Política

Salles acorda e começa a bater em
candidaturas mais que viciadas

DANIEL LIMA - 10/09/2012

Acabou a diplomacia da omissão ou do excesso de gentilezas do candidato Raimundo Salles à corrida pela Prefeitura de Santo André. O que já está em campo é um conjunto de verdades recentes e remotas que tanto mexem com a imagem da Administração Aidan Ravin como com a estrutura partidária de Carlos Grana. Salles finalmente se deu conta de que o uniforme de bombeiro não lhe cabia bem, e tampouco ao compromisso com Santo André. Minimizar os estragos de Aidan Ravin, candidato à reeleição, e colocar no arquivo os enganos do PT de Carlos Grana, compunham uma operação autofágica que poderia ter valido durante algum tempo, mas não durante todo o tempo. Salles encontrou o caminho do óbvio que relutava em enxergar: ele é a alternativa que Santo André procura no mínimo como esperança de dias melhores. Piores seriam praticamente impossíveis.


 


Único concorrente à Prefeitura de Santo André que poderia significar novidades num futuro próximo, Raimundo Salles não conta nem com a máquina administrativa fazedora de favores e industrializadora de votos do atual prefeito nem com a máquina de militância, que, certamente, será reforçadíssima por batalhões de petistas de São Bernardo num iminente segundo turno. O maior patrimônio eleitoral de Raimundo Salles, portanto, é a perspectiva que pode e está traçando nas inúmeras entrevistas à Imprensa, mesmo que, várias, recheadas de otimismo e mesmo de messianismo.


 


As pesquisas eleitorais já divulgadas (tanto do DGABC Instituto, uma invenção sem transparência do Diário do Grande ABC, como do Ibope Inteligência) sinalizaram advertência a Raimundo Salles. Ainda há tempo para mudar de rota. O PT de Carlos Grana e o situacionista Aidan Ravin têm percalços comprometedores para sensibilizar os eleitores ainda indecisos e também os eleitores sem muita convicção do voto já definido.


 


Mediocridade e descaminhos  


 


A mediocridade do PT de Santo André após a morte de Celso Daniel é processo contínuo, a desafiar-se permanentemente. Enraizou-se durante a gestão de João Avamileno, principalmente com a retirada inicial e depois abrupta da quase totalidade dos secretários selecionados por Celso Daniel. O PT de Santo André não é nem sombra da liderança intelectual, reformista e programática de Celso Daniel – mesmo se admitindo e se reiterando que no período de 10 anos não sequenciais de controle da Prefeitura houve pecados administrativos por conta do noviciado e também de um legado socialista que já fazia água no Primeiro Mundo.


 


Quanto à gestão de Aidan Ravin, qualquer iniciativa de lembrar aos leitores sobre os descaminhos seria pura perda de tempo. A série de escândalos, já a partir da própria eleição do que chamei de “zebra vestida de branco”, quando recursos financeiros de campanha fugiram às normas legais, revela o viés improvisador e reticente de uma administração que durante muito tempo contou com o suporte da maioria da mídia, até que se estatelasse nas próprias limitações. A quadrilha que se apossou do Semasa, a Casa da Moeda da Prefeitura, foi o corolário das sandices. Somente a cumplicidade dos diretamente envolvidos e seus entornos impede que a roubalheira ganhe configuração penal imediata.


 


A candidatura de Raimundo Salles terá 30 dias para tentar capitalizar um quadro que muitos consideram consolidado: a inoperante Administração Aidan Ravin e a esfacelada (doutrinariamente) proposta de retomada do Paço Municipal pelo PT se apresentam como possíveis finalistas de uma competição cujo troféu, a se confirmarem essas previsões, deveria remeter a uma imagem de catástrofe.


 


A improvável mas ainda possível passagem de Raimundo Salles ao segundo turno seria a antessala de uma novidade a ocupar o Paço Municipal, porque dificilmente o pedetista deixaria de se consagrar vencedor numa nova rodada de votação.


 


A correção da rota, portanto, é bem vinda para quem está cansado de ver Santo André submetida à mediocridade mesclada de ideologia socialista e a inoperância revestida de um falso conservadorismo.


 


Com Raimundo Salles a perspectiva de uma Santo André acomodada na própria inércia da Administração Aidan Ravin, ou tutelada por estranhos (o grupo do prefeito Luiz Marinho, que comanda o financiamento da campanha de todos os candidatos petistas na região, tendo como garantia de contra pagamento o controle estratégico das respectivas administrações) estará simplesmente fuzilada.


 


Melhor experimentar


 


Creio que é muito melhor (mesmo que, sob o olhar mais crítico e discriminatório dos adversários) a eleição de um político incapaz de repetir amanhã a agenda eventualmente medíocre de ontem, no sentido temporal estrito, do que arriscar-se a estender a desastrada experiência de uma zebra que virou dinossauro nos métodos e costumes político-administrativos, ou de um modelo de gestão que não passará de uma cópia muito mal-ajambrada do aplicado na vizinha São Bernardo, com possíveis sucessos no relacionamento com o governo federal, é verdade, mas sob a condicionante de tornar-se prioritariamente massa de manobras político-eleitores com vistas ao governo do Estado em 2018.


 


Traduzindo o parágrafo anterior em linguagem mais simples e direta: É muito melhor experimentar a inquietude, certo histrionismo e os impactos mais que prováveis de uma gestão Raimundo Salles do que permanecer na pasmaceira de Aidan Ravin ou voltar à caricatural herança deixada por Celso Daniel.


 


Alerta esportivo


 


Provavelmente um exemplo esportivo seja emblemático do que pretendo dizer com estas linhas. Tenho urticária só de imaginar a possibilidade de o futebol de Santo André, dinamitado pelo capitalismo rastaquera comandado por Ronan Maria Pinto no Saged (a empresa que terceirou o Ramalhão com péssimos resultados) virar ramal ideológico e partidário à semelhança do São Bernardo Futebol Clube dirigido pela cúpula petista de São Bernardo.


 


Trata-se de uma intromissão por demais nociva à sociedade como um todo, por mais que o São Bernardo encha o Estádio Primeiro de Maio. É flagrante e chega a ser desrespeitosa ao conjunto da população a intromissão partidária no futebol. Celso Daniel também ajudou a levar o Ramalhão sob o controle do Esporte Clube Santo André aos melhores anos de sua história, mas jamais impôs contrapartidas políticas que centralizam o ambiente esportivo de São Bernardo, no mesmo local onde os trabalhadores iniciaram uma revolução em plena Ditadura Militar.


 


Uma história e tanto, é verdade, mas que não pode imunizar a direção do São Bernardo a críticas pela submissão indecorosa do esporte pela política partidária.  Tanto que se chegou ao ponto de eternizar a camisa 13, entregue ao ex-presidente Lula da Silva (a quem destinei meu voto nas duas eleições em que se saiu vitorioso) que, notem bem, jamais atuou pela agremiação. Nem mesmo num simples treinamento. A vassalagem da direção do São Bernardo Futebol Clube à Lula da Silva só não é maior que o desespero dos candidatos petistas que, nestas eleições, buscam a qualquer custo a companhia do ex-presidente em algumas ações públicas porque as perspectivas das urnas não são as melhores. 


 


No caso de Aidan Ravin, encontramos o extremo do descaso. Mesmo com todas as ressalvas que ele tem em sua defesa, a frieza de mandar derrubar a marquise do Estádio Bruno Daniel, cuja história ultrapassa em larga escala o aspecto meramente físico, e, em seguida, porque o serviço de demolição foi um desastre, eliminar completamente o setor de numeradas, desafiam os críticos a encontrar um adjetivo desclassificatório à Administração na área esportiva.  


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