terceiro colocado ao final do primeiro turno. Com a nova postura não terá nada a perder. Só a ganhar.
Raimundo Salles parece ter chegado à conclusão que, se segundo time do coração já é o extrato do conformismo no futebol, algo que nem cheira nem fede, então o que dizer na política, principalmente quando o bicho pega na reta de chegada de uma disputa de primeiro turno?
A perspectiva que move Raimundo Salles na retomada de um estilo pessoal e político arquivado estrategicamente por muitos meses é tão lúcida quanto potencialmente produtiva: para combater uma Administração Municipal íntima da fragilidade sistêmica e um concorrente que representa uma agremiação no olho do furacão de escândalo flagrado e em plena apreciação pelo Supremo Tribunal Federal, nada mais aconselhável que certa calibragem mais agressiva, mas sempre cuidadosa para não ganhar a forma de apelação dos desesperados.
Considerando-se que ainda há um gigantesco universo de eleitores indecisos, além de outros dispostos a anular ou a votar em branco, Raimundo Salles pode capturar os desejos dos desconsolados e sensibilizar parte dos votos menos consolidados dos favoritos.
Perspectiva de mudanças
No fundo, no fundo, dos três candidatos mais viáveis à Prefeitura de Santo André, Raimundo Salles é o único que cristalizaria uma perspectiva indesmentível: a gestão pública da cidade ganharia uma nova dimensão social (no sentido amplo da expressão) entre outros motivos porque é irrequieto, criativo e provocador. Carlos Grana reza por uma cartilha partidária já conhecida, surrada, sem renovação e sem adaptação, desde a morte de Celso Daniel. Aidan Ravin não passa de um exótico objeto de adoração popular de extratos das classes mais sofridas e de exemplar sob observação de uma classe média que não confia no PT, mas não sente firmeza em apostar em alguém diferente do atual prefeito, perdoando-lhe todos os pecados sob a lógica de que os fins justificariam os meios.
Talvez as pesquisas qualitativas das quais Raimundo Salles lança mão tenham indicado que já é hora de aproximar-se da classe média que não esconde desconfiança do PT, e suporta as barbeiragens de Aidan Ravin. Chegar ao segundo turno é o caminho da glória. Mas para chegar é preciso ousar. Esse é o temor dos adversários, até outro dia folgadamente a salvo de críticas. As eleições em Santo André vinham até então num ritmo moroso, frio, à semelhança da inércia social e da apatia econômica daquele que já foi o centro das atenções da Província do Grande ABC.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)